Eu sei que tenho tradição de falar bem de filmes que geral odeia. Mas eu sinceramente não achei Esquadrão Suicida tão odioso quanto a reputação que ele adquiriu após o lançamento. Então prepare-se, pois nossa crítica Aves de Rapina vem imediatamente após o sorriso.
CRÍTICA AVES DE RAPINA
Aves de Rapina tem o subtítulo Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa. E veja só, este seria um nome muito melhor para o filme. Isso porque o grupo Aves de Rapina, como conhecemos dos gibis, é aqui praticamente uma nota de rodapé. Esta é literalmente a história da emancipação da Arlequina.
O longa começa após Arlequina e o Coringa encerrarem seu relacionamento. Todo mundo conhecia a palhacinha como “a namorada do Coringa”, e isso a fazia usufruir de proteção e tolerância no mundo do crime que ela acaba de perder. Ou seja, agora ela está sendo caçada por todos os lados. Na esperança de sobreviver, ela acaba pegando um trabalho para o Máscara Negra (Ewan McGregor), para assim adquirir sua independência e fama entre os criminosos de Gotham.
Sim, temos outras Aves de Rapina, como a Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell, que parece que está tentando ter um nome complicado só para encher o saco dos jornalistas de cinema), mas elas são totalmente secundárias, inclusive com objetivos próprios.
HUMOR E GRANA
Uma coisa que me surpreendeu muito é como a Warner resolveu liberar um orçamento deste tamanho para a continuação de um filme tão odiado. Felizmente, eu diria que deu certo. Aves de Rapina é estiloso paca, muito divertido e, especialmente, deveras engraçado.
Ele segue bastante a linha do humor negro pela qual o Coringa e a Arlequina são normalmente conhecidos e, embora eu não seja muito fã desta faceta da comédia, neste caso conseguiu me arrancar muitas gargalhadas.
A direção de Cathy Yan também é excelente (e este é apenas o segundo longa dela), dando ao filme uma cara de quadrinhos que não víamos desde Sin City. Isso se reflete nas atuações, que são bem flamboiantes, do tipo que parece que os atores estavam se divertindo mais até do que o público.
A própria Arlequina de Margot Robbie merece destaque. Ela parece uma personagem de desenho animado, daqueles antigos bem sacanas, pré-politicamente correto (pense em Pica Pau). E isso funciona muito bem para deixar o humor negro do filme, digamos, menos venenoso e mais divertido.
CADÊ A MÁSCARA?
Algumas coisas me incomodaram, como o fato de a história em si ser bem sem novidades. Isso pode acabar sendo abafado pelo alto estímulo visual e as coreografias absurdas, mas é algo que deve incomodar quem gosta de filmes de ação com boas histórias, por mais raras que sejam estas pessoas.
Também é bastante estranho quando, no final do filme, uma certa personagem demonstra ter superpoderes, algo que não tinha sido elaborado em nenhum momento antes disso. Sim, a gente sabe que o Superman existe neste universo, mas este momento é tão estranho como se o Coringa saísse voando em O Cavaleiro das Trevas.
Outro problema que tenho, e este é mais com Hollywood como um todo do que apenas com este filme, é a relutância que atores têm em usar máscaras. Neste caso, o Ewan McGregor faz um personagem famoso pela máscara – e de nome Máscara Negra – mas só usa a máscara em questão em menos de cinco minutos do filme.
Como disse, este é um problema antigo, que vem desde o primeiro filme do Homem-Aranha de Sam Raimi (lembra aquela cena em que o herói e o Duende Verde tiram as máscaras para um téte-a-téte sem motivo nenhum?) e se arrasta para todos os Vingadores e Ligas da Justiça. Sinceramente, não sei se isso vem de insegurança dos atores, que têm medo da ausência de fama que vem junto com um trabalho mascarado; ou se é coisa de produtor, que quer fazer com que os milhões pagos para os atores tenham retorno em star power. Talvez seja uma combinação dos dois. Mas considero este um problema grave nestes filmes de heróis mascarados que dominam Hollywood hoje em dia.
INTERLÚDIO: Por isso mesmo vale destacar o trabalho de atores que detonaram mesmo em papéis totalmente mascarados, como Hugo Weaving em V de Vingança.
No final das contas, eu me diverti muito mais com Aves de Rapina do que esperava. Imagino que você não tenha curtido o Esquadrão Suicida. A boa notícia é que este é totalmente independente. A única relação com o anterior é a Arlequina da Margot Robbie, que provavelmente era a melhor coisa do filme original. Se você curte filmes de ação com bastante humor, você é meu amigo. E provavelmente vai curtir Aves de Rapina.