Finalmente chegou a hora de inaugurar uma das seções que estava em planejamento há mais tempo aqui no DELFOS: as colunas. Esta será a minha coluna, que, ao menos por enquanto, não terá uma periodicidade definida, escreverei apenas quando tiver algo relevante a dizer. Seu objetivo consiste em pensamentos pessoais sobre os mais diversos temas que abrangem a nossa vida cotidiana, não necessariamente limitados às áreas normais que você está acostumado a ver aqui. E para começar, nada melhor do que abordar o tema fruto de grande parte das polêmicas que envolveram o DELFOS neste seu primeiro ano de existência (leia AQUI): o tal do jornalismo imparcial.
Vamos começar com um raciocínio muito simples. Em uma conversa entre amigos, até que ponto você é imparcial ao contar suas novidades? Se você chegar para alguém e disser: “Assisti Alexandre ontem.”, você está sendo completamente imparcial, pois está apenas relatando algo que aconteceu. Mas essa frase vai inevitavelmente gerar uma resposta do tipo: “É bom?” e, ao responder isso, você já estaria exercendo sua parcialidade.
“Uma conversa entre amigos é algo informal, jornalismo exige muito mais responsabilidade”, você diz. Claro, concordo completamente. E mesmo veículos que fazem textos informais, como o DELFOS, não estão livres dessa responsabilidade, já que comunicação é um grande poder e, como o amigo delfonauta já deve saber, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” (leia resenha de Homem-Aranha 2). O caso é, até que ponto ser imparcial não é simplesmente uma falta de honestidade?
Vamos analisar um caso recente muito conhecido, principalmente entre aqueles que curtem Heavy Metal: o assassinato de Dimebag Darrel. Se um veículo estampa a notícia da seguinte forma: “Dimebag Darrel é assassinado durante um show do Damageplan”, ele está passando a informação do que realmente aconteceu, sem apresentar opiniões claras. Agora se a notícia for assim: “Guitarrista de Heavy Metal é assassinado durante um show de sua banda”, o negócio já é completamente diferente. O foco não é mais o assassinato, mas o fato de que este ocorreu durante uma apresentação desse estilo do qual tanto gostamos. Mas de certa forma, ele está passando a verdade, somente a verdade e nada mais que a verdade. O fato é que existem muitas formas de manipular a verdade para atender aos seus interesses. Isso fica ainda mais complicado pelo fato de que a notícia não é apenas constituída de títulos. O jornalista responsável pela reportagem deverá desenvolver um texto sobre isso e, queira ou não, acabará apresentando seus valores e opiniões, mesmo que não perceba. Quanto mais longo o texto, maior a probabilidade de juízos de valor entrarem de fininho nele.
Ainda nesse assunto, é impossível não lembrar da forma como a Globo abordou a notícia, passando o guitarrista de vítima para quase um cúmplice. A matéria, que teve seu ápice no inflamado discurso de Arnaldo Jabor, não apresentou isso como um fato isolado, mas como algo corriqueiro, decorrente de toda a violência inerente a esse gênero musical e comentando inclusive que a paz e amor outrora sonhados pelos hippies deu lugar à pura violência.
Ora, nem precisamos voltar muito no tempo para encontrarmos exemplos de letras do bom Heavy Metal recente que não são assim tão diferentes da paz e amor de algumas décadas atrás. A música Fantasia, do Stratovarius, lançada em 2003, ostenta em seus versos: “Um dia, quando o amor conquistar tudo, a humanidade vai prevalecer, chega de ciúmes, chega de inveja e de enganação, o futuro é claro e glorioso, nós somos todos vitoriosos”. Onde está a violência nestes versos? Muito pelo contrário, eles passam uma mensagem de esperança e amor que chega a ser até inocente de tão utópica.
Nosso amigo Bruno Sanchez escreveu um texto em homenagem ao Dia do Rock de 2004, onde selecionamos algumas músicas que exemplificavam o que é “ser” Heavy Metal na nossa opinião. Foram tantas músicas com letras lindas e positivas que simplesmente tivemos uma grande dificuldade em selecionar apenas as cinco que ilustram a matéria.
Os dois últimos parágrafos demonstram que a informação que a Globo passou é errada. Isso é indiscutível. Todos os headbangers ficaram injuriados com a matéria, acusando a emissora de falta de profissionalismo e preconceito. Agora você me responde o que é mais provável, racionalmente falando: a Globo ser uma conspiração com o objetivo de eliminar o Heavy Metal do mundo ou os jornalistas que elaboraram a matéria, em sua ignorância, acharam que estavam passando a mais pura e simples informação?
