Dessa vez a Paramount realmente atirou no meu coração e sujou o nome do amor. Logo que cheguei ao longínquo pior cinema da cidade (o Cinemark Santa Cruz, onde a Paramount faz todas as suas cabines), percebi que algo estava errado pela movimentação dos “profissionais” da casa. O jogo só foi aberto com os jornalistas quando já eram mais de 11 horas (a sessão estava marcada para começar às 10:30). A cópia do filme estava saindo naquele momento de Alphaville e ainda precisaria ser montada no projetor quando chegasse ao shopping. O.o
O assessor ainda apelou para aquela velha técnica tipicamente brasileira de tentar controlar os danos com mentiras. O sujeito disse que até as 11:30 ou, no máximo, meio-dia, já começaria. Claro, a cópia saiu de Alphaville (que até onde sei, é outra cidade) às 11 horas, leva uma hora para montar o filme no projetor mas, mesmo assim, em 30 minutos, tudo estaria resolvido.
Enfim, é óbvio, mas vou dizer assim mesmo. A projeção só foi começar às 13 horas. Eu já disse que eu odeio brasileiros e essa mania de tentar minimizar os problemas ao invés de lidar com eles de frente, né? E outra, como eles podem começar o transporte do bagulho às 11 horas para chegar no Shopping às 10:30? Só se ao invés de um motoboy, o transportador fosse o Emmet Brown e o veículo fosse um Delorean! Colocaram a culpa na chuva, mas podem tirar o cavalinho da dita-cuja, pois eu e todos os outros jornalistas também pegamos chuva e estávamos lá na hora.
E outra, não é a primeira vez que isso acontece em uma cabine da Paramount. Da outra vez, o filme era Ligeiramente Grávidos e, por ele não ser tão importante quanto este, acabei indo embora quando fiquei sabendo disso. Errar uma vez pode acontecer, mas repetir o erro já mostra alguma coisa muito errada e alguém deveria ser despedido por causa disso.
Dito isso, devo esclarecer o critério da nota. Logo de cara, o filme já perdeu um ponto por causa desse atraso. Como ainda mentiram para os jornalistas em relação ao tempo de atraso, cortei fora mais meio ponto. Posteriormente, fui perguntar alguma coisa para o assessor, que virou a cara e saiu andando para o outro lado. Ele pode dizer que não ouviu, mas eu não engulo essa, pois falei suficientemente alto para que ouvisse. Isso custou mais meio Alfredo fora da nota máxima em potencial do filme. Assim, o máximo que Cloverfield – Monstro (ê, subtítulo imbecil) poderia ganhar nesta resenha delfiana é três Alfredos. E nem isso ele conseguiu.
Enfim, enquanto via duas valiosas horas da minha juventude sendo jogadas no lixo (eu poderia ter passado esse tempo xavecando garotinhas inocentes ou comendo bacon), amaldiçoei o fato de eu não ter levado meu DS para jogar, mas ao mesmo tempo agradeci a Satã pelo meu querido iPod. E para dar uma animada, nada melhor do que o bom e velho (sem falar fanfarrão e cafajeste) Hard Rock Farofa. Ou seja, passei essas duas horas ouvindo muito Bon Jovi e Danger Danger, entre outras bandas do estilo. Só que o Hard Farofa tem um sério problema. Ele é extremamente chiclete e, se você passa algum tempo ouvindo, vai ficar com as músicas marcadas no seu cérebro por semanas. Portanto, não estranhe se essa resenha vier cheia de referências a músicas do gênero (em português, em inglês, ou até uma que foi ligeiramente alterada para fazer sentido no contexto) que fiquei ouvindo nessas duas horas. E, se você não gosta disso, coloque a culpa no amor pelo Rock ‘n’ Roll.
Finalmente, depois de ler tudo isso, chegamos ao filme. E, sinceramente, não sei se tem muito a ser dito em relação a ele. Se você sabe do que se trata, provavelmente não terá surpresas. Cloverfield é exatamente o que promete. Se você não sabe, nada tema. Já estamos quase lá! Pegue minha mão, nós vamos conseguir, eu juro!
Cloverfield é uma mistura de A Bruxa de Blair com Godzilla. É basicamente um grupinho de jovens que está documentando a festa de despedida de um deles que está indo para o Japão, quando a cidade é atacada por um monstro gigante. Tudo é contado através dessa “filmagem amadora”, então você já sabe o que esperar: tremedeiras, cortes feios, furos na narrativa e um final frustrante (embora não tanto quanto o da bruxa). Curiosamente, a “câmera” dos personagens era muito boa, pois a qualidade de imagem do filme é realmente digna de cinema. Não que isso me incomode, na verdade, isso me deixou até feliz, pois odeio granulados.
