Semana passada, a IGN gringa viralizou um artigo onde ia profundamente na atmosfera atual na Bungie. Velhotes como eu se lembram da Bungie como a criadora de Halo, mas a turma mais jovem com certeza os liga direto a Destiny. Diante de seus planos ambiciosos para títulos live-service, a tradicional publisher de jogos de prestígio, a Sony, comprou a desenvolvedora em 2022 por um extremamente inflacionado preço de 3.6 bilhões de dólares.

É uma grana preta usada para comprar uma empresa e apenas uma IP, Destiny. A Microsoft comprou a Zenimax, que inclui a Bethesda e um monte de outras desenvolvedoras e IPs por 7.5 bilhões. Na impressão dos jogadores, a Zenimax inteira vale muito mais do que o dobro da Bungie. Ou será que não? Afinal, comprar a Bungie foi um considerável investimento da Sony mirando em se tornar uma fábrica de jogos de serviço. Assim, ela comprou a dona de um dos maiores games premium que seguem esta linha.

A MATÉRIA DA IGN

A matéria da IGN entra em detalhes na atmosfera da Bungie desde a compra. Muito foi falado à época que a Bungie reteria a independência. Pois parece que a tal independência é condicionada a resultados financeiros. Resultados que a Bungie vem penando para alcançar. Para cozinhar os números e aparentar mais lucros, a Bungie vem demitindo geral. Isso tem gerado uma bola de neve. A moral está caindo e funcionários que não vestem a camisa dificilmente vão gerar lucro. Tudo indica que, depois do vindouro DLC The Final Shape, algo vai mudar. E muito provavelmente a independência da Bungie vai acabar.

O ponto que quero fazer aqui é que o pior cenário, uma total falência de Destiny e potencial ajustamento da Bungie como um estúdio suporte para a Naughty Dog ou a Santa Monica não deve acontecer. Mas seria bom para a indústria se acontecesse.

PERMITA-ME APRESENTAR O ELEFANTE NA SALA

Sim, isso significa que muitas pessoas vão perder o emprego. E é uma lástima. Porém, isso já está acontecendo – e deve acontecer mais vezes em breve, mesmo que a independência se mantenha. Como uma cirurgia que deixa a gente em recuperação por um tempo, isso seria uma tragédia rumo a um bem maior. A história da Bungie serviria como um exemplo dos perigos em investir tudo no live service.

Afinal, Destiny 2 talvez seja o live service de maior prestígio já lançado. Não apenas é um jogo inicialmente vendido a preço cheio, é recheado de microtransações e tem um milhão de DLCs pagas. Tantas que boa parte do conteúdo, mesmo comprado pelos usuários, é roubado de volta e se torna injogável, como a campanha original que analisei aqui e que hoje não existe mais. Sim, a campanha vendida com o jogo foi literalmente roubada dos arquivos de quem a comprou.

Bungie, Destiny 2, Live Service, Fortnite, Suicide Squad, Delfos
A repercussão a Suicide Squad demonstra como geral está de saco cheio de jogos de serviço.

Isso tudo diferencia Destiny 2 de Genshin Impact ou Fortnite e, quiçá, o torna mais vantajoso para empresas como a Sony. É inegável que Destiny 1 deu o pontapé inicial nesta praga de jogos de serviço que vivemos hoje. Praga que vem mostrando cansaço do público. Basta ver a reação negativa a Suicide Squad Kill The Justice League e a própria dificuldade que Destiny 2 vem tendo em alcançar suas metas financeiras.

NÃO DÁ PARA DAR CERTO PARA SEMPRE

Um jogo live service é, por definição, um produto. E nenhum produto dura para sempre. Manter um jogo como este, mesmo quando bem sucedido, como é o caso aqui, é difícil, caro e dá muito trabalho. A areia movediça de dinheiro não para de sugar nunca, mas eventualmente a fonte do dinheiro, os jogadores, vai para outros jogos, outras experiências ou, simplesmente, como eu, passam a não suportar mais os live services.

O problema é que Destiny gerou tanto engajamento na última década que muitas empresas começaram a seguir esta cenoura. Dentre elas, a Sony, que comprou a Bungie achando que estava comprando o caminho para a cenoura, mas acabou dando de cara com um pau. Há muitos exemplos disso. Na tentativa de transformar seus jogos em serviço, a WB ferrou com Arkham Knight e com Shadow of War, tornando-os inacabáveis para quem não quisesse comprar passes de economia de tempo. A Ubisoft deixou seus jogos todos iguais, culminando em um Ghost Recon sinceramente patético.

