O alcance da Turma da Mônica no Brasil é absurdo. Acredito que a maioria absoluta dos brasileiros teve nas HQs da turminha suas primeiras leituras por prazer. Trata-se de um verdadeiro patrimônio cultural nacional e, como tal, é incrível que tenha demorado 60 anos para ser feito um longa em live action. Felizmente, está na hora da nossa crítica Turma da Mônica – Laços.
PRÓLOGO
Provavelmente como você, e como a maioria dos brasileiros, eu comecei a folhear os gibis da Turma da Mônica antes mesmo de saber ler. Lê-los, aliás, era um dos incentivos para querer adquirir esta habilidade logo. Logo que aprendi a ler, minha mãe me deu uma assinatura dos gibis, e era motivo de alegria todo mês quando o pacote chegava. Só depois que já sabia ler bem, passei a colecionar os gibis do Asterix & Obelix e, no início da adolescência, conheci o mundo dos super-heróis. Foi quando comecei a acompanhar o Homem-Aranha. Mas Mônica, Cebolinha e seus amigos foram minha iniciação nas HQs.
E nem vou comparar com a Marvel e suas dezenas de filmes, mas ao assistir a Laços, pensava a toda hora nos filmes de Asterix. Ambas as turmas são importantíssimas na cultura pop de seu país de origem, e ganharam filmes feitos com grande orçamento e muito carinho. A dentucinha só demorou um pouco mais para chegar à telona, mas o carinho e capricho é visível em cada segundo da projeção.
CRÍTICA TURMA DA MÔNICA – LAÇOS
Você provavelmente já sabe isso, mas este filme é baseado na graphic novel de mesmo nome, cuja autoria é de Vitor & Lu Cafaggi. Tudo começa no bairro do Limoeiro, com o mais novo plano infalível do Cebolinha, que desta vez envolve o Floquinho. Você provavelmente sabe o resultado do plano.
Acontece que, na noite seguinte, o Homem do Saco rapta o Floquinho. Agora é hora da turminha se unir e explorar a região em busca do cachorrinho verde.
A primeira coisa que chama a atenção é o visual. Embora eu tenha algumas críticas que elaborarei mais tarde, a produção fez um excelente trabalho em adaptar o que não faria sentido no cinema, como o Cebolinha ter exatos cinco fios de cabelo.
O elenco principal faz um excelente trabalho na recriação de seus personagens, estando todos muito bem no papel. A cara de brava da Mônica, em especial, é impagável.
ALÉM DO PRINCIPAL
Tem também uma enorme quantidade de easter eggs. Com um pouco de atenção, é possível ver outros personagens das HQs, como Jeremias, Titi, Aninha, Xaveco, e até a Maria Cascuda. Eles não são desenvolvidos, estando aqui apenas como fanservice mesmo, mas é muito legal ver uma recriação humana de personagens cartunescos que foram tão importantes na nossa infância.
E, claro, tem o Louco, interpretado por Rodrigo Santoro. É um personagem difícil que poderia muito bem não estar no filme, e por isso mesmo era o que eu mais queria ver. É apenas uma cena, mas é marcante e engraçado. Espero que o personagem seja mais elaborado em futuros filmes do Mônicaverso – que, sim, está sendo planejado, conforme divulgado pelo diretor em entrevista coletiva após a sessão.
CRITICANDO
Adaptações são necessárias. Coisas como o Cebolinha ter mais cabelo do que no gibi não me incomodam porque esta simplesmente não é uma característica do personagem no cinema. Infelizmente, isso não pode ser dito de todas as caracterizações.
O Seu Cebola, por exemplo, tem apenas uma única característica nesta versão cinematográfica: ele se incomoda por ser careca. Só que ele não é careca. Ele tem uma cabeleira perfeitamente apropriada para um ser humano adulto.
É o mesmo caso que critiquei na cinebiografia do Elton John, por pegarem um galã para fazer um personagem que se identifica como feio e gordo durante o filme.
A própria Mônica é conhecida no gibi por ser baixinha, dentuça e gordinha. Ela é chamada dos três aqui no filme. Mas a atriz que faz a Mônica é a mais alta das quatro crianças, e isso não foi mascarado na filmagem. O resultado é uma cena crucial em que o Cebolinha a chama de baixinha e dentuça enquanto olha para cima nos olhos da amiga. Uma leve adaptação no roteiro resolveria isso: ele poderia chamá-la de gordinha e dentuça. Pronto. É curioso que um longa feito com tanto carinho deixe casos como este passarem.
EPÍLOGO
São picuinhas? São. Mas quebram a própria narrativa que está sendo criada. São coisas, por exemplo, que não acontecem nos filmes live action de Asterix (pelo menos não nos dois primeiros, que são os criados com mais carinho).
O lado bom é que essa é a crítica mais forte que faço para Laços.
Como um todo, colocaria Turma da Mônica – Laços, ao lado dos primeiros filmes de Asterix como as melhores versões em live action de personagens infantis. E algo que merece ser visto por absolutamente todos que já leram suas historinhas nos gibis.