A idéia é até bem legal e rende algumas cenas que simplesmente não dá para colocar defeitos. Contudo, na maior parte do filme, fiquei com a sensação de estar num daqueles brinquedos de parques de diversões, onde as cadeiras se movimentam e tremem de acordo com o que acontece na tela, manja? Isso é ainda mais enfatizado por ser um filme “em primeira pessoa” (você vê o que a câmera vê) e pelo fato de a história ser, se muito, mequetrefe.
Vejamos, você já sabe que um dos protagonistas estava saindo do país. Para completar, ele ainda é secretamente apaixonado por uma moça linda, com quem teve um tórrido e breve caso de amor. Contudo, ao invés de fazer como qualquer cafajeste que se preze, pegá-la de jeito pela cintura e dizer “you were born to be my baby, and, babe, I was made to be your man” (enquanto ele diz isso, os amigos fazem um coral dizendo “na-na-na-na” ao fundo) e logo em seguida aplicar um beijão bem estalado, ao que ela responderia “É amor que eu estou sentindo?” e ele, por sua vez, diria “O amor não é desconhecido para mim, gata!”; o sujeito prefere deixar tudo às escondidas até chegar numa situação extrema.
A situação extrema acontece quando o monstro ataca a casa da moçoila e o mancebo, de uma hora para a outra, decide viver depois da meia-noite, virar herói e atravessar a cidade devastada para salvá-la e declarar seu amor. No caminho, ele é acompanhado pelo sujeito que não larga da câmera e por mais alguns amigos que mantêm a fé. Ah, e é claro que o monstro só vai aparecer de forma decente lá no finalzinho. Mas não se preocupe, o finalzinho chega logo. Mais clichê que isso tudo só um vocalista de Hard Rock que usa calças de oncinha e laquê no cabelo.
Aproveitando o gancho do finalzinho que chega logo, devo deixar claro que Cloverfield é um filme curto. Não curto do tipo 90 minutos. Está mais para média-metragem curto. Sério mesmo, se tirar os longos créditos, que devem durar uns 15 minutos, de filme mesmo tem algo em torno de 60 ciclos minutais, sendo que durante 20 deles, vemos apenas a festa de despedida do protagonista, sem monstro nenhum. Não que a história clichê até o osso precise de mais, para ser sincero. E a narrativa cheia de câmeras tremendo também se torna cansativa depois de um tempo.
Talvez essa resenha fosse mais positiva se não tivesse tido tanto descaso e falta de profissionalismo no absurdo atraso de duas horas e meia. Felizmente, o DELFOS não é um site onde eu preciso abrir mão do que aconteceu no dia para analisar o filme. Ainda assim, Cloverfield tem no hype em torno dele e do mistério em relação ao monstro seu principal atrativo. Nesse ponto, não decepciona. Além disso, a “novidade” de “Godzilla filmado por um sujeito comum” foi desenvolvida exatamente da forma esperada, o que torna o objeto desta resenha um filme sem grandes surpresas, sejam elas positivas ou negativas.
Só para terminar minhas reclamações (e as referências fanfarronas), esse atraso absurdo ferrou toda a minha programação da semana e agora estou vendo que tenho várias horas extras pela frente. Pelo menos posso me animar pensando que um dia serei sábado à noite. Para piorar minha situação, contudo, ainda prometi que hoje iria ter uma crazy nite em uma balada de aniversário. E sabe como é, nerds realmente não são feitos para dançar a noite toda. Aliás, normalmente não somos feitos para dançar nem por cinco minutos, a não ser que seja Dance Dance Revolution.
Curiosidades:
– Em conversa por MSN com o Júlio, fizemos a seguinte piadinha que agora compartilho com os delfonautas: “imagina a seguinte situação: a cidade está um caos e você não sabe o que está acontecendo. Aí, as pessoas vêm correndo em sua direção, gritando: “aaahhhh! Campo de Trevos! Ele está vindo! Sebo nas canelas! É o Campo de Trevos!”.
– Se você não entendeu a piada acima, Campo de Trevos é a típica tradução literal delfiana para Cloverfield que, no caso, assumimos que é o nome do monstro, já que não é explicado durante o filme por que diabos escolheram esse título e o monstro, mal educado que só ele, não se apresenta.
– Hora do jogo! O primeiro que listar todas as referências ao Hard Rock Farofa presentes no texto acima no espaço para comentários, ganha um amigável tapinhas nas costas e meu mais sincero parabéns.
– Dica: contando com a referência da capa, temos aqui referências a músicas das seguintes bandas (o número entre parênteses diz quantas músicas são citadas no texto): Danger Danger (2), Bon Jovi (5), Whitesnake (2), Judas Priest (1) e Van Halen (1). E o primeiro que vier me mandar ouvir pagode por citar o Padre Judas como uma banda de Hard Rock Farofa ou não conhece o estilo ou nunca ouviu a música citada.