Quando eu era pivete, adorava dinossauros. Eu sabia reconhecer uma imensa quantidade deles, tinha o álbum de figurinhas Monstros da Pré-História completo e sonhava com o dia que algo como Jurassic Park existiria na vida real, antes mesmo do filme do Spielberg existir. Pois é, eu me lembro de uma época em que Jurassic Park ainda não existia. Pra você ver como sou velho.
Hoje, décadas depois, eu ainda tenho a mesma mentalidade daquele pivete. Só que agora eu sou grande. E eu ainda adoro dinossauros. E se alguém abrisse um parque como o que vemos em Jurassic World, eu estaria lá no dia de abertura.
Pois é, delfonauta. Em Jurassic World, pela primeira vez temos a oportunidade de ver como seria de fato o zoológico de dinossauros que habita nossa imaginação desde a época de outrora. E ele seria muito legal.
Já pensou andar de canoas no meio de um rio onde vários dinossauros herbívoros bebem água? Ver um showzinho com o T-Rex comendo? Andar com um carrinho no meio desses répteis enormes, como a gente faz aqui em São Paulo no Zoo Safari? Tudo isso e muito mais é mostrado em Jurassic World, mas é claro, não é este o foco do filme.
Acontece que, agora que o parque já foi aberto há algum tempo, ele está perdendo sua mágica. As crianças agora olham para os dinossauros como bichos normais de um zoológico. Para não perder a audiência, os cientistas do parque decidem que devem fazer um dinossauro mais legal. Maior. Mais perigoso. Com mais dentes.
É assim, combinando DNA de tiranossauro com o de vários outros predadores que eles chegam a um dinossauro geneticamente projetado, o Indominus Rex. Aí adivinha o que acontece? Adivinhou, né? É claro que o bichão escapa e começa a causar caos no parque.
Esta é a toada do longa. Isso acontece logo nos primeiros minutos, e a partir daí é basicamente só ação, perseguição e comilança. E tem cenas de ação bem legais, e que, veja só, acabam ficando ainda mais interessantes em 3D.
Só que tem um problema. Vários, na verdade. Acontece que o roteiro é muito ruim. Os personagens são todos tapados e não param de fazer besteira. Quer um exemplo? As crianças protagonistas estão num carrinho em meio aos dinossauros e recebem um comunicado de que todo mundo deve voltar.
Logo em seguida, recebem uma ligação da bonitona Bryce Dallas Howard (que podia ligar para mim a hora que quiser, mas acho que ela não tem meu telefone), claramente preocupada. O que eles fazem? Ora, eles não apenas não voltam, como decidem levar o carrinho para fora da área feita para o passeio. É o tipo de coisa que faria o Cyrino tirar dois Alfredos da nota só por acontecer no filme, e aposto que ele está lendo isso concordando com a cabeça.
Normalmente eu gosto de filmes do tipo desligue o cérebro e se divirta. Mas ao contrário de obras como Piranha ou Machete, Jurassic World não tem o mesmo clima de piada interna.
Não, a levada aqui é bem semelhante à do primeiro filme, com aquele climão de aventura da sessão da tarde, o que é legal. Só que o roteiro tem furos demais para o gênero, o que acaba incomodando um bocado. Não quero me estender muito aqui para não estragar a surpresa de ninguém, mas a burrice dos meninos do carrinho não é nem a pior coisa que acontece aqui.
Você já deve ter ouvido falar daquela história de que, para se livrar de uma infestação de ratos, você arranja gatos. Daí, para se livrar dos gatos, traz cachorros. Para acabar com os cachorros, arruma uns leões. E daí quem cuida dos leões? Essa é a lógica do filme. No final das contas, para conseguir cuidar do Indominus Rex, eles acabam tomando umas atitudes deveras questionáveis, que deixa basicamente impossível considerar o final do filme de fato um final feliz. Aliás, é difícil até mesmo chamá-lo de “final”. E não, ele não é um gancho pra uma sequência, é apenas extremamente mal pensado.
Porém, se você conseguir pegar a sessão com a mesma mentalidade de um Machete, aquilo do “desligue o cérebro e seja feliz”, ele é sim, uma boa diversão. Tem um monte de cenas marcantes, empolgantes e assustadoras. A criação em geral do parque é muito legal e os efeitos especiais beiram a perfeição.
Também não dá para não se arrepiar com a música tema de Jurassic Park, que considero uma das obras mais legais do tremendão John Williams. E toda vez que ela toca, imediatamente me sinto como o pivete assistindo ao primeiro filme no cinema, maravilhado pelos dinossauros.
Assim como os clientes do parque, as crianças de hoje não ficam mais impressionadas apenas por ver dinossauros, elas precisam de algo mais perigoso. É esta a proposta do filme, mas ele acaba se perdendo em meio à ambição. Temos aqui um filme de monstro gigante tentando ser um Sessão da Tarde. E assim, ele acaba ficando no meio termo, e talvez não agrade a nenhum dos públicos. Não dá para recomendar sem ressalvas, mas se você entrar no cinema com a mentalidade certa, pode se divertir bastante.