Hammerfall – Masterpieces

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Quando este CD chegou aqui no Oráculo e eu dei uma olhada rápida no tracklist, constatei que eram faixas conhecidas e estranhei: uai, esses caras não acabaram de lançar uma coletânea, aquela Steel Meets Steel? Lançar duas seguidas não é true, pô! Porém, antes que pudesse acusá-los de trair o movimento, percebi que na verdade era uma coletânea com todas as covers gravadas no decorrer de sua carreira, além de algumas poucas inéditas. Então, para esta resenha, sugiro abordarmos individualmente cada uma das faixas novas e fazer um geralzão sobre o resto. Então vamos na ordem em que as inéditas aparecem.

När Vindarna Viskar Mitt Namn – Roger Pontare

Segundo o encarte, essa não é inédita, mas é a única das previously released que eu não conhecia. Para falar a verdade, nem sei onde ela saiu originalmente, mas acredito que tenha sido em algum single do álbum Threshold.

Trata-se da inscrição sueca feita no ano 2000 para o Eurovision Song Contest. É também uma das poucas do álbum cuja original nunca ouvi. A versão do Hammerfall, contudo, é o mais puro True Fuckin’ Metal. Andamento cadenciado, guitarras bangueáveis, muita melodia, corais machões e, é claro, uma letra com mais tremas do que qualquer discurso político de Odin. Uma ótima faixa.

Flight of the Warrior – Riot

Assim como Child of the Damned, presente no debut da banda (e aqui também), esta é daqueles covers que são tão absurdamente parecidas com o estilo do Hammerfall que, se você não souber do que se trata, pode até confundir com uma música própria. Ótimas guitarras e um refrão deliciosamente comercial, no melhor estilo Hammerfall.

Youth Gone Wild – Skid Row

Eu não sou um grande fã nem um grande conhecedor do Skid Row. Há algum tempo, comprei a coletânea 40 Seasons, com a idéia de conhecê-los melhor. Quando coloquei o CD para colocar, a primeira música, justamente esta Youth Gone Wild me deixou tão estupefato que acho que até hoje nunca mais deixei o CD continuar. A faixa é tão boa que eu vivo colocando ela no repeat one do iTunes. Daí quando eu enjôo, deixo o álbum continuar tocando mas, umas três músicas depois, acabo voltando para o começo do álbum e para a dita-cuja em questão.

Para o meu gosto pessoal, a versão original de Youth Gone Wild está para o Hard Rock de macho como Beethoven está para músicas bonitas. Com isso, quero dizer que é tão absurdamente superior a tudo o que foi feito no estilo que chega a ser ofensivo e até falta de educação para com as outras bandas e músicos menos talentosos. Se falarmos de bandas de Hard Rock de macho, prefiro bem mais W.A.S.P. ou Twisted Sister a Skid Row. Porém, nada que Blackie Lawless ou Dee Snider tenham composto chega perto da qualidade de Youth Gone Wild. Ok, talvez Mean Man, do W.A.S.P., possa desafiar a supremacia da juventude selvagem, mas apenas ela.

Disse tudo isso para que o delfonauta perceba o quanto gosto dessa música e o quanto me empolguei quando a vi no álbum. Desnecessário dizer, aliás, que comecei a audição justamente por ela, tamanha minha curiosidade. E, cara… que decepção.

Quem já ouviu a versão original está ligado que o vocalista Sebastian Bach pode parecer a Barbie, mas o cara definitivamente sabe como cantar que nem “hômi”. Sua voz é pesada, suja e agressiva, ideal para o estilo em questão. Já Joacim Cans, do Hammerfall, tem a típica voz do Heavy Melódico. O cara é muito bom, mas seu timbre é agudo e limpo e não é assim que se canta Hard Rock. Aliás, é até estranho que sua banda seja True Fuckin’ Metal e não Heavy Melódico, considerando quão apropriada sua voz é para o estilo. Com o tempo, contudo, isso acabou até diferenciando o Hammerfall, pois dá a eles uma aura de um Manowar mais bonitinho e isso me agrada bastante.

Porém, ouvindo Youth Gone Wild, podemos atribuir a Cans a mesma síndrome do Patinho Feio que aflige o Andi Deris (do Helloween, sabe?). Ambos são vocalistas fenomenais dentro do seu estilo, mas estão nadando em lagos errados. Andi Deris, com sua voz de arara digna do melhor do Hard Rock cairia como uma luva em Youth Gone Wild. Porém, Joacim, com sua voz limpa e agradável, seria uma ótima opção para o Helloween substituir Michael Kiske.

Assim, ouvindo a versão do Hammerfall para Youth Gone Wild, sou obrigado a dizer que falta peso, falta agressividade. Enfim, falta uma voz de arara gritando que nem macho ali. Isso é tão evidente que, em todas as milhares de vezes em que ouvi a original, nunca havia reparado que o instrumental fica bem em segundo plano durante a estrofe. Isso acontece porque a voz do Sebastião Ribeiro dá o peso e o corpo necessário para cobrir a falta de guitarras. Porém, a voz de Joacim não fornece essas características, e isso deixou a estrofe parada, quase broxante. Depois, na ponte e no refrão, quando as guitarras entram com tudo, melhora um pouco, mas ainda assim o vocal carece de mais testosterona. Talvez esta definitivamente não tenha sido a escolha mais apropriada para o álbum.

Para não dizer que só falei mal dela, a bateria está muito – MUITO – melhor que a do Skid Row. Tem umas viradas aqui deveras empolgantes. Além disso, os corais à Accept da música ganharam uma injeção de macheza em relação à original, e isso ficou legal. O fenomenal ô-ô-ô que aparece nos últimos segundos ganhou novos contornos graças a isso, pois alterna o vocal agudo de Joacim com aqueles gritos típicos de um estádio de futebol lotado. Ficou bem legal e ganhou um contraste maior que a do Skid Row, que colocou simplesmente dois vocais machões lado a lado.