No campo dos AAA, talvez a que mais tenha se mantido incólume foi a Capcom, que neste meio tempo lançou um monte de Resident Evils muito bons, um Devil May Cry e até Mega Man. Sim, eles tentaram entrar na água dos jogos de serviço com títulos como Exoprimal, mas nunca foram tão fundo quanto suas colegas. Ou quanto a Sony já demonstrou que quer ir. Basta comparar como as pessoas vêm a Capcom hoje em comparação com, sei lá, a Square Enix, e você terá uma boa noção de como os jogadores estão cansados de jogos de serviço.

O LADO BOM DA BOMBA

E daí chego ao meu ponto. Para você, para mim, e para todos que jogam videogame, está claro que estes jogos de serviço não têm mais o futuro glorioso que aparentavam ter na época de outrora. É muito difícil e caro fazer isso dar certo. A indústria está apostando nisso como se fosse o futuro, mas já é passado. Será, na melhor das hipóteses, o futuro para alguns poucos jogos. E mesmo estes não vão imprimir dinheiro para sempre. Vide o que está rolando com Destiny 2 agora. O fato é que a maior parte dos jogos de serviço que chegam a ser lançados acabam sendo totalmente desligados em menos de um ano, e sem dar reembolso para quem comprou, e fica sem poder jogar.

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Para cada Fortnite, tem dúzias de jogos desligados.

Mas isso não está claro para os executivos. A Square Enix não para de se decepcionar com o resultado dos seus jogos, mas também não para de tentar lançar live services (alguém lembra de Babylon’s Fall?). A Sony quer, em alguns anos, passar a maior parte da sua receita para jogos de serviço, em detrimento dos single players de prestígio que tornaram a Sony o maior nome dos videogames de adulto da história. Eles ainda acham que vale a pena seguir esta cenoura. E talvez apareçam mais alguns unicórnios do gênero no futuro. Mas a chance de isso acontecer é pequena, em especial com a quantidade de concorrência existente e a quantidade de tempo que estes jogos exigem dos jogadores.

A MORTE DE DESTINY

Neste cenário, a morte de Destiny/Bungie seria positiva para a indústria. Destiny 2 é provavelmente o maior case de sucesso de jogos de serviço entre os games premium, ou seja, que são vendidos a preço cheio. É o espaço que Marvel’s AvengersBabylon’s Fall queriam conquistar e falharam miseravelmente. Destiny 2 chegar ao fim vai mostrar para a turma do dinheiro que isso não é uma galinha dos ovos de ouro que pode chocar infinitamente, mas sim uma pata de macaco.

Este é um sinal que não passaria despercebido pelos executivos, e daí talvez voltemos a ver jogos de alto orçamento que não queiram virar um segundo emprego. Muita gente criativa e boa vai perder empregos com isso, mas uma nova era de empresas e projetos criativos serão bancados uma vez que essa onda de games de serviço parar de engolir todos os recursos existentes. Acredito piamente que a morte de Destiny 2 nos levaria a este objetivo alguns anos mais rápido.

THE LAST OF US FACTIONS, PRÓXIMO JOGO DA NAUGHTY DOG, SERÁ LANÇADO APENAS EM 2030

E veja bem, creio que a indústria caminha nesta direção inevitavelmente. O povo já está demonstrando o cansaço. Empresas como a Ubisoft estão lançando games como Assassin’s Creed Mirage. A Bungie se dar mal agora talvez seja o passo necessário para salvar empresas como a Naughty Dog e a Guerilla do mesmo destino, pois elas já avisaram que estão desenvolvendo live services.

Destiny 2, Delfos
Destiny 2: eu nem tenho tempo para explicar porque não tenho tempo para explicar.

Sabe o que rolou com a Rocksteady? Oito anos desenvolvendo um jogo secreto e daí aparecem com Kill the Justice League? Estamos no caminho de esperar 10 anos por um novo jogo da Naughty Dog e este jogo, lançado em 2030, ser The Last of Us Factions. Ninguém, nem os criativos da Naughty Dog, querem isso. Só quem quer é justamente a turma que paga para estes jogos existirem. E o voto deles vale muito, infelizmente.

PRÊMIO DA DAILY MISSION: 10 ALFREDOS DE OURO

Eu não quero esperar até 2030 para a indústria descobrir que a onda dos jogos de serviço já deu o que tinha que dar em 2020. E acredito que a Bungie se dar mal agora seja importante para que isso aconteça. Daí de fato acreditar que isso vai acontecer é outra história.

Racionalmente falando, acredito que a Sony vai assumir o controle da Bungie e eles ainda vão ficar insistindo neste modelo de negócios por um bom tempo. Espero que não até 2030, mas certamente por mais uns bons anos, em que ficaremos cada vez mais privados de bons games de alto orçamento porque todo mundo está preso fazendo essas porcarias.

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