Dante’s Inferno

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Vamos começar pelo óbvio. Dante’s Inferno se parece MUITO com God of War. Isso faz dele um jogo ruim? Não, muito pelo contrário. Dante’s Inferno é um ótimo game hack n’ slash, mas peca pela falta de originalidade e, como na epopéia espartana, não mantém a mesma pintudice do começo ao fim.

GOD OF HELL

Ok, God of War fez escola no gênero, vendeu horrores e tornou-se referência. Mas a cartilha da Sony é seguida pela EA/Visceral de uma maneira tão igual que constrangedoramente beira o plágio em vários aspectos.

Vejamos: Protagonista anti-herói atormentado por seu passado? Confere. Arma fodona que tem mais utilidades que uma faca Ginsu 2000? Confere. Câmera safada, que geralmente te dá uma boa visão, mas esconde passagens e itens escondidos? Confere. E isso só para citar o básico…

Você pode achar que é implicância minha, mas não é. Após jogar Dante’s Inferno por 15 minutos, você perceberá quão igual ao clássico da Sony ele é. Tanto é que um amigo meu, não tão bem informado quanto você, delfonauta, chegou na minha casa, me viu jogando e perguntou “Caraca, já saiu o terceiro God of War?”

Nem vou mencionar o fato de que eu estava jogando no XBox 360 para não ficar mais feio para ele. =D 

Mas, este não é um daqueles games que você olha e pensa “putz, que cópia mais tosca”. Ele é uma boa cópia, mas perde pontos justamente por isso: apenas copia, sem acrescentar muitas novidades ao gênero atualmente dominado pelo Espartano.

HISTÓRIA

Vamos aos prós: a história é interessante. Nada extraordinário (e com significativos exageros em comparação ao poema de onde foi tirada), mas legal o bastante para te fazer querer saber como ela termina.

Você já deve saber do que se trata, então vou apenas resumir: Dante vai aos confins do Inferno para resgatar a alma de sua amada Beatrice. Como e porque ela foi parar lá, você terá que jogar para descobrir! ,-)

Aliás, partes da história são contadas por meio de belíssimas CG’s, outras partes são por desenho animado. Eu acho que as cenas em desenho perdem um pouco do “impacto”, mas ainda assim elas são legais. E, tanto nos desenhos quanto nas CG’s, sempre tem uma moçoila (geralmente a própria Beatrice) pagando peitinho ou algo do tipo! =D

ENTRE O CÉU E O INFERNO

A cruz que Dante carrega também dá uma inovada. Além de servir como arma de longo alcance, ela é usada para absolver as almas atormentadas que você encontrará aos montes pelo caminho. Seus ataques podem ser integrados aos combos com a foice, o que é bem legal.

O que é bacana também é que em alguns momentos é possível usar umas bestas gigantes como montaria. Mas, infelizmente, você só fica com elas tempo o suficiente para elas cumprirem seu papel (abrir uma porta gigante, ou empurrar algo muito pesado). Mesmo assim, é uma adição bem-vinda.

Mas, o que realmente se destaca positivamente em Dante’s Inferno é o sistema de evolução do personagem. Diferente de God of War, em que se evolui basicamente suas armas e magias, aqui temos duas maneiras completamente distintas de melhorar seu personagem.

A maneira Unholy (representada por um ramo vermelho) basicamente lhe garante novos ataques com a foice (que você deve saber, foi tirada da própria Morte) e fortalece suas magias ofensivas. E o melhor é que praticamente todos os novos ataques são facilmente incorporados aos combos básicos, gerando seqüências devastadoras.

O lado Holy (ramo azul), melhora os ataques com a cruz e reforça (ou adquire) magias defensivas. Apesar de não ter tantas variações, os ataques com o crucifixo salvarão constantemente a sua pele (especialmente contra os bichinhos voadores chatos, que ficam atirando de longe).

