Estamos em Os Mercenários 4, e devo dizer que esta é uma das franquias mais irregulares de Hollywood. Eu lembro bem da expectativa quando a marca surgiu. Ainda fazíamos notícias aqui no DELFOS e fizemos dúzias delas, detalhando cada novo nome no elenco. Todo mundo esperava que o filme fosse uma comédia de ação estrelada pelos maiores nomes do gênero dos anos 80, e o marketing incentivava isso. Porém, quando o filme saiu, era sério e muito menos testosterona total do que a gente queria.
O segundo filme, por outro lado, entregou exatamente o esperado, com um humor autorreferencial que faz dele até hoje um dos filmes de ação mais divertidos já feitos. Daí o terceiro voltou a ficar bem mais sério. Esta crise de identidade talvez se deva ao fato que cada Os Mercenários teve um diretor diferente, o que se repete neste quarto episódio.
No final das contas, a única coisa que se manteve foi que eram filmes de ação estrelados pelos maiores nomes do passado do gênero. Porém, a narrativa, o humor e a própria ação eram totalmente diferentes a cada nova entrada. Agora, para Os Mercenários 4, nem isso se mantém. Nove anos depois do último lançamento, claramente agora a proposta é apresentar sangue novo, e mudar o elenco.
CRÍTICA OS MERCENÁRIOS 4
Antes de nos aprofundarmos na parte opinativa, êi-la! A tão esperada sinopse! Depois que uma missão dá errado, os Dispensáveis vão tentar resolver a meleca que causaram. Dentro de um navio. Hell, yeah!
O elenco traz alguns nomes do passado, como Stallone, Statham, Couture e Lundgren, mas muitos outros, como Terry Crews, Jet Li ou Arnold Schwarzenegger simplesmente não voltaram, e nem são citados. O foco é mesmo no estranho novo elenco, que inclui nomes bizarros e inesperados para a série, como o rapper 50 Cent e Megan Fox (a aclamada Nitara de Mortal Kombat 1).
Então Os Mercenários nunca teve um gênero definido, tirando que era de ação. E agora não tem nem mais o apelo de “os brucutus dos anos 80”. Afinal, Megan Fox nasceu na segunda metade dos anos 80 e certamente não é um brucutu. Mesmo entre mulheres, nomes que me pareceriam naturais neste elenco seriam Sigourney Weaver ou Michelle Rodriguez, mas elas nunca apareceram na série.
TESTOSTERONA TOTAL DIVERTIDO
Dada esta crise de identidade que nunca foi resolvida, Os Mercenários 4 acaba sendo apenas mais um filme de ação. A boa notícia é que é, sim, um bom filme de ação. Eu certamente me diverti mais com ele do que com o primeiro, mas convenhamos que a expectativa para a série em 2023 é bem diferente da de 2010.
Felizmente, é com prazer que digo que ele é tudo que um bom filme de ação deveria ser. Talvez não seja tão fanfarrão quanto o segundo, mas certamente é divertido, engraçado e exagerado. As cenas de ação são frequentes e variadas. Você certamente espera tiroteios, mas espera uma briga com tonfas? Certamente espera perseguição de veículos, mas espera que isso seja em motos equipadas com metralhadoras, E a bordo de um navio?
OS MERCENÁRIOS 4: EXPLODINDO DE FORMA CRIATIVA
Esta criatividade em explodir coisas de forma divertida em um cenário limitado – boa parte do filme acontece em um navio – é a principal qualidade do filme. Até porque em história ele é bem óbvio. Você provavelmente saberá quem é o vilão apenas olhando os nomes no elenco, mas sua identidade no filme só é revelada nos últimos minutos, como se fosse uma grande surpresa. Além disso, o roteiro segue à risca as formulinhas de “estamos passando a tocha para o sangue novo”, sem nenhuma surpresa neste aspecto.
Mas até aí, a gente já falou muitas vezes aqui: filmes de ação não precisam de uma boa história. Precisa de helicópteros explodindo. E isso, Mercenários 4 tem a rodo. Eu saí do cinema satisfeito com o que tinha visto, mas também um pouco triste ao sentir que a série está “terminando” (passando para um novo elenco, na verdade) sem nunca ter de fato alcançado seu imenso potencial.
