Judas Priest – Electric Eye

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O Judas Priest é, possivelmente, a banda mais tecnológica do Heavy Metal. Não em sistemas de gravação e coisas do tipo, mas liricamente falando mesmo. Enquanto boa parte das bandas narra em suas letras estórias épicas regadas por magia, cavaleiros medievais e dragões, o Judas prefere falar sobre supervilões (Painkiller) e seres vindos do espaço (Electric Eye). Também é inegável a perfeição com que sua música se encaixaria em jogos de videogame, principalmente de ação e de corrida (vide o clipe de Freewheel Burning). É até estranho que sua música nunca tenha sido incluída na trilha de um jogo (que eu saiba, pelo menos).

Lançado para comemorar o pé na bunda levado pelo vocalista “Ripper” Owens e o conseqüente retorno de Rob Halford à banda (curiosamente no mesmo ano da estréia do filme O Retorno do Rei), este DVD, com suas mais de duas horas e meia de conteúdo, faz jus ao adesivinho colado em sua capa que diz: “O DVD definitivo dos deuses do Metal”. Com um recheio eclético e que abrange toda a fase Halford da banda, somos obrigados a dividir esta resenha para abranger todos os detalhes.

Vamos começar pela apresentação: com a caixa e a capa feias, o DVD pode afastar o fã mais distraído que não sabe de seu conteúdo. O encarte também não traz nada de mais, apenas algumas poucas fotos e umas linhas escritas por Rob Halford, poser como sempre. Apresentação comentada, vamos à parte que interessa: o conteúdo.

Parte 1 – Os videoclipes: esta parte apresenta quase todos os videoclipes já gravados pela banda. Eu me dei conta apenas da falta do vídeo de Burn In Hell. Tudo bem que este DVD foi lançado para comemorar o retorno de Rob, mas excluir a “era Ripper” foi um erro pois, não fosse essa exclusão, todos os clipes da banda estariam aqui, tornando este, um dos DVDs mais completos não só da banda, mas de todo o Heavy Metal.

São 13 os vídeos presentes, dentre os quais o maior destaque é, sem dúvida, o hilário vídeo de Breaking The Law, que mostra a banda invadindo um banco (ou sei lá o que é aquilo) armados apenas com seus instrumentos, para roubar os discos de ouro que conseguiu com o clássico British Steel, álbum no qual a música está presente. É engraçadíssimo vermos os óculos dos seguranças quebrando, enquanto os mesmos tampam seus ouvidos devido ao peso sonoro executado pela banda. A única exceção é um dos seguranças que, após um tempinho de dúvidas, pega uma vassoura e começa a “tocá-la” como se fosse uma guitarra. Também podemos interpretar este vídeo como um discurso digno de Manowar (banda sem dúvida influenciada por Judas Priest): a sociedade não quer que o Metal se torne popular, mas nada pode parar o Heavy Metal, que vai contagiar você quando menos esperar. Poser é apelido!

Outro clipe que merece destaque, mais pela música do que pelo clipe, é o da cover Johnny B Goode (clássico do Chuck Berry). A versão do Judas é simplesmente fenomenal. Eles mantiveram tudo que a música original tinha de legal e acrescentaram as principais características de toda boa banda de Heavy Metal: as guitarras trabalhadas e as melodias cativantes (sim, a música ficou ainda mais melódica que a original). O clipe, infelizmente, mostra apenas a banda ao vivo e em preto e branco (odeio clipes em PB).

Também é legal o clipe da ótima Freewheel Burning, que mostra um garoto jogando um arcade de corrida. Detalhe: a cabeça de Rob Halford está no lugar onde ficaria a cabeça do piloto. O vídeo de Locked In também é divertido e retrata a banda (vestindo trajes dignos de Mad Max) lutando para salvar Rob das garras de um monte de mulheres. Isso fica ainda mais engraçado hoje em dia quando lembramos que Halford é homossexual, o que ninguém sabia (apenas suspeitava) naquela época.

É curioso repararmos, também, na imensa mudança da banda entre os clipes de Johnny B Goode e Painkiller. De uma banda Hard & Heavy alegre e divertida, o Judas passou a ser uma banda pesadíssima e que faz caras de mau de tirar o sono dos mais impressionáveis. Felizmente, a altíssima qualidade de suas músicas foi mantida e Painkiller é, sem dúvida, um dos álbuns mais clássicos da história do Rock.

Parte 2 – Priest…Live!: qualquer pessoa que diz gostar de rock, sem dúvida já ouviu o nome Priest…Live!. Pode até nunca ter visto/ouvido o vídeo/álbum, mas pelo menos o nome já ouviu, pois trata-se de um dos registros ao vivo mais famosos da história, podendo inclusive ser comparado a clássicos como Made In Japan do Deep Purple e Live After Death do Iron Maiden. Pois bem, o vídeo lançado originalmente nos anos 80 está presente na íntegra neste DVD.

