Crise de Identidade

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Finalmente Crise de Identidade teve sua publicação concluída no Brasil. A saga, que prometia mudar o modo como víamos os heróis da DC e servir de estopim para mudanças ainda maiores no futuro já pode ser analisada como um todo. O saldo é positivo, mas achei que ficou aquém do esperado, dado tanto falatório em torno dela.

Pois bem, o burburinho aconteceu quando foi revelado que a série começaria com um assassinato que chocaria a comunidade super-heróica. Logo pensei que um dos supers iria esticar as canelas. Ledo engano. O personagem que bate as botas é um coadjuvante de quinto escalão que só os muito fãs da DC conhecem. Trata-se de um familiar de um herói.

E este é o mote da série. Alguém que conhece as identidades secretas dos uniformizados passa a atacar e a ameaçar os seus entes queridos. Os heróis, assustados, passam a bater cabeça numa série de decisões precipitadas e errôneas enquanto tentam descobrir quem é o malfeitor.

Com as emoções à flor da pele, eles finalmente mostram as imperfeições de seu lado humano. Sentem medo e preocupação por seus entes queridos e, por conta disso, tomam atitudes duvidosas e até mudam a dinâmica do relacionamento entre eles.

No meio de tudo isso, um segredo sujo do passado vem à tona, para acabar com a inocência destes personagens. Um dos grandes bate-bocas entre fãs de Marvel e DC é que o universo Marvel sempre foi mais realista, priorizando o lado humano e sentimental de seus personagens, enquanto a DC sempre foi vista como mais fantasiosa, onde o uniforme era mais importante do que as pessoas que os vestiam. Crise veio para acabar com essa discussão e deixar o universo DC tão ou mais voltado para o lado pessoal e mais realista do que os heróis Marvel.

Méritos do escritor Brad Meltzer, romancista famoso nos EUA, mas ainda pouco conhecido aqui – só dois de seus livros foram publicados no país até agora: Os Milionários (legal, mas nada de mais) e O Jogo. Aliás, Meltzer chegou a afirmar que só se tornou romancista porque imaginou que seria mais fácil de abrir as portas para entrar no mundo dos quadrinhos. Seu primeiro trabalho na área foi preenchendo o lugar deixado por Kevin Smith (sim, o diretor de Menina dos Olhos) no título Green Arrow (a revista do Arqueiro Verde). Com o arco A Busca, publicado aqui em DC Especial #1, Meltzer focou a trama no lado sentimental dos personagens dando uma prévia do que faria a seguir em seu próximo projeto, a Crise de Identidade.

Pois Brad tem um bom futuro no campo dos quadrinhos. Apesar da tal primeira morte ser deveras frustrante, sua condução da história nunca perde o ritmo. Ele consegue cuidar de uma trama cheia de personagens sem nunca deixá-la confusa ou empolada. Além disso, cria diálogos e narrações em off primorosos e interações entre os heróis nunca antes vistas. Também consegue manter a aura de mistério da história durante todas as sete edições da mini, mantendo o interesse do leitor e deixando-o roendo as unhas até o mês seguinte (sério, uma série destas devia ser quinzenal) graças aos cliffhangers no final de cada número. Mas nem tudo são flores e Brad comete um único grande pecado, do qual você só vai saber se ler esta resenha até o final.

Voltando à história, após a primeira morte é revelado que, após o vilão Dr. Luz ter cometido um ato aterrador, durante anos um grupo de heróis vinha apagando as memórias dos malfeitores que porventura descobrissem as identidades secretas deles. O próprio Dr. Luz sofreu uma espécie de lobotomia mágica nas mãos da feiticeira Zatanna, tornando-se um verdadeiro pé-de-chinelo. A partir daí há uma grande discussão sobre ética super-heróica e até onde é preciso ir para proteger aqueles que se ama e qual o verdadeiro peso de se usar uma máscara.

Entre os grandes momentos da série estão a surra que vários membros e ex-membros da Liga da Justiça levaram do Exterminador sozinho (eu adoro quando tremendões tomam um pau de algum sujeito subestimado) e a revelação de outro segredo que pode acabar para sempre com a relação amistosa entre os heróis. Pois é, há muita sujeira embaixo do tapete da Liga da Justiça.

Há ainda mais duas mortes: um super-herói (bem conhecido, embora não seja um dos grandes. Mas eu não dou nem três meses para ele voltar) e outro familiar de um dos justiceiros mascarados. Devo admitir que essa última me pegou de surpresa, pois trata-se de um parente de um personagem que eu gosto muito. Não vou revelar os nomes dos presuntos para não estragar a surpresa de quem não leu, mas para quem quiser saber quem é este último falecido que me deixou chocado, é só dar uma olhada na capa da quinta edição, que entrega de bandeja a informação.

Bom, você ainda quer saber qual o grande pecado de Brad Meltzer? Pois muito bem: é a resolução da história, a identidade do assassino. Não dá para acreditar que tal pessoa conseguiu enganar por tanto tempo os seres mais poderosos do planeta, entre eles ao menos dois dos maiores detetives do mundo, o Homem-Elástico e o Batman.

E o motivo dos assassinatos é ainda mais imbecil. Sério, a sétima edição, onde tudo se resolve, parece um capítulo final de novela das seis. Se essa pessoa conseguiu deixar todos os heróis DC mais perdidos que cego em tiroteio, então um vilão de verdade, de posse das mesmas informações, simplesmente aniquilaria todos eles fácil, fácil! Totalmente inverossímil.

Devido ao final de novelão mexicano, a série perdeu vários Alfredinhos. Outro ponto negativo é a arte extremamente irregular de Rags Morales. Seus desenhos vão do excepcional (toda a seqüência do Dr. Luz no satélite da Liga) ao ridículo (o cara simplesmente não sabe desenhar o Super-Homem, que mais parece um ogro desproporcional em relação aos outros personagens) em poucas páginas. Um acontecimento desse porte merecia um desenhista melhor, ou ao menos mais constante na qualidade. Bem, pelo menos ele é melhor do que o Michael Turner, responsável pelas capas. Repare na capa do número 1, o mané nem sabe desenhar o chapéu do Arqueiro Verde!

Defeitos à parte, Crise de Identidade ainda possui mais prós do que contras. É uma série prazerosa de se ler. Daquelas que você fica o mês inteiro esperando e quando o novo número chega, você o detona em 10 minutos. De quebra, também terá repercussões futuras, pois muitas coisas ficaram em aberto. Assim, é nada menos que obrigatória para todos os fãs da DC.

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Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
crise-de-identidadePaís: EUA<br> Ano: 2005/2006<br> Autor: Brad Meltzer (roteiro), Rags Morales (desenho) e Michael Bair (arte-final).<br> Editora: Panini<br>