Guia Delfiano de Viagem ao Chile

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Bienvenido, caro delfonauta, a un especial delfiano muy especial. Você provavelmente não percebeu, mas durante as primeiras semanas de maio, nosso estimado site estava sem ditador, sendo tocado pelos meus queridos amigos Cyrilove, Memeluco, Pixáiti e Casado (AKA Carlos Cyrino, Homero de Almeida, Rodrigo Pscheidt e Allan Couto). Uma salva de palmas para eles.

Clap. Clap. Clap.

Eles tiveram que cuidar do seu site preferido porque este que vos escreve estava passeando pelas hostis terras do Chile. Originalmente, pensei em transformar essa viagem em uma única matéria, especialmente contando como foi assistir aos shows do Gamma Ray e do Manowar em Santiago. Porém, rolaram tantas altas confusões do barulho nessas duas semanas nas quais estive fora do Brasil que achei que estaria perdendo uma bela oportunidade de fazer várias matérias engraçadas e divertidas para o delfonauta fiel e prestar uma ajuda essencial para quem procurar “o que visitar no Chile” ou “o que levar para o Chile” no Google. E, ei, eu não sou de perder oportunidades.

MAS POR QUE O CHILE, CABRÓN?

Eu tenho uma lista imensa de países que gostaria de visitar, encabeçada, é claro, por Grécia e Egito. O Chile estava lá embaixo nessa lista.

O que aconteceu é que a Cinthia Mayumi Saito, que você conhece de textos como esse e esse, tinha um congresso de sua querida profissão no Chile, para o qual ela iria de qualquer jeito. Mas ela não queria viajar sozinha.

Eu, por outro lado, tinha uma pá de milhas do cartão de crédito que estavam para vencer. Eu só podia escolher um país da América Latina para usá-las, mas as tinha em quantidade suficiente para ida e volta. Só que também não queria viajar sozinho. Unimos o útil ao agradável e resolvemos nos fazer companhia – além de economizar na hospedagem. Obviamente, assim que estávamos com as passagens em mãos, Deus, em mais um dos muitos evil monkeys que ele faz só pra ferrar minha vida, mandou um terremoto para o Chile.

Na semana do congresso, estaríamos nos arredores de Santiago, onde eu passearia pela cidade, sozinho e abandonado ao relento a maior parte do tempo. Mas depois iríamos arranjar altas aventuras no deserto mais seco do mundo: o Deserto de Atacama.

Mas o que a gente fez de legal nessas duas semanas, os shows do Manowar e do Gamma Ray e todas as altas confusões em que nos enfiamos vão ficar para as outras matérias. O assunto de hoje é algo que deve ser pensado antes de sair do Brasil: a preparação e algumas peculiaridades do país para as quais você deve estar preparado.

O QUE LEVAR PARA O CHILE?

Eu li vários textos em blogs e sites sobre a temperatura, mas todos falavam apenas sobre verão e inverno. E cacildis, eu estava indo no outono. Se você também pretende estar no Chile no outono, seus problemas acabaram. Pelo menos se sua ideia é ir para as mesmas cidades que eu fui.

1 – Santiago

Santiago é muito parecido com São Paulo em várias coisas. Uma delas é a temperatura. Durante o dia, eu ficava na boa de jeans e camiseta e à noite esfriava um pouco e normalmente uma jaqueta se fazia necessária. O frio é um pouco maior do que o tradicional por aqui, então normalmente eu precisava da minha jaqueta grossa, mas nenhum absurdo ou que chegasse ao ponto de me fazer sofrer.

Santiago é uma cidade estranha, pois os santiaguenses podem ir à praia no verão (Viña del Mar e Valparaíso) e esquiar no inverno, no Valle Nevado. No outono, dá para ir aos dois. Se você pretende ir para o Valle Nevado e brincar na neve, uma boa ideia é levar luvas impermeáveis, ou você não vai aguentar segurar as bolinhas de neve durante as inevitáveis guerrinhas. Já se você quer se banhar no Oceano Pacífico, não esqueça seu traje de banho. E a água lá é bem fria, pelo menos no outono.

2 – San Pedro de Atacama

Já em San Pedro de Atacama, o povoado turístico de onde saem os passeios para o deserto, a coisa se torna mais hardcore. Provavelmente essa é a única região no meio das partes visitáveis (algumas a mais de três horas de viagem do povoado) com condições mínimas para a sobrevivência, mas mesmo assim o bicho pega. De dia costumava fazer a mesma temperatura de Santiago, mas de noite a temperatura caía muito, e muito rápido. É bem estranho estar suando de calor e, dez minutos depois, estar tremendo de frio. Não subestime isso.

