A existência de Space Jam: Um Novo Legado é um mistério para mim. Por que fazer uma continuação para um filme de criança de 25 anos atrás? Especialmente para um que nem era assim tão querido. Convenhamos, Space Jam está muito longe de um Branca de Neve ou Cinderela em sua atemporalidade. Será que as crianças de hoje já ouviram falar de Space Jam e de Michael Jordan? Minha filhinha de três anos sabe quem é a Mulher-Maravilha, o Super Mario e até o Queen, mas acho que ela nunca nem ouviu falar de Pernalonga. Claro, a culpa pode ser minha. Afinal, eu mesmo não reconheceria o LeBron James se ele passasse do meu lado na rua. Mas enfim, esta é nossa crítica Space Jam: Um Novo Legado.
CRÍTICA SPACE JAM 2
No filme Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, o então Tocha Humana e posterior Capitão América ironiza um product placement do filme dizendo a frase: “O que tem de errado com um pouco de capitalismo?”. Pois, meu caro colega, se você achou a piada bonitinha, gostaria de saber sua opinião depois de assistir a Space Jam 2. Este é um filme em que, quando um personagem cai de um abismo e subiria a tradicional fumacinha, fica um buraco no chão com o logotipo da Nike. E não, isso não é um exagero. É literalmente uma cena do filme. Space Jam: Um Novo Legado é um comercial de duas horas. E, assim como aquele joguinho da Red Nose, não deveria ser cobrado. Afinal, o troço já foi exaustivamente monetizado antes mesmo de ficar pronto.
Quando não é uma propaganda de outras empresas, ele é um comercial do repertório da Warner. Mas isso até que tem um motivo para existir e gera cenas engraçadinhas. Por exemplo, quando descobre que tem que montar um time com personagens da Warner para salvar o filho, LeBron logo pensa em chamar o Superman, o King Kong e a Trinity. Coitado, mal sabe ele que vai ter que se virar com o Gaguinho e o Hortelino.
Aí pra mim é outra história. Apesar de também funcionar como propaganda para a produtora, isso brinca com a metalinguagem e tem uma razão para estar no roteiro. O logotipo da Nike e todas as outras propagandas do filme não. Mas o problema está justamente aí. No roteiro.
CRÍTICA SPACE JAM E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Space Jam: Um Novo Legado tem, sinceramente, um dos piores, mais óbvios e menos criativos roteiros que já vi. Se eu por acaso visse alguma notícia de que este foi o primeiro filme totalmente escrito por uma inteligência artificial, eu sinceramente acreditaria. A coisa é ridícula de tão formulaica. Saca só.
O LeBron James teve que ralar muito para jogar bem basquete. Daí ele exige que seus filhos ralem também. Um dos filhos, Dom, não mostra grande interesse no esporte, mas demonstra um enorme talento para criar videogames. Porém, LeBron acha que isso é uma distração, e não percebe que o potencial do filho está em outra área.
Daí uma inteligência artificial rapta o filho do basqueteiro e diz que só libera o muchacho depois de uma partida de basquete. LeBron então forma um time com os Looney Tunes, mas eles insistem em jogar do seu jeito, cheio de exageros e piadas. O protagonista insiste que basquete é coisa séria. Preciso continuar ou você já montou na sua cabeça o segundo e o terceiro ato? Se montou, não precisa mais assistir ao filme, pois tudo que se segue, inclusive a lição de moral, já pode ser deduzida por essa reles sinopse.
O desleixo no roteiro contrasta fortemente com o tremendo capricho dos animadores. É visível a paixão e o esforço que esses caras colocaram em desenhar e animar personagens como o Patolino, o Gaguinho e o Taz. Tanto em seu visual 2D como no 3D que você vê nas imagens dessa matéria, essa turminha nunca foi tão bonita e estilosa.
DUBLAGEM
Infelizmente, a dublagem brasileira muda totalmente as vozes conhecidas de todos esses personagens. E sim, sei que não dá para ter o mesmo dublador em personagens que aparecem em filmes e desenhos por décadas. Por outro lado, o James Earl Jones não participou de Vader Immortal, mas o Darth Vader fala com a mesma voz que tinha em Uma Nova Esperança. É só questão de pegar alguém que imite bem o original. E é um cuidado que suponho que a Warner (assim como a Disney, a Hanna Barbera, o Mauricio de Sousa e tantas outras produtoras com personagens antigos) costuma ter. Afinal, a voz do Mickey é a mesma desde 1928, e certamente já foi feita por várias pessoas diferentes. Porém, o Pernalonga de Space Jam 2, e todos os seus colegas, estão com vozes irreconhecíveis. O Pernalonga, aliás, parece o Salsicha do Scooby-Doo falando. É claro que sequer tentaram manter as vozes parecidas com as conhecidas.
Estou sendo bem negativo, eu sei, mas o filme é realmente muito fraco em vários aspectos. Só tem uma exceção, e essa é realmente legal: o jogo de basquete.
CRÍTICA SPACE JAM: E O JOGO DO SÉCULO?
Talvez pelo fato de que os animadores são muito melhores do que os roteiristas, é no jogo de basquete – quase totalmente animado – que o filme alça seus voos mais altos. Ver os desenhos agindo como desenhos, dando pulos altíssimos e fazendo cestas altamente estilosas é uma delícia. Como o jogo em questão responde por cerca de um terço do filme, eu até considerei aumentar a nota.
Mas daí vem uma lição de moral, e a animação caprichada dá espaço para uma mensagem gosmenta e modorrenta que já vimos centenas de vezes desde antes de o gênero Sessão da Tarde ganhar esse nome. Esse tipo de coisa pode até emocionar crianças que viram poucos filmes, mas do alto da minha grisalha idade, sinceramente não tenho mais saco para essa baboseira.
Eu gosto muito de animações. Acho que os Looney Tunes têm um potencial cômico enorme. Porém, para fazê-los brilhar, não é necessário apenas animadores talentosos. Não dá para fugir, uma boa comédia precisa de boas piadas. Os personagens podem fazer parte do esforço, mas sem um escritor decente, a coisa simplesmente não sai do lugar. Vira só mais uma propaganda. Mas como já diria o Tocha Humana: o que tem de errado com um pouco de capitalismo?