A essa altura o delfonauta dedicado já sabe tudo que envolveu esta entrevista, então vamos direto para ela que, aliás, não começou bem. Antes de entrar na sala, Luc Besson, que veio ao Brasil para divulgar Arthur e os Minimoys, exigiu que todas as câmeras fossem desligadas, gerando reclamações da galera da televisão, dizendo que então era melhor nem terem vindo. Aparentemente, nem as fotográficas poderiam ficar ligadas. Besson, esta foi uma péssima primeira impressão…
A segunda impressão também foi negativa, já que a entrevista seria em francês. Pô, considerando que boa parte da filmografia do cara é em inglês, será que ele não aprendeu essa língua? A primeira coisa que o diretor falou, meio que para apaziguar os TVzildos irados foi que depois ele poderia dar uma entrevista específica para eles, assim poderiam filmar. Tanto melhor para eles, eu diria, mas não o suficiente para reverter as duas primeiras impressões negativas.
A primeira coisa que a galera queria saber era se Besson faria os outros dois filmes para completar a “trilogia Minimoy”, ao que ele respondeu que, se o filme fizer sucesso, fará sim. Mas peraí, há alguns anos, o cineasta declarou que faria apenas dez filmes e depois penduraria as chuteiras. E aí? “Sim, este é meu décimo filme e deve ser o último. Só voltarei a dirigir se realmente tiver algo a dizer. E para completar a trilogia dos Minimoys, é claro, pois esses não são trabalho, são prazer. É como tirar férias duas vezes no mesmo lugar”.
E por que ele veio para o Brasil divulgar o filme? “Que pergunta estranha”, exclamou o diretor, que completou, “eu sempre faço isso. Não sou a Fox ou a Universal que têm verba para encher de propaganda. Preciso compensar isso. Além disso, as pessoas têm preconceito com filmes franceses”.
Nesse ponto, o diretor fez um adendo dizendo que acabou de vir de uma sala cheia de crianças, alegres e histéricas (o filme foi exibido ao mesmo tempo para infantes e para nós, graças a Deus em salas diferentes), e agora está na frente de um monte de jornalistas sérios fazendo perguntas financeiras. Hum… eu diria que o senhor Besson não é um grande fã de profissionais da imprensa.
Um dos poucos momentos divertidos da entrevista foi quando, ao falar da dublagem, o cara imitou o vilão da versão japonesa. Logo, contudo, o clima sério voltou, quando alguém perguntou se ele se cansou de tantos filmes violentos. Segundo Luc, ele nunca fez filmes por causa da violência e entre filmes como Nikita e Joana D’arc filmou coisas mais calmas, como Atlantis, onde mostrou seu amor pela natureza. De qualquer forma, disse que os telejornais são muito mais violentos que seus longas.
Uma curiosidade que nem todo mundo sabe é que o cara dirigiu um clipe da Madonna, Love Profusion. O que você tem a dizer a seu favor, Luc? “O diretor que ia fazer quebrou a perna e a Madonna me chamou na véspera. Tive que ter uma idéia de um dia para o outro. Filmamos tudo em 14 horas”.
E por que fazer uma animação agora? Será que ele gosta de desenhos? Não necessariamente. “Gosto de todos os gêneros cinematográficos, desde que bem feitos. Mas quando criança, as animações nos tocam mais. Quando assisti a Mogli, o Menino Lobo, fiquei 15 dias sem falar com meus pais porque eu queria ser criado por uma pantera e por um urso”. Aliás, delfonauta, permita-me fazer uma pausa para falar que o Baloo é um tremendão. Todo mundo junto: “Eu uso o necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais”. Hell, yeah, babe!
O lado mais antipático do diretor volta a aparecer quando um cara pergunta sobre um boato de que ele faria um novo O Profissional e que Natalie Portman estaria esperando apenas o roteiro. “Vocês são jornalistas sérios. Não confiem nesses boatos”, exclama e completa dando lição de moral sobre a responsabilidade de um jornalista, que não deveria ficar espalhando essas coisas. Olha só, eu concordo com a responsabilidade de um profissional da comunicação, mas ficar dando lição de moral para um grupo de pessoas que ele não conhece realmente não pega bem.
A antipatia continua quando uma mina pergunta se ele já tem planos para o DVD. “Não me importo com telas que têm menos de 10 metros”, exclamou, sucinto. Depois completou dizendo que um DVD não causa as mesmas emoções que o cinema. Aliás, isso era bem comum. Luc normalmente respondia as perguntas de forma antipática e depois dava uma explicada que amenizava a coisa. Ele deve ser um grande fã do popular “morde e assopra”.
E olha só que bizarro. O cara não tem nem computador, nem Internet, nem iPod. Todos os seus roteiros são escritos à mão, pois isso ajuda na humanidade dos filmes. Sei não, hein, seu Besson? Pra mim isso é desculpa de quem nunca aprendeu a mexer.
Levante a mão quem já percebeu a bandeira da seleção brasileira no Quinto Elemento. Pois então, a idéia de colocá-la lá surgiu pelo gosto que a humanidade tem por colecionar antiguidades. Em 2300, os objetos atuais cumpririam esse papel e ele achou que seria engraçado colocar algo assim no filme. Mas o diretor diz gostar do futebol brasileiro, pois nunca se sabe se os jogadores estão dançando ou jogando. Só falta a música.
Nesse ponto, um cara que queria porque queria ver o diretor falando sobre desenhos, volta a perguntar o que marcou a sua infância. Vários nomes são citados, boa parte deles clássicos que marcaram a infância de todo mundo. Saca só: Cinderela, Bela Adormecida, Branca de Neve e Pequena Sereia. Aliás, segundo Luc, a história original desse é bem mais pesada do que a versão Disney. Como não conheço a dita cuja, vou ter que acreditar na palavra dele. Para terminar, falou do desenho de um personagem que inclusive influenciou seu novo filme: o Rei Arthur. “A Espara Era a Lei tem uma simbologia muito bonita, pois antes de ser um bom humano, você precisa ser um bom pássaro e outros bichos. Até os fetos passam pelo formato desses bichos antes de ficarem prontos”. Vixe, então tá, tio.
Terminada a entrevista, alguns jornalistas vão pedir autógrafo para o cara. Aliás, há muito tempo eu não tinha vontade de aumentar minha coleçãozinha de autógrafos (e olha que já tive umas oportunidades bem legais). Mas, pô, eu provavelmente nunca mais verei o Luc Besson de novo e não é sempre que se pode entrevistar e pegar autógrafos de diretores desse calibre. Sem falar que todo mundo ganhou um pôster do filme e seria legal iniciar uma coleção de pôsteres autografados por grandes cineastas. Mesmo assim, resisti bravamente. Mas admito que essa coletiva me decepcionou um pouco pela antipatia do cara. A julgar pelos filmes dele, achei que ele seria super simpático e bem humorado. É uma pena que eu tenha descoberto que estava errado… Mas acho que isso faz parte da vida de um jornalista. Sofrer essas decepções para que você não precise sofrê-las. A não ser, é claro, que você leia o DELFOS, já que aqui nunca vamos esconder nada do público.