O ar também não ajuda muito, pois além de seco, é rarefeito (boa parte dos passeios dessa região são feitos em alturas bem altas, chegando a mais de 5000 metros sobre o nível do mar). É uma sensação simplesmente terrível, pois você enche o pulmão de ar, mas parece que não vem oxigênio suficiente. Imagino que é isso que quem tem asma costuma sentir e me compadeço da dor deles.

O resultado disso afetou tanto a mim quanto à Cinthia: sangramentos nasais. Todos os dias, eu acordava com meu nariz completamente tapado, e quando ia limpá-lo, saíam bolotas imensas de sangue seco, que simplesmente não paravam nunca de sair. E pouco tempo depois voltava a ficar entupido.

As condições lá são tão difíceis para um sujeito urbano não acostumado que a melhor coisa foi estar com uma garota. Afinal, mulheres viajam com coisinhas que os homens jamais levariam, como lenços umedecidos, cremes para a pele, Vick Vaporub e coisinhas assim, que acabam tornando a vida por ali mais suportável. Se você não for para lá com uma moçoila, trate de comprar essas coisas por aqui e levar você mesmo. E nem venha com esses papos de tr00zão dizendo que isso é coisa de mariquinha. Quanto antes você engolir essa trueza e pedir essas coisinhas pra sua amiga, menor vai ser o impacto no seu corpo. E você não quer esse impacto, pois vai precisar de energia para os passeios, que são realmente cansativos. Depois não diga que não avisei. =P

E já que falamos nos passeios, eles são vários e, no geral, envolvem longas viagens. Alguns deles, como o popular Geysers del Tatio saem às quatro da manhã e te levam para mais de quatro mil metros de altura, onde você chega por volta das sete. E lá a temperatura varia entre 10 a 20 graus Celsius NEGATIVOS! Sim, amigão, 20 graus negativos. Essa é a temperatura mais baixa que eu já senti na vida e, para quem considera frio extremo 15 graus positivos (a temperatura mais baixa comum em São Paulo), foi deveras sofrido. Sem falar que eu não tinha roupas apropriadas para isso. Acabei tendo que comprar uma calça que eles chamam de segunda pele, que me custou 160 dólares, provavelmente o valor mais alto que já paguei numa peça de roupa. Foi quase o preço de um vestido de noiva, pô! E tal qual um vestido de noiva, eu só vou usar uma vez.

Assim, se você pretende ir para os Geysers, leve todas as roupas de frio que tiver, e mais algumas. E leve também as roupas de banho, pois vários desses passeios envolvem mergulhos. Mas me estendo sobre isso num dos próximos textos, quando falar das coisas legais para fazer em San Pedro de Atacama.

MOEDA

A moeda usada no Chile são os Pesos Chilenos, ou CLPs. Para transformá-la aproximadamente em moedas que nós conhecemos melhor, faça a seguinte fórmula:

CLP X 2/1000 = USD

CLP X 4/1000 = BRL

Exemplificando, 1000 CLP dá mais ou menos dois dólares ou quatro reais. Não é difícil, mas engana um pouco, especialmente quando você pede um filé de 15000 pesos achando barato e depois descobre que gastou 60 reais nele.

Ah, e se economia faz diferença para você, tente fazer uma carteirinha da ISIC. Muitas coisas no Chile dão desconto se você a tiver (em alguns museus você até entra de graça). Na viagem toda, economizamos algumas centenas de reais, graças à carteirinha milagrosa.

COISAS QUE VOCÊ TEM QUE SABER ANTES DE IR PARA O CHILE

Essa é a parte mais única dessa matéria, pois eu não vi absolutamente ninguém comentar sobre essas coisas. Tem algumas diferenças culturais consideráveis no Chile, várias delas surpreendentes se considerarmos quão próximos de nós eles estão.

1 – O Povo

O povo de Santiago é basicamente igual ao de São Paulo ou de qualquer outra grande metrópole. É estressado, agressivo e potencialmente assassino. Sabe como aqui em São Paulo, é super comum os motoristas psicopatas acelerarem quando você tenta atravessar a rua? Pois é igualmente comum lá, com a diferença de que os faróis para pedestres ficam verdes mesmo quando os carros da rua perpendicular podem virar. Muito cuidado ao atravessar a rua, ou sua vida pode acabar mais cedo.

Assim como em São Paulo, os pedestres também vão andando rápido pelas ruas e não desviam de você. E, quando o inevitável encontrão rolar, eles vão querer parar para brigar, fingindo não perceber que, se o encontrão aconteceu, é porque nenhuma das partes desviou, então ambos estão errados. Mais paulistano impossível.

Além disso, praticamente ninguém em Santiago fala inglês e, não interessa quão fluente você seja no Portunhol, eles não vão fazer a menor questão de entender o que você diz. Para mim, parece meio difícil de entender (para não chamar de pura estupidez), que um recepcionista de hotel não fale inglês, mas não espere que chilenos sigam a lógica. Você vai ver a quantidade de coisas estúpidas estranhas que existem lá quando chegar no terceiro tópico.