A evolução de cada ramo é independente (condenar almas evolui o ramo vermelho, absolve-las evolui o azul), e ambos possuem sete níveis. Mas as almas (que são o dinheiro do jogo) que você usa para comprar os upgrades de ambos os lados são as mesmas. Ou seja, é preciso que haja certa estratégia por parte do jogador para balancear as habilidades de Dante.

Este mecanismo também adiciona certo fator replay ao jogo. Ao chegar ao final (em aproximadamente oito horas), eu terminei com o lado Unholy em level seis e cerca de 80% dos upgrades comprados. No lado Holy, estagnei no level cinco, com mais ou menos 65% de habilidades adquiridas. Logo, eu terei de começar o jogo novamente se quiser deixar meu guerreiro tremendão. Para facilitar nossa vida, existe o Ressurrection Mode que permite começar um novo jogo mantendo todos os status e habilidades previamente adquiridos.

GRÁFICOS E JOGABILIDADE

Voltando aos prós, os gráficos de Dante’s Inferno são muito bons. A paleta de cores é meio restrita, geralmente mantendo tons de laranja, marrom e cinza. Mas afinal, estamos no Inferno, então não dá para esperar nada muito colorido. Alguns dos cenários (especialmente no início do game) são bem inspirados, com boas texturas, e dão uma roupagem interessante ao que é descrito no poema.

Por exemplo: no círculo da Luxúria, as colunas, portas e elementos do cenário têm uma aparência sutilmente fálica. Não, não é a sua mente pervertida em ação, as pirocas e vaginas insinuações sexuais realmente estão em todo canto. Não por coincidência, neste círculo você encontra uma das personalidades mais vagabundas polêmicas da história mundial.

No círculo seguinte, o da Gula, tudo é nojentamente orgânico, com línguas, dentes, intestinos e outras coisas gosmentas. Já na área reservada à Ganância, gárgulas humanóides vomitam ouro líquido incandescente. Um deslumbre! Infelizmente, este capricho não agüenta até o final do jogo. Mas sobre isso eu falo já, já.

As animações dos personagens também são boas, com movimentos fluidos e naturais. Os golpes de Dante como os de um certo espartano são visualmente magníficos, com rodopios e firulas que culminam em carnificinas acrobaticamente gloriosas. Os inimigos em geral também apresentam boa movimentação e visual.

A jogabilidade, por ser totalmente chupada baseada na de God of War, é sólida e extremamente funcional. Os combos saem com facilidade, as esquivas são rápidas e eficazes, e a utilização de magias é intuitiva e eficiente. Há também aqueles momentos tipo “aperte o botão certo na hora certa”, que resultam em ações específicas geralmente sagazes (alguém falou em God of War?). =D

SOM

Por fim, mas não menos importante, o som de Dante’s Inferno é muito bom. A trilha sonora é pomposa e épica como deve ser, com orquestras, corais e tudo o mais. Os efeitos sonoros e gritos cumprem muito bem o seu papel (destaque para os sons da cruz e para o choro dos bebês não batizados, que é sinistro). Alguns ambientes cavernosos produzem ecos que contribuem lindamente com a atmosfera. A dublagem também é competente, embora eu ache que para o Dante ter a sagacidade que deveria, o Gerard Butler teria sido uma escolha mais feliz (mas isso remeteria àquele outro espartano, manja?).

CONDENANDO AO INFERNO

Se fosse feito só de prós, o jogo seria ótimo. Infelizmente, chegamos agora aos contras: o primeiro, e mais evidente, é a falta de originalidade em relação ao game da Sony. Se você é uma das três pessoas do mundo que sequer ouviu falar em God of War, vai achar este jogo maravilhoso. Mas, para quem já jogou o afamado concorrente, é impossível não perceber as enormes semelhanças.

