Desventuras em Série

0

A criatividade no cinema vive uma época negra sem precedentes. Realmente não consigo me lembrar de qual foi o último filme “inédito” que assisti. Por inédito, me refiro a filmes que não sejam remakes, continuações ou baseados em livros, games, gibis ou qualquer outra mídia. Nada contra isso, especificamente, até porque alguns dos meus filmes recentes preferidos, como Homem-Aranha e Senhor dos Anéis são dessa leva, mas acho que o público da sétima arte carece de um representante digno da grandiosidade do cinema.

Mas se os filmes baseados em livros costumam se destacar pela qualidade, o mesmo não se pode dizer deste Desventuras em Série. Baseado em três livros da série homônima, de autoria de Lemony Snicket, Desventuras em Série conta a história dos irmãos Baudelaire que, ao perderem os pais em um incêndio, começam a ser perseguidos pelo terrível Conde Olaf (Jim Carrey) que, é claro, está de olho na fortuna dos pobres órfãos ricos.

Desventuras em Série inaugura um novo gênero, o terror infantil, ou seja, é um terror mais leve, mas suficientemente assustador para deixar criancinhas de qualquer idade com medo. Ou você não ficaria com medo se, onde quer que você fosse, encontrasse o Jim Carrey?

Claro que, por ser um filme que visa atingir as crianças, não poderiam deixar de fora a comédia. Como Jim Carrey já não é mais engraçado desde Debi & Lóide, aqui o humor acaba sendo representado pelo ótimo comediante Billy Connolly e por Timothy Spall, como o Senhor Poe, um dos personagens mais sem noção a invadir os cinemas nos últimos anos.

Visualmente, o filme é um espetáculo. Com belos cenários e ótimos efeitos especiais, enchemos os olhos com suas belas imagens à Tim Burton. Contudo, onde realmente conta, ou seja, na história, deixa muito a desejar.

Assim como em O Expresso Polar, o filme parece se arrastar até que alcance a duração normal de um longa-metragem. Simplesmente não existe profundidade suficiente na história. O tempo todo, vemos os garotos fugindo e Olaf indo atrás com um disfarce cada vez mais esdrúxulo, na melhor tradição Papa-Léguas. Isso faz com que o filme se torne extremamente cansativo depois de algum tempo. E o mais bizarro é que ele é baseado em TRÊS livros de mais ou menos 150 páginas cada um. Admito que não li os livros, mas será que também existe tão pouco conteúdo em sua versão literária?

Desventuras em Série é um filme que começa bem e vai decaindo com o tempo de projeção. Uma verdadeira metáfora não-intencional para a vida humana. Se não tiver nada melhor para fazer, assista pelo visual. O filme estréia esta sexta, 21 de janeiro.