Não me entenda mal, não é que esta versão ficou realmente ruim. Absolutamente qualquer pessoa que curta um Rock de macho vai gostar. Só que para mim, Youth Gone Wild é uma das melhores músicas já compostas pela humanidade e eu acreditava que o Hammerfall seria capaz de torná-la ainda melhor. Não foi, mas isso não significa que sua versão também não seja divertida.

Aphasia – Europe

Quem diria? Alguém fazendo uma versão do Europe que não é Final Countdown… Admito que não conhecia Aphasia e já estou apaixonado por ela. Trata-se de uma instrumental levada na guitarra, mas não com solos ou riffs, mas com melodias naquele jeitão Iron Maiden. É linda, cara! Se você gosta de guitarras cantando tanto quanto eu, essa vai rapidamente se tornar uma de suas faixas preferidas. Seu único defeito é a duração. Apenas dois minutos e meio são pouco para uma composição tão deveras excelente. Acho que encontrei mais uma para deixar no repeat one do meu iTunes… E só pra constar, Europe é foda! m/

Geralzão: os destaques positivos das músicas não inéditas

Uma coisa legal nas escolhas de covers do Hammerfall é que eles costumam pegar bandas mais desconhecidas, mas cujo estilo é bem parecido com o deles. Assim, algumas das melhores músicas aqui presentes são de bandas que a maioria dos delfonautas não deve ter ouvido falar.

Um exemplo é a maravilhosa Eternal Dark, do Picture, cujo riff pula-pula contrasta com um refrão melódico e que desemboca no retorno do pula-pula. É praticamente uma Holy Diver menos famosa e deve ser ouvida por qualquer fã de Dio do universo. Outra divertidosa é Crazy Nights do Loudness, que mescla uma estrofe machona com um refrão bonitinho, daquele jeitão “todo mundo junto agora”.

Porém, clássicos também não faltam neste CD. Falando em Dio, temos aqui uma versão para Man on the Silver Mountain, do Rainbow, que superou bastante a original e que traz Joacim em um “trieto” com Udo Dirkschneider e Kai Hansen.

Já que falamos nos dois alemães fanhos, eles também comparecem nas versões de suas bandas. Udo canta com Joacim uma versão turbinada de Head Over Heels, do Accept. Já Kai Hansen participa em I Want Out, clássico absoluto do Helloween e que também está bem superior à sua versão original. Aliás, esta é a maior prova de como Joacim seria um substituto digno do Michael Kiske para as abóboras germânicas.

Tirando as influências óbvias da banda (ou vai dizer que você tinha alguma dúvida que esses caras glorificavam Rainbow, Accept e Helloween?), também temos outros clássicos. É o caso de Rising Force, do Malmsteen e da tremendona Detroit Rock City, do Kiss. O curioso é que, embora o Kiss seja a típica banda de Hard Rock, tudo que eu falei na parte do Skid Row não se aplica aqui. Isso acontece pois Detroit Rock City já foi composta para uma voz limpa (no caso, a de Paul Stanley), e se encaixou muito bem na voz de Joacim. Uma curiosidade é que o Pink Cream 69 também gravou essa faixa na época do Andi Deris e ela também se encaixou bem na voz suja do nosso amigo das abóboras.

Uma coisa que acho curiosa em Detroit Rock City é que, não interessa o estilo da banda que a coverize, ninguém tem coragem de mexer na maravilhosa melodia do solo de guitarra. Podem até mudar os instrumentos, como fez o Mighty Mighty Bosstones em sua versão Ska Punk (muito legal, por sinal), mas a melodia é sempre a mesma. Também pudera, trata-se de um dos solos mais famosos da história do Rock.

Geralzão: os destaques negativos das músicas não inéditas

Na verdade, aqui temos apenas dois. Um deles é Angel of Mercy, do Chastain e não coloco a culpa no Hammerfall, já que se trata de uma composição da qual eu simplesmente não gosto. Se você gosta de um Metal mais lento e sombrio na linha do Black Sabbath, provavelmente deve discordar de mim. Temos aqui guitarras pesadas e bateria lentona, daquelas que dá para tocar com uma mão só. Se essa descrição te agrada, divirta-se.

O outro destaque negativo é Breaking the Law, classicaço do Judas Priest. Acontece que a banda decidiu fazer aqui a mesma brincadeira que fazia quando a tocava ao vivo, ou seja, trocar os instrumentos. E o guitarrista Oscar Dronjak canta mal demais. Tá, isso aqui é pura diversão e saiu como um lado B de um single, onde ficou legal. Mas no contexto deste disco, com um monte de covers superproduzidas, ela acaba se destacando negativamente. Parece que colocaram uma música gravada pelo Biohazard ou alguma outra banda mais suja no meio do Metal limpinho do Hammerfall e soa bem estranho.

Conclusão:

Se você não tem as versões japonesas ou os singles do Hammerfall, Masterpieces há de trazer várias novidades, pois poucas dessas versões saíram nas edições normais dos álbuns. Além disso, a maior parte das covers está muito legal e são muito bem escolhidas. O lado negativo é que nunca é um bom sinal quando uma banda começa a lançar mais coletâneas do que trabalhos inéditos. Será que o Hammerfall chegou à Crise dos 20 anos pouco depois de completar 10?

Bonus Track: a capa

Fãs de Iron Maiden, regozijem-se! Depois de muitos anos, finalmente temos uma nova capa no estilo Onde Está Wally. Divirta-se encontrando referências a todas as bandas coverizadas no desenho de Masterpieces.

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