Elas são tantas que, hipoteticamente falando, se um dia as empresas ficarem amiguinhas, é bem provável que Kratos seja um personagem destravável em Dante’s Inferno e vice-versa. Um multiplayer com os dois brucutus ficaria deveras tremendão, aliás! E não duvide disso, caro delfonauta, veja só o Sonic e o Mario. Há uns 15 anos, imaginá-los juntos era algo absurdo! =D

Previsões à parte, praticamente tudo o que a Sony fez bem, a EA/Visceral Games copiou, especialmente na jogabilidade. O chavão “nada se cria, tudo se copia” é levado ao pé da letra neste caso.

Outro ponto negativo é a absolvição das almas. Se o implemento do crucifixo foi uma boa sacada, sua utilização nem sempre é tão boa. Há dois casos: nos inimigos comuns, ao resolver absolvê-los, você deve fazer um button mashing xarope, que quebra um pouco a dinâmica das batalhas.

No caso das almas atormentadas, o caso é ainda mais grave: ao optar por liberá-las de seus pecados, o jogo vira uma espécie de Guitar Cross Hero. Uma enorme cruz aparece na sua tela, cada uma de suas pontas com um botão correspondente. Os “pecados” vão chegando na forma de Dragon Balls orbes, e devem ser eliminados pressionando-se o botão certo no momento certo. Ao final de 40 longos segundos, o número de pecados absolvidos é multiplicado e convertido em almas para o seu “bolso”. Lucrativo, mas chato depois de um tempo.

Fica a dica: o melhor mesmo é achar todas as pedras da Beatrice’s Cross, aí você ganha um “auto absolve” que te poupa trabalho! ,-)

Por conta destes contratempos, o mais rápido (e true) modo de dar cabo das almas é mesmo ceifando-as com um passaporte à danação eterna. Apenas um golpe indolor e pronto! Nada de Cross Hero, nada de button mashing (este último só em alguns casos). O problema disso é que aí você só evolui no quesito Unholy e seu personagem fica mal balanceado, conforme eu já expliquei ali em cima.

E por falar em button mashing, Dante’s Inferno também herdou as manias chatas de God of War para abrir portas e baús (que aqui são fontes). Aperte um botão para o personagem realizar a ação (abrir a porta/quebrar a fonte) e então pressione outro botão repetidamente até que a mesma se abra/quebre.

Novamente, não é implicância minha. Até porque, geralmente não se acha apenas uma fonte, mas três ou quatro juntas (uma de life, uma de mana, uma ou duas de almas). Então este pequeno procedimento para quebrá-las torna-se meio irritante.

Lá pelo meio do jogo, você encontra uma relíquia, Rage of Farinata, que otimiza o trabalho (quebrando as fontes na hora), mas até lá seu dedo já vai estar doendo. E acredite, você vai gastar um slot (dos até quatro disponíveis) que poderia conter uma relíquia mais útil, para manter esta sempre equipada. =)

RELÍQUIAS, PUZZLES E OUTROS

E já que falamos em relíquias, são 31 delas que você pode catar no decorrer da história, mas só dez são realmente úteis. Ah, e tem as 30 moedas de Judas para você achar também. Eu fechei o jogo com 26 relíquias e 25 moedas, em parte por conta da câmera sacana que propositalmente não deixa a gente ver alguns pontos estratégicos do cenário. =P

Para concluir (ou não) o quesito “legado de Gof of War”, Dante’s Inferno também possui aqueles puzzles que o Corrales adora, com arrastação de caixas, rotação de manivelas, e tal… Enfim… Só pra constar, mesmo.

Outra coisa que compromete a “imersão” é a reciclagem de inimigos. Ok, todo jogo desde o Atari apresenta os famigerados capangas genéricos, mas aqui o caso é mais grave: você enfrentar mulheres seminuas no setor da Luxúria é bem legal, mas encontrá-las de novo e de novo nos demais círculos quebra um pouco o clima. O mesmo vale para os Glutões (que vomitam e fazem o número dois em você =D): não faz sentido encontrá-los fora do círculo da Gula. Isto se aplica para os demais inimigos “contextuais” que se repetem fora do seu lugar de origem.

