Bonecas Russas

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Acho que não é novidade pra ninguém que o meu cineasta favorito é o finado François Truffaut, um dos detonadores da nouvelle vague francesa nos anos 60. Uma coisa que eu acho bem legal desse cara é que ele fez, de fato, os filmes que quis fazer. Não conseguiu fazer todos os filmes que queria porque morreu ainda com projetos em mente, mas todos os filmes que fez, foram realizados por sua vontade e seu amor ao cinema.

Um bom diretor, pago para fazer um filme que ele não tem a mínima vontade de dirigir consegue o mesmo resultado? Talvez, mas não sempre. Isso porque se ele tiver uma equipe talentosa e envolvida com o filme, o mesmo pode ficar bom, mesmo que o diretor não dê a mínima e esteja ali apenas para gritar “Ação!” e “Corta!”. Entretanto, ainda que fique bom, falta algo.

Acredito que, no processo de realização de um longa-metragem, existe um tipo de magia que ocorre especialmente quando o diretor ama os atores com quem trabalha (no sentido romântico da coisa) e tem muita vontade de contar aquela história. Quando isso acontece, o cuidado com que tudo foi feito, o carinho com que tudo foi feito, são perceptíveis na tela, porque o filme adquire algo diferente que faz os espectadores se apaixonarem por aquela história e, com isso, consegue transmitir um sentimento não só do diretor em relação ao filme como de toda a equipe envolvida: é um filme feito com amor.

Bonecas Russas é o exemplo mais evidente dessa magia, que há muito eu não via nas telas. Continuação de O Albergue Espanhol, o filme mostra cinco anos depois na vida do protagonista Xavier (Romain Duris) e revela onde estão alguns dos integrantes do tal “Albergue”, agora espalhados pela Europa: a inglesinha Wendy se tornou uma roteirista e continua em sua terra natal, ainda às voltas com casos amorosos sem sucesso, seu irmão William (Kevin Bishop, ainda engraçadíssimo) está de casamento marcado com a russa Natacha, enquanto a lésbica Isabelle continua à procura da mulher de sua vida.

O diretor Cédric Klapisch disse que, para o ator Romain Duris ter uma idéia de como seria interpretar o mesmo personagem alguns anos depois, assistiu com ele aos filmes da saga Antoine Doinel (para quem não sabe, são quatro longas e um curta metragem que contam a vida do alter-ego de François Truffaut – já leu algo sobre ele, não? – desde os doze anos até os quarenta). O ator que interpreta Doinel chama-se Jean Pierre Lèaud e dizem que este é o único caso na história do cinema de uma série de filmes com o mesmo personagem sendo interpretado pelo mesmo ator ao longo da vida de ambos e por um período tão grande. Espero falar mais sobre esse personagem em breve, pois se tem um cara tremendão na história do cinema é Antoine Doinel, mas voltemos às Bonecas Russas.

Xavier está mais velho, assim como seus companheiros, entretanto, continua inseguro e imaturo, assim como boa parte de seus companheiros, o que torna essa comédia romântica bem engraçada. Todos ali querem um amor de verdade e passam apuros para encontrá-lo. Se isso fosse a premissa de mais uma comédia romântica “água com açúcar” estadunidense, talvez o filme fosse entediante, mas o fato é que é francês, ou seja, não é uma continuação gratuita para encher de grana o bolso dos produtores! Além do mais, quem viu O Albergue Espanhol se interessa muito em saber o que aconteceu com aquela galera e, nesse ponto, Bonecas Russas satisfaz muito bem às expectativas.

O meu maior problema com boas seqüências de bons filmes é que me acostumo com os personagens e, quando chega ao final (o que sempre acontece, seja na parte 3 de uma trilogia, ou na parte 8 de uma série), fico angustiado, pois sei que não vou vê-los mais em algo inédito. Foi assim com Marty McFly, foi assim com os Skywalkers e também com Antoine Doinel. No final só restam a saudade e os boxes de DVD’s.

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Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
bonecas-russasPaís: França / Reino Unido<br> Ano: 2005<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 125 minutos<br> Roteiro: Cédric Klapisch<br> Artista: 16 anos<br> Produtor: Bruno Levy, Matthew Justice<br> Diretor: Cédric Klapisch<br> Distribuidor: Europa Filmes<br>