A primeira impressão que ele causa, no entanto, é decepção, pois está com a mesma qualidade de imagem do vídeo original. E o Judas ainda tem a cara de pau de dizer que remasterizou o vídeo. Deviam assistir o DVD do De Volta Para o Futuro para ver o que é um verdadeiro trabalho de remasterização.

Já o áudio, ah, esse sim está com uma qualidade digna de DVD. Tremenda qualidade de som, desde a remasterização até no que concerne à performance da banda. 100% impecável.

O show em si também é um “show” na melhor definição da palavra. O Iron Maiden deveria assistir a esse vídeo para aprender o que é uma verdadeira superprodução. Apenas para dar uma idéia para o incauto leitor, na ótima dobradinha Hellion/Electric Eye, um imenso robô, de dar medo ao Gigante Guerreiro Daileon (alguém aí lembra de Jaspion ou sou só eu que sou muito nostálgico?) aparece na parte de trás do palco, em meio a explosões e fogos de artifício, e carrega (sim, carrega) Rob Halford de um lado para o outro enquanto este faz os vocais. Fantástico. Essa música sozinha já vale a aquisição do DVD, é realmente demais.

Também fiquei impressionado com a ótima presença de palco de Rob durante o show inteiro. Minha única referência do vocalista ao vivo era a que tinha presenciado no Rock In Rio de 2001, onde ele se mexeu menos do que a mosca que um cara ao meu lado estava tentando matar. Nesse show, ele dança o show inteiro. E quando eu digo que ele dança, eu realmente quero dizer DANÇA. Não estou me referindo a coreografias com o microfone, a bater palmas ou balançar a cabeça como é comum em shows de metal. Estou falando de passinhos de dança e rebolados. É realmente engraçado ver um cantor de Metal dançando afinal, como todos sabemos, nós, roqueiros, não somos exatamente os melhores dançarinos do mundo. Ponto para Rob que não teve medo do ridículo e assim contribuiu para o show ser ainda mais divertido (ok, e ridículo também).

O principal aspecto negativo do show (além da péssima imagem para um DVD) foi a falta de alguns clássicos essenciais presentes até hoje nos shows da banda, como Diamonds And Rust, Victim Of Changes, The Ripper e Metal Gods (esta toca apenas durante os créditos – santa heresia!), o que também dá a impressão de que o show foi editado. Realmente não entra na minha cabeça o porque de alguém lançar um registro de um show faltando os clássicos, coisa que o Judas fez também em seu último lançamento em DVD Live In London, onde excluíram músicas como You’ve Got Another Thing Comin’ e Grinder e deixaram músicas não tão legais como Feed On Me, por exemplo.

Outro problema é a descarada centralização das câmeras no trio Halford/Tipton/Downing. O baixista Ian Hill, não aparece nenhuma vez, a não ser quando a câmera está focando um dos três e ele está lá no fundo, no mesmo quadro. O baterista Dave Holland (recentemente condenado por pedofilia) também quase não aparece.

Nada disso, contudo, tira o status de clássico que Priest…Live! merecidamente adquiriu ao longo dos anos. Material essencial para qualquer um que goste de Rock.

Parte 3 – BBC TV Performances: esta parte consiste em algumas músicas executadas pela banda no canal de televisão BBC. São seis músicas, entre elas os clássicos Living After Midnight e United.

Mas o mais legal mesmo é a curiosidade de ver como era o Judas Priest no início da carreira, em 1975, quando Rob Halford tinha o cabelo comprido e todos eles pareciam mais covers do Deep Purple (na música e no visual) do que uma das maiores bandas de Metal da história.

Como nada é perfeito, essas músicas estão com toda a cara de playback e eu me senti assistindo ao Judas Priest no programa do Faustão. Faltava apenas uma daquelas baterias que só tem uma caixa e um prato pra completar.

Parte 4 – Discografia: aqui podemos ver a capa de todos os discos da banda, bem como o nome de todas as músicas neles presentes. E o melhor, quando cada disco é selecionado, uma de suas músicas é executada, na íntegra e em mixagem 5.1. Com uma música de cada disco presente, temos um total de 19 músicas, ou seja, temos aqui uma verdadeira coletânea do Judas em DVD-Áudio. Mais um ponto positivo para a banda, que encheu o disquinho com todo o conteúdo possível, fazendo um produto que deve ser comprado tanto por fãs de longa data quanto por quem não tem nada da banda e quer conhecer.

Curiosidade: não é segredo para ninguém que o Judas Priest é um dos pioneiros no visual Heavy Metal que conhecemos hoje, com roupas de couro e cara de macho. Pois em 2003, a banda recebeu uma extensa carta da PETA (People For Ethical Treatment Of Animals, uma espécie de Sociedade Protetora dos Animais) pedindo para que a banda parasse de usar roupas de couro e que passasse a usar apenas couro sintético. Pouco tempo depois, o Judas Priest respondeu à carta dizendo que sempre usou roupas de couro sintético. E ainda tem gente que diz que “metaleiro” é alienado.

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