Para finalizar, o que realmente ofusca o jogo é a significativa perda de gás após certo ponto. Ambos os God of War também sofrem um pouco disso (ou alguém discorda que as batalhas contra a Hidra e o Colosso de Rhodes são os momentos mais memoráveis?), mas aqui isso não só é mais perceptível, como também é mais frustrante.

É como se a equipe de produção tivesse exaurido todas as boas idéias lá no começo, e o restante do game (se dividirmos em três, principalmente a terceira parte) se arrasta com uma sucessão de desafios genéricos e sem criatividade. Não sei se foi a pressa para lançá-lo antes de God of War III ou algo assim, mas é fato que a grandiosidade e a criatividade gráfica demonstrada no início são perdidas após algumas horas.

CHEFES

CUIDADO! SPOILERS MALVADOS ABAIXO!

Então, siga minha dica, delfonauta: aproveite bastante a batalha contra o Rei Minos (aquele bichão cego), ainda no Limbo (comecinho do jogo), pois este é o boss mais pintudo que você vai enfrentar. O desfecho (no já mencionado esquema de “aperte os botões certos na hora certa para desencadear uma ação tremendona”), já entra para os anais da história dos games como um dos momentos mais grotescamente gloriosos dos últimos tempos. Não vou entrar em detalhes, mas envolve uma língua comprida, uma roda de espinhos e uma manivela. =D

Depois dele, o boss mais legalzinho que você enfrenta é o Cerberus (que não se parece em nada com o clássico cão de três cabeças), no terceiro círculo. Dali em diante, os chefes são poucos, e não apresentam nada de extraordinário.

A coisa desanda de vez lá pelo penúltimo círculo, Malebolge, lar dos fraudulentos, que se ramifica em dez subníveis repetitivos e desnecessários. E o pior: eles se apresentam na forma de pequenos desafios que deveriam ser, sei lá, mini games destraváveis (como o Gates of Hell, que é o equivalente às Challenges of the Gods/Titans do Kratos), ou algo assim. Esta parte podia ser qualquer coisa, menos uma parte obrigatória para a continuidade do jogo.

São dez catacumbas escuras praticamente iguais, com dez desafios maçantes e nada criativos (e alguns frustrantemente difíceis). Exemplo: mate todos os inimigos sem usar magia. Ou, mantenha-se no ar por “X” segundos. Ou ainda (este é o mais lazarento), mate todos os inimigos sem interromper a contagem de hits do seu combo.

E quando você passa deste martírio, sai em um cenário glacial (?!?) repleto de gigantes. O seu guia espiritual fica meia hora falando deles, então você até pensa “opa, depois dessa parte chata, virão uns chefes tremendões!”. Que nada! Você só os vê ao fundo, e tudo o que eles fazem é assoprar para te derrubar de cordas/plataformas (isso lhe soa familiar? Ah é, em God of War II tem um Titã que faz isso…), e de repente você já está cara a cara com o último chefe. Um trecho com tremendo potencial desperdiçado, esse dos gigantes! =P

A batalha final com o chifrudo em pessoa também deixa um pouco a desejar. Ela é mais chata que difícil, e se você matou o Vizir em Prince of Persia: The Two Trones, no PS2, vai perceber que a mecânica é a mesma.

VOCÊ SOBREVIVEU AOS SPOILERS

CONCLUSÃO

Dante’s Inferno diverte, mas não inova. Traz elementos já conhecidos (e aprovados) dos gamers a um jogo que é bom, mas que perde seu brilho por se contentar em ficar meramente à sombra do Fantasma de Esparta. E pior que isso, seu principal defeito é não ter fôlego para manter o nível da jogatina até o final.

Vai nos satisfazer, mas só até o Kratos chegar com os dois pés no peito do Dante no terceiro God of War daqui a pouco mais de uma semana. Obrigatório mesmo só para quem tem Xbox 360 e não vai poder jogar God of War III tão cedo. Afinal, quem não tem Kratos, caça com Dante. =D