Quando você pergunta para qualquer pessoa quais as principais bandas do Heavy Metal nacional, a resposta vem logo à cabeça: Angra e Sepultura. Por mais que o mercado esteja sempre aberto às demais bandas como Holy Sagga, Krisiun, Torture Squad, Shaman, entre outras, são sempre esses dois nomes que mais chamam a atenção pela sua história e importância no cenário nacional e internacional.
O que poucos se lembram é que essas duas bandas podem realmente ser as maiores, mas não foram as pioneiras do Metal nacional. Mais de uma década antes do Angra lançar seu primeiro trabalho, Angels Cry (1993), muitas bandas já batalhavam no cenário nacional em busca de destaque e oportunidade na difícil cena tupiniquim. Muitos grupos sumiram com o passar dos anos sem deixar sequer um rastro de sua existência, afinal vieram de uma época onde a música pesada era vista com um terrível preconceito pela indústria fonográfica pois esta preferia investir em coisas de fácil audição, como Kid Abelha e RPM, para citar apenas dois casos mais óbvios (será que essa situação é muito diferente hoje em dia?).
De qualquer forma, uma pequena parcela das bandas conseguiu a proeza de gravar um discão (vinil mesmo) e deixaram saudade no coração dos velhos headbangers que viveram os anos 80. Salário Mínimo, Avenger, Harppia (leia as resenhas delfianas de shows da banda aqui, aqui e aqui, e uma completíssima entrevista com os caras aqui e aqui), Virus, Golpe de Estado e o Centúrias, liderado pelo carismático batera Paulão Thomaz, que não gravaram apenas um, mas dois trabalhos muito bons, graças à ajuda da famosa loja Baratos Afins e de seu proprietário, Luiz Calanca. Aproveitando o retorno da banda após quase 15 anos de inatividade, nada mais justo do que resenhar os dois clássicos dos caras.
Um pequeno histórico: a banda começou em 1980 no underground paulistano, mas a primeira aparição em disco aconteceu apenas quatro anos depois, na famosa coletânea SP Metal (também da Baratos, e aguarde porque vou fazer uma resenha deste trabalho em breve) com as músicas Duas Rodas e Portas Negras.
A carreira do Centúrias pode ser dividida em duas fases distintas e cada um dos dois discos lançados representa muito bem estas características. O primeiro trabalho se chama Última Noite e foi lançado em 1985. A banda na época contava com o Paulo Thomaz (bateria), Eduardo Camargo (vocais), Adriano Giudice (guitarra) e Rubens Guarnieri (baixo) e o estilo lembrava bastante o que o Deep Purple e o Rainbow fizeram nos anos 70: um Hard Rock vigoroso com uma pitada de Metal aqui e ali.
Deste primeiro trabalho, duas músicas chamam muito a atenção: Rock na Cabeça e Duas Rodas. A primeira por ser uma verdadeira ode ao Rock´n´Roll, impossível ficar parado ao ouvi-la, e a segunda por se tratar de uma das melhores músicas do Metal nacional de todos os tempos. Aliás, Duas Rodas até ganhou uma versão cover em inglês da banda MonsteR no último CD.
O segundo trabalho, Ninja, mostra uma banda muito mais madura e apostando em um Heavy Metal tradicional, estilo Judas Priest, com muita energia, competência e letras fantásticas, abordando temas bem variados. Uma curiosidade é a presença de Jack Santiago, vocalista do Harppia, na composição de grande parte das letras. Esse fato não é novidade, já que as duas bandas começaram praticamente ao mesmo tempo e sempre rolou uma amizade muito forte entre elas, inclusive com trocas de integrantes no melhor estilo Gamma Ray/Helloween. A formação do Centúrias nessa época mudou para melhor, trazendo os vocais poderosos de César “Cachorrão” Zanelli e os ex-Harppia Marcos Patriota (guitarra) e Ricardo Ravache (baixo) além do Paulão na bateria, único remanescente da formação original.
Destacar alguma coisa neste segundo disco é bem difícil, pois Ninja é um excelente trabalho, muito regular e técnico. As faixas Guerra e Paz e Metal Comando são hinos da música pesada nacional e merecem uma audição cuidadosa. O Harppia, inclusive, toca uma versão bem legal de Metal Comando em seus shows atualmente.
Para facilitar a vida de quem não quer correr atrás dos discos nos sebos da vida, a Baratos Afins relançou os dois discos em um único CD com 3 faixas bônus das músicas Fortes Olhos, Metal Comando e Não Pense, Não Fale, todas gravadas ao vivo em 1986. Tudo por um preço bem acessível e um ótimo trabalho gráfico no encarte, contando ainda com um prefácio de Ricardo Batalha da revista Roadie Crew.
Se você não conhece o trabalho do Centúrias e sua importância no cenário nacional, está na hora de valorizar um dos grandes pioneiros do Metal nacional. Parabéns à Baratos Afins pela força e apoio às bandas há quase 30 anos e vamos torcer para o Centúrias consolidar o retorno com mais um ótimo trabalho.