Cão de Briga

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Quando cursava a faculdade de cinema, decidi assistir a alguns filmes que normalmente dispensaria, como forma de ampliar meus horizontes cinematográficos. Um dos filmes que vi nessa época foi O Enigma de Kaspar Hauser do alemão Werner Herzog. É a história de um sujeito encontrado numa floresta. Ele não sabe se comunicar, mal consegue andar e não tem absolutamente nenhum conhecimento da vida em sociedade. Na medida em que é reintegrado ao convívio social, ele revela que cresceu trancado num porão, sem nenhum tipo de contato humano a não ser uma mão que lhe passava comida por um buraco na porta.

Mas espera aí, essa não é a resenha de Cão de Briga? Por que diabos você está tagarelando sobre um filme cabeça alemão? Muito simples, o novo veículo de ação de Jet Li (o astro de Herói), guardadas as devidas proporções, apresenta paralelos com a história do tal Kaspar Hauser (por sinal, o filme de Herzog é baseado em uma história real). Um homem desprovido de convívio social ainda é um homem?

Jet Li é Danny, um sujeito órfão com uma habilidade assombrosa para as artes marciais. Só que Danny foi criado desde pequeno como um cão por um mafioso sem escrúpulos, Bart (Bob Hoskins, o detetive do tremendão Uma Cilada Para Roger Rabbit, de Robert Zemeckis), tornando-o o guarda-costas perfeito. Danny quase não fala, obedece o chefe cegamente e sim, ele usa uma coleira no pescoço.

Aliás, a coleira é a chave de seu condicionamento. Quando está com ela, é dócil feito um poodle de madame. Quando Bart a retira, é melhor não ficar em seu caminho, pois Danny só vai parar de bater quando seu adversário morrer ou Bart mandar.

As coisas começam a mudar quando ele conhece Sam (Morgan Freeman, de Menina de Ouro e Batman Begins), um afinador de pianos cego e o único a tratá-lo como gente. A amizade com Sam e seus ensinamentos lhe devolvem sua humanidade há muito esquecida e será o catalisador da revolta de Danny contra Bart e seus capangas.

Bom, como se trata de um filme estrelado por Jet Li, está na hora de falar da pancadaria. Nesta película, ela é bem farta e os fãs de filmes de artes marciais não vão se decepcionar. Mas há alguns problemas. A partir do momento em que Danny conhece Sam, o filme fica um bom tempo sem apresentar uma cena de ação, preferindo o desenvolvimento dos laços de amizade entre os dois e a evolução do personagem de Li. Ou seja, o filme dá uma esfriada na metade para voltar a esquentar só no final. Quem for ao cinema só pela ação pode ficar entediado durante esse longo trecho.

Outra coisa, as coreografias de lutas, criadas por Yuen Wo Ping (o mesmo que desenvolveu os quebras de Matrix) são bem comunzonas, sem nenhuma novidade, com um uso discreto de cabos. Culpa do próprio Ping, pois desde que ficamos de queixo caído com as lutas que desenvolveu no filme dos brothers Wachowski, nos deixou ávidos por seqüências de ação cada vez melhores e mais revolucionárias.

OK, as lutas podem não ser inovadoras, mas são bem divertidas. E se isso ainda não é o bastante para convencê-lo, a trama esquisitona (o roteiro é de Luc Besson, o sujeito mais pop do cinema francês, que recentemente também escreveu Carga Explosiva 2) ajuda o filme a sair do lugar-comum de outros exemplares do gênero. Assim, Cão de Briga é mais do que recomendado a todos os apreciadores de um bom filme de pancadaria.

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Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
cao-de-brigaPaís: França/EUA/Inglaterra<br> Ano: 2005<br> Gênero: Porrada<br> Duração: 102 minutos<br> Roteiro: Luc Besson<br> Diretor: Louis Leterrier<br>