Claro, se analisarmos como a “fama de mau” do Metal começou, com certeza chegaremos à conclusão de que existem interesses escondidos. Afinal, o Heavy Metal prega o inconformismo, a luta para um mundo mais justo, a não-alienação. E todos sabem que povo alienado é mais fácil de controlar. Tendo formado a opinião das pessoas, o monstro começa a ter vida própria, como no famoso livro de Mary Shelley. E aí voltamos ao caso Darrel.
Neste caso específico, sem querer desiludir os conspiracionistas (até porque eu também sou bastante paranóico), nós temos que admitir que a segunda opção é bem mais plausível. Os jornalistas confundiram sua opinião pessoal com informação, simplesmente por achar que a sua opinião ERA informação. Afinal, era tudo que eles conheciam do gênero. Se os jornalistas globais viessem a conhecer uma banda como o Stratovarius ou qualquer outra que fala de coisas positivas em suas letras, possivelmente os considerariam as exceções, quando nós, que temos mais conhecimento sobre o assunto, sabemos que as poucas que pregam a violência é que são as verdadeiras exceções. E é fato que quase todos que conhecem ou gostam de Heavy Metal foram introduzidos no meio por um conhecido (que às vezes pode até ser pai/mãe), pois caso contrário, a grande maioria de nós o consideraria um estilo violento. Ou seja, ninguém está livre da influência da mídia, por mais “independente” que você pense que seja.
E é nesse ponto que eu queria chegar. Na nossa vida, praticamente tudo é parcialidade. A comida que a gente escolhe para jantar, as garotas (os) que achamos bonitas (os), o tipo de música que gostamos, etc. E boa parte desses gostos foi colocada na nossa cabeça pela própria “mídia imparcial”. No caso de um veículo de comunicação, a própria escolha dos temas a serem abordados já denotam sua parcialidade. O fato de o DELFOS ser um site de entretenimento e cultura geral, revela muito daqueles que o compõe. A grande maioria que escreve/escreverá para nós, possivelmente não teria o mesmo prazer caso trabalhasse em um veículo de jornalismo policial, por exemplo.
Existe um motivo para a maior parte dos paulistanos optar por assinar a Folha ou o Estadão. Qual é esse motivo? O simples posicionamento do jornal. Seja na forma como os textos são escritos, nas matérias que abrangem e até mesmo em sua opção política. Quem já atuou na área sabe que os jornalistas de grandes veículos não têm liberdade total de escrita. Ou você não acharia estranho ver um texto falando bem do PT em um veículo de direita, por exemplo?
E isso tudo para não falar do jabá, que é algo que existe sim, e que é até estudado em faculdades e cursos de comunicação. Se você exercitar sua memória, vai perceber vários casos de contradições de opiniões em resenhas dos mesmos autores de determinadas revistas e meios. Cabe a você, então, decidir qual opinião deve ser seguida e qual deve ser descartada.
Ao contrário dos grandes veículos, e até da maior parte dos veículos pequenos, nossos colaboradores têm total e irrestrita liberdade de opinião, por mais polêmica que essa seja. Claro que um certo bom senso deve ser aplicado no que publicar, para não gerar problemas legais para nenhum dos envolvidos e para usar o nosso poder da comunicação de forma responsável e consciente. Também temos algumas pequenas regras que servem apenas para manter o nível do texto, como a proibição de palavrões e palavras vulgares, por exemplo. Mas tirando isso, qualquer colaborador tem liberdade de expressão total aqui. O DELFOS só cede o espaço.
Aí está o diferencial do DELFOS e um dos meus grandes orgulhos em relação a ele. E isso não vai mudar, por mais que eu tenha que entrar em tolas discussões com pessoas de opiniões diferentes que me chamam de amador, simplesmente por eu não compartilhar de suas opiniões. Enquanto alguns jornalistas se colocam no pedestal de “formador de opinião”, os delfianos preferem estar frente a frente com o delfonauta e tratá-lo como amigo, como alguém que hoje está lendo nossos textos, mas que amanhã pode ir cobrir um show com a gente. Ao invés de ficar fingindo nossa imparcialidade, nós assumimos nossas opiniões, apresentamos argumentos para tal e publicamos, doa a quem doer. Para algumas pessoas, isso pode ser amadorismo. Para nós, isso se chama honestidade.