Para completar, os chilenos de Santiago não sorriem para absolutamente nada. Eles nem mesmo acham portunhol engraçado, o que não faz sentido nenhum! Num dos hotéis que fiquei, o recepcionista, apesar de não falar inglês, era muito solícito e resolvia tudo rapidinho, mas o sujeito não deu um sorriso em nenhum momento da nossa estadia. Mesmo em lugares como o McDonald’s é difícil ver gente sorrindo. Isso é bastante estranho, especialmente para um brasileiro que só fala besteira como eu. Eles me levam a sério e nada me dá mais medo do que uma pessoa que me leva a sério. O.o

Já em San Pedro, a coisa muda. Como a cidade é turística, só existem dois ramos de atividade: turismo e comércio. E todos do primeiro ramo, e a maioria do segundo, falam inglês. Além disso, a simpatia lá é bem maior, as pessoas são muito mais agradáveis, sorridentes e bem humoradas e a cidade é super bonitinha. É fácil perceber de qual eu gostei mais, né?

2 – Comida

Um hábito bem legal dos restaurantes chilenos é a existência de um troço que eles chamam de menu. Trata-se de uma refeição completa, composta de uma entrada (sopa ou salada, normalmente), um prato principal e uma sobremesa. E tudo isso costuma sair por menos do que o valor do prato principal sozinho. E cada dia, cada restaurante tem um menu diferente.

Mas nem tudo é legal na gastronomia chilena. As pizzas, por exemplo, custam o mesmo preço de uma pizza cara de São Paulo (por volta de 40 reais), mas, ao contrário daqui, onde elas alimentam tranquilamente duas ou três pessoas, lá elas são individuais. Não são ruins, mas, sinceramente, 40 reais por quatro pedacinhos de pizza não é um bom investimento. E nós descobrimos da pior forma, pedindo uma (que, claro, acabou virando duas para não passarmos fome). Evite as pizzas chilenas, se for possível.

3 – Diferenças nas outras coisas

Tomadas: As tomadas do Chile são diferentes de todas as outras que eu já vi na vida. São três pinos também, mas eles ficam em linha reta e são mais finos do que os nossos. Dessa forma, se você pretende levar notebook, Ipod, videogames portáteis, secador de cabelo ou qualquer coisa que precise de tomada, já vá preparado para arranjar um adaptador. Alguns hotéis emprestam ou alugam isso, mas você pode encontrá-los em lojas sem muita dificuldade.

Luz do banheiro: Chilenos têm a péssima mania de colocar a luz do banheiro do lado de fora. Sabe-se lá qual é a lógica por trás disso ou se eles simplesmente ainda não descobriram as maravilhas da luz ao alcance do braço, mas é fato que não vi um banheiro lá com a luz do lado de dentro. Prepare-se para acordar à noite para um pipizão amigo, ir zumbizando na direção do banheiro, tatear a parede inteira em busca do interruptor, enfiar os dedos na tomada, levar um choque, errar a mira e molhar tudo. Não que isso tenha acontecido comigo, claro. E já que falamos em banheiros molhados…

Box do chuveiro: Outra maravilha moderna que parece ainda não ter chegado no Chile são os boxes de vidro, plástico ou qualquer coisa sólida. Pelo menos aqui em São Paulo, é bem raro vermos boxes com toalhinhas (isso é meio coisa de praia, né?), mas ali, mesmo em hotéis luxuosos, a toalhinha está sempre presente. E, como todo mundo sabe, elas são bem ineficazes, especialmente porque os boxes são, em geral, bem pequenos, inadequados para um patetão de 1,90m como eu. Resultado? Depois do banho, não apenas o banheiro inteiro fica com o chão molhado, como muitas vezes a água chega até a invadir o quarto. É incrível como nenhum arquiteto no Chile parece ter percebido quão inconveniente isso é e finalmente aderido para a “moderníssima” separação de vidro, como é usado no resto do mundo há pelo menos 42 séculos.

CONCLUSÃO

Espero que o amigo delfonauta e o para-quedista do Google tenham se divertido com essa matéria. Semana que vem continuamos o especial. Ou eu vou falar de algumas das coisas legais que fizemos ali, ou vou reclamar do pior albergue do mundo. Depende do meu estado de espírito ou do meu medo de ser processado, escolha o que parecer mais realista.

E mais para frente, ainda nesse especial, teremos as resenhas dos shows do Manowar e Gamma Ray e um conto cheio de emoção e suspense tratando do meu combate épico contra um vulcão ativo. Não perca!

PS: Nessa matéria você confere algumas poucas fotos que tiramos durante a viagem. Continue acompanhando, e nas próximas você verá imagens simplesmente embasbacantes, que não dá para acreditar que não foram photoshopadas.

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