Para seu oitavo disco de estúdio, o Foo Fighters apresentou uma proposta para lá de interessante. Gravar oito canções em oito cidades diferentes. Cada cidade com alguma importância para a cultura musical dos EUA, onde a banda pudesse absorver suas vibrações e até um pouco dos estilos musicais diferentes de cada uma.
Dave Grohl basearia as letras do álbum em cima do que vivenciasse e aprendesse em cada localidade. E para amarrar tudo isso, ainda lançaria como complemento/ferramenta promocional uma minissérie pela HBO, focando cada episódio numa das cidades e nos artistas locais e, ao final, apresentando a faixa gravada por lá.
A ideia sem dúvida é muito boa. O mesmo não pode ser dito de sua execução. Sonic Highways, o disco, acaba deixando transparecer muito pouco dessa proposta. Sucessor do ótimo Wasting Light, o mais coeso do grupo desde There Is Nothing Left to Lose, de 1999, e com esse conceito todo por trás, era de se esperar algo realmente tremendão. Ou, que ao menos levasse a banda em novas direções. Nada disso aconteceu.
Sonoramente, não há diferença alguma para seus outros discos. Toda a fórmula consagrada do Foo Fighters dá as caras do mesmo jeito de sempre. As guitarras pesadas com bons riffs, complementadas pela bateria de Taylor Hawkins e os vocais berrados de Grohl fazendo um Rock pesado, mas polido, bom tanto para tocar no rádio quanto em estádios ao redor do mundo.
O problema é que essa fórmula já dá sinais de cansaço, e não é de hoje. Wasting Light veio apontando uma grande melhora, mas parece ter sido mesmo um ponto fora da curva. Sonic Highways é apenas mais do mesmo, com bons momentos e outros bem menos inspirados.
Não estou dizendo que só porque foram gravar em Nashville, por exemplo, tinham de ter feito uma canção Country, mas seria legal se Congregation, a música registrada lá, tivesse pelo menos um pouco de influência do estilo. E olha que essa é até uma das mais legais do disco.
Ele começa muito bem, verdade seja dita. A primeira metade já abre a toda com o primeiro single e fácil a melhor música do disco, Something From Nothing, que vai aumentando de potência lentamente até virar aquela porrada sonora tão característica do grupo.
E segue muito bem na mesma toada, com The Feast and the Famine, a já citada Congregation e What Did I Do?/God as My Witness. Mas vai perdendo fôlego exponencialmente, principalmente nas quatro canções da segunda metade, que abre com Outside e segue com In the Clear. A decisão de deixar as duas baladas do disco, Subterranean e I Am a River para o final foi bem infeliz e só ressalta essa perda de potência, encerrando o trabalho num tom bem menos interessante do que havia começado.
Mais um exemplo de oportunidades perdidas é o fato de que todas as faixas contam com a participação especial de um artista local. E não faz absolutamente a menor diferença, ficando relegada a um curto solo de guitarra aqui, um backing vocal acolá.
O caso mais gritante disso é a faixa In the Clear, gravada em Nova Orleans e que conta com a presença da Preservation Hall Jazz Band. Sim, a canção conta com a participação de uma banda de Jazz inteira e se eu não tivesse lido no encarte e visto no episódio da minissérie televisiva, não teria acreditado. Estão tão enterrados na mixagem, que ficou simplesmente inaudível.
Acaba que as letras de Grohl são mesmo o único elemento realmente dentro do conceito, mas as referências que ele faz nos versos novamente só serão plenamente sacadas por quem assistir à minissérie. Assim, se eu não tivesse visto, não ia pescar o que ele está cantando e acharia as letras comuns.
Dessa forma, acaba rolando uma codependência entre disco e minissérie para que o álbum seja melhor apreciado, o que o torna uma obra falha, visto que nem todo mundo, mesmo gostando da banda, vai assistir ao produto complementar, assim como quem assistir à série não necessariamente vai ficar a fim de ouvir o disco.
Sonic Highways nasceu como um projeto bacana e de boas intenções, mas no fim das contas, acabou sendo só mais um típico disco do Foo Fighters. É bom, e o fato de ser curto, só oito músicas em 42 minutos, ajuda. Mas denota claros sinais de cansaço criativo que mesmo um bom conceito não foi capaz de aliviar.
Pelo contrário, o comodismo da banda acabou entregando pouco para uma proposta com potencial para render muito mais. Uma boa ideia desperdiçada. No fim das contas, as estradas sônicas do Foo Fighters acabaram por se revelar bem menos interessantes e mais limitadas do que se poderia imaginar.