Enrolados

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Não é incrível que a Disney, em sua tradição de adaptar contos de fadas, tenha deixado a Rapunzel intacta até sua quinquagésima animação? Pois é, eu também acho. Mas agora o estúdio do Mickey, em seu retorno às origens que começou com A Princesa e o Sapo, resolveu finalmente contar a história da princesa cabeluda (hum… princesas cabeludas com sapatinhos de cristal…). Mas talvez esse retorno às origens tenha sido levado muito a sério.

Rapunzel é uma princesa com cabelos mágicos que, justamente por causa de suas madeixas, foi raptada na infância por uma mulher que, como todas, sonhava em ser eternamente jovem e bonita. Ela cresceu presa em uma torre sem se tocar que estava presa, pois sua mãe (a raptora) dizia, com razão, que o mundo é um lugar triste e sombrio que destrói qualquer sinal de alegria.

Um belo dia, um ladrão bonitão e bonzinho aparece ali, e ela vê nele um guia em potencial e a chance de escapar, visitar as misteriosas luzes que brilham sempre no dia do seu aniversário e voltar antes que sua mãe sequer saiba que ela saiu.

Sabe qual é o principal problema de Enrolados? É igualzinho Aladdin. Vejamos: princesa infeliz e isolada da sociedade tem o sonho de conhecer o mundo lá fora e vê num ladrão bonitão e bonzinho sua chance para mudar de vida. Poxa, até o amiguinho animal e divertido está aqui (no Aladdin era o macaquinho, aqui é o camaleão).

E não é apenas uma recriação da mesma história, mas até mesmo o roteiro é o mesmo. Lembra em Aladdin, quando eles voam no tapete mágico, cantam uma música romântica e esse é o momento mais feliz e cuti-cuti do filme? Então, lembra que, depois disso, tudo dá errado em questão de segundos e toda a alegria termina?

Pois acontece exatamente a mesma coisa aqui, e exatamente depois do grande momento feliz e romântico. Mais previsível impossível e, cá entre nós, ninguém agüenta mais essa mania do cinema de ir sempre de um extremo a outro. Se você sabe quando a parte triste vai acontecer, ela perde em força, não ganha.

Uma outra coisa que a Disney volta a fazer aqui (imagino que já voltou em A Princesa e o Sapo, mas esse eu não vi) é, para desespero Cyrinal, colocar seus personagens para cantar nos momentos em que a emoção é muito grande para ser exposta em palavra falada.

Esse é um retorno bem-vindo, mas é fato que não tem nenhuma música aqui que esteja próxima daquelas que conhecemos de clássicos como Aladdin, A Pequena Sereia ou O Rei Leão. Duvido muito que as crianças que assistam isso hoje ainda vão cantar alguma dessas músicas 20 anos depois, como nós cantamos O Que Eu Quero Mais É Ser Rei. Acho sim é que, daqui a 20 anos, elas vão cantar é O Que Eu Quero Mais É Ser Rei! ^^

O curioso é que as músicas de Enrolados são compostas pelo tremendão Alan Menken, justamente o mesmo que compôs os clássicos de Aladdin, A Pequena Sereia e A Bela e a Fera. Fazer o quê? Deve estar na famosa crise dos 20 anos da música.

Só não dá para entender porque decidiram fazer Enrolados em CG? Se a ideia é dar um back to the roots geral, nada mais natural do que fazer na boa e velha animação desenhada. E ia ser legal ver uma animação desenhada em 3D, se é que isso é possível.

Apesar do ar genérico, ainda temos aqui traços da qualidade Disney, como o visual sensacional, boas piadas e um final tão fofo que, se tivesse bochechas, eu ia querer enchê-las de mordidas. Até vale a pena ver, mas está longe do que a casa do Mickey produziu um dia. De fato, hoje em dia ninguém faz animações melhores que a Pixar.

CURIOSIDADES:

– Dúvida minha: essa é a história da Rapunzel mesmo? Pelo que me lembrava, a original era uma princesa que morava em uma torre e era constantemente visitada por um caboclo que subia na torre pelos cabelos da moça. Vai ver essa história foi criada pelas vozes da minha cabeça…