Se você lê o DELFOS há algum tempo, deve saber do meu apreço pelas aventuras de Asterix & Obelix. Eu simplesmente considero os gibis de René Goscinny e Albert Uderzo o melhor entretenimento infantil que existe. Sim, mais até do que Disney ou Turma da Mônica. E olha que eu também gosto muito destes.
Assim, foi com grande prazer e surpresa que recebi, algumas semanas atrás, um release dizendo que o novo desenho, Asterix e o Segredo da Poção Mágica, estrearia no Brasil em 19 de setembro. Na real, o longa saiu na França em 2018, mas admito que eu não estava sabendo. Assim, ficar sabendo que ele vai passar nos cinemas poucas semanas depois de descobrir sua existência eliminou toda aquela ansiedade que nerds costumam ter enquanto esperam seus personagens preferidos serem levados para a tela grande.
CRÍTICA ASTERIX E O SEGREDO DA POÇÃO MÁGICA
Apesar de serem originalmente personagens de quadrinhos, os gauleses irredutíveis não são estranhos ao cinema. Há vários desenhos e filmes em live action que são, em maioria, excelentes. Asterix e a Poção Mágica traz de volta os mesmos criadores do ótimo desenho anterior, Asterix e o Domínio dos Deuses. E, como uma deliciosa surpresa, traz também o retorno do ator Cristian Clavier, que interpretou Asterix nos dois primeiros filmes em live-action da trupe, e que aqui repete o papel.
É uma pena que Gerard Depardieu não tenha voltado como Obelix, uma vez que sua interpretação como o gordinho marrento de coração de ouro está, para mim, ao lado de J.K. Simmons como o J. Jonah Jameson entre as grandes adaptações de gibis para carne e osso.
Outra curiosidade aqui é que, salvo engano, este é o primeiro filme/desenho de Asterix a contar uma história original (ou seja, sem origem nas HQs) desde o live action Asterix e Obelix Contra César, de 1999.
MAS QUE HISTÓRIA É ESSA?
Aqui o druida Panoramix (discutivelmente o verdadeiro protagonista desta história – olha só o tamanho dele no pôster) começa a se deparar com sua idade avançada. Assim, ele resolve revirar a Gália em busca de um druida jovem e talentoso a quem possa ensinar O Segredo da Poção Mágica, e eventualmente substituí-lo na aldeia dos irredutíveis.
Assim, ele sai em uma viagem com os sempre fiéis Asterix, Obelix e Ideiafix, além da nova personagem Pectine; para visitar outras aldeias gaulesas.
Isso é a desculpa para aquela metralhadora de piadas que torna os personagens tão marcantes. Digno da obra que veio antes, Asterix e o Segredo da Poção Mágica tem uma densidade de gargalhadas por minuto que é realmente difícil vermos no cinema atualmente. Sem exagerar, há cenas por aqui que chegaram a me tirar lágrimas de tanto rir. E o roteiro ser tão engraçado mesmo criando piadas novas, e não simplesmente adaptando as criadas pelo René Goscinny décadas atrás, é digno de nota e de todos os meus elogios.
Assim como O Domínio dos Deuses, o visual segue à risca aquele criado pelo tremendão Albert Uderzo nos gibis. Eu considero Uderzo um dos grandes ilustradores de quadrinhos, com um estilo que é ao mesmo tempo muito bonitinho e deveras engraçado. Este filme respeita isso. Embora seja em CG, até mesmo os novos personagens, como Pectine, têm traços que parecem desenhados por Uderzo.
EM BUSCA DE AVENTURA
Obviamente, como todas as histórias de Asterix, O Segredo da Poção Mágica não é apenas uma comédia, mas uma comédia de aventura. Assim, é claro que há um vilão, e que os sempre presentes romanos têm suas (excelentes e hilárias) cenas atacando a aldeia.
Tem até um final com influências de tokusatsu que eu imagino que pode incomodar os mais puristas. Particularmente, eu gostei, e acho que o filme fez por merecer esta inclusão no desenvolvimento do roteiro. Além disso, o Asterix do cinema sempre teve mais influência pop do que os quadrinhos, que faziam humor colocando a cultura francesa tradicional em contato com culturas estrangeiras.
Além disso, assim como no recente filme da Turma da Mônica, e mesmo como nos longas anteriores de Asterix, até as novas características parecem ter sido colocadas com absoluta reverência e respeito aos originais. Isso é algo que não podemos dizer sempre dos filmes de super-heróis, por exemplo.
As histórias do Asterix do cinema, mesmo quando são novas, têm, até o momento, o mesmo clima e a diversão do herói nos gibis. É batata que se você gosta de um, vai gostar do outro. E Asterix e o Segredo da Poção Mágica é uma adaptação excelente, respeitosa e muito engraçada.