Se fosse eu o responsável pela versão cinematográfica de Assassin’s Creed, eu contaria uma história independente dos games, mas que se passasse no mesmo universo. Não tenho dúvidas de que a série comportaria este tipo de abordagem, até porque já existem livros e HQs que rolam no mesmo mundo dos games.
Não é o caso, no entanto. Ao que tudo indica, o filme de Assassin’s Creed é uma história totalmente independente. Não há personagens dos games aqui e, pelo que pude perceber, se nomes como Ezio, Altair ou Desmond vierem a aparecer um dia, serão interpretações cinematográficos daqueles que conhecemos dos joguinhos eletrônicos, e não exatamente os mesmos.
Isso não é um problema. Esta abordagem transmídia é complicada e poucas franquias arriscam. Lembro de Matrix, que além dos filmes usou o mesmo universo para o desenho Animatrix e o jogo Enter The Matrix. Tem também, é claro, Star Wars e seu famoso universo expandido, mas não me lembro de outros. Até mesmo a Marvel tem o seu universo cinematográfico totalmente separado das HQs.
NOTHING IS TRUE
Não, Assassin’s Creed, o filme, é obviamente baseado nos games e é bem fiel a eles. Até mesmo coisas pequenas, como o logo da Abstergo, são iguais por aqui. Ainda assim, ele funciona como uma história à parte e uma introdução ao universo dos assassinos e templários que a maioria de nós conhece muito bem.
No entanto, a história que ele conta é deveras parecida com a que temos no primeiro jogo. O próprio personagem do Jeremy Irons lembra muito Warren Vidic, que foi a face da Abstergo quando a história dos jogos ainda fazia sentido.
O novo Desmond é Cal (o jovem magneto Michael Fassbender) que, após ser pretensamente executado por um crime, é entregue para a corporação Abstergo. Lá, ele conhece Sofia (Marion Cotillard, quase repetindo a personagem da Kristen Bell no jogo), uma cientista que diz precisar da ajuda dele para colocar um ponto final na violência humana.
O método dela a gente que joga já sabe: ela vai colocar o sujeito em uma máquina chamada Animus, onde ele vai reviver as memórias genéticas de um ancestral membro da Irmandade dos Assassinos que foi a última pessoa conhecida a ter contato com um artefato chamado Maçã do Éden. De posse do artefato, os templários conseguirão colocar um fim na violência sacrificando o livre arbítrio dos humanos.
O antepassado em questão é Aguilar (que, segundo o IMDB, também é interpretado pelo Fassbendão, mas que eu juro que não percebi durante a projeção), que viveu na Espanha em 1492. E se você manja um pouquinho de história a ponto de saber qual foi a contribuição que os espanhóis deram ao mundo no ano em questão, já terá uma boa ideia de para onde esta história está caminhando.
EVERYTHING IS PERMITTED
É neste ponto que a narrativa se diferencia dos jogos. Se, nos games, temos a maior parte da narrativa no passado, com o presente aparecendo apenas em momentos pontuais e importantes, aqui a coisa é o contrário. Quase todo o filme acontece na base da Abstergo, com pequenas e importantes cenas rolando de fato na Espanha de séculos atrás. E estas, meu amigo, são os grandes momentos do filme.
Praticamente cada segundo de projeção que rola dentro do Animus é composto de money shots. O filme é bonito e estiloso o tempo todo, mas nas partes espanholas a coisa realmente extrapola. A série da Ubisoft sempre foi conhecida por ter um audiovisual caprichado e o longa não faz feio neste aspecto. Não apenas os planos, coreografias e cores são muito bonitos, como a trilha sonora também é marcante, épica e pesada. Assista em um bom cinema e você com certeza vai sentir as poltronas tremerem.
Os momentos de parkour também foram muito bem adaptados para a tela grande. Há uma perseguição em que os assassinos pulam entre telhados e varais que me lembrou aqueles lindos filmes chineses de Kung Fu nos quais a galera voa em meio a bambuzais. É lindo de se ver!
O Animus foi bem adaptado para o cinema também. Se nos games, ele é basicamente uma cama onde a “vítima” vê as memórias, aqui é um tentáculo que prende o sujeito e o faz subir, descer e sentir exatamente como o antepassado. Na verdade, aqui o negócio não parece um videogame, mas uma verdadeira manipulação do cérebro e dos sentidos. Até porque, ao contrário dos jogos, não parece que as memórias são interativas.
O CREDO DOS ASSASSINOS
Na parte da história, minha principal reclamação é que não aproveitaram aquele climão de sociedade secreta. Nos jogos, por exemplo, a Abstergo é uma mega-corporação dona de várias empresas e secretamente dominada pelos templários. Aqui ela é apenas o lugar onde o filme acontece. Não rola aquele desenvolvimento inspirado pela Maçonaria, Illuminati e outras sociedades secretas ou discretas da história como temos nos jogos, e isso deixa tudo consideravelmente menos interessante.
Ainda assim, devo dizer que estava gostando bastante do longa. Em outras palavras, ele é muito bom até deixar de ser. O problema é que ele se perde completamente no terceiro ato, mudando coisas que não deveriam ser mudadas. A Abstergo, por exemplo, passa de uma sociedade ideológica que busca o bem maior para um vilão caricatural.
Isso é uma pena considerando que nos jogos os templários são os vilões apenas porque a história é contada do ponto de vista dos Assassinos, e não por eles serem maus. Tanto que já inverteram o ponto de vista em Assassin’s Creed Rogue e daí quem virou vilão na história foram os próprios assassinos.
Mesmo o protagonista, em determinado momento, está do lado da Abstergo, mas de uma hora para a outra, por causa de uns hologramas mal explicados, vira a casaca. Falta desenvolvimento. Para piorar, tudo ainda termina em um não-final, que existe apenas para justificar novos filmes da franquia. E, se seguirem os games, pode esperar um filme por ano por todo o futuro visível.
Até chegar no terceiro ato, Assassin’s Creed estava me empolgando a ponto de faturar quatro Alfredos. Porém, ele se perde de forma tão feia e tão rápida que a nota acabou despencando também. Se fosse um jogo, provavelmente acabaríamos relevando essa fase final em nome das coisas que fez certo, mas em um filme infelizmente não dá. O longa dos Assassinos merecia um fim com o mesmo cuidado que tiveram com o visual, e é uma pena que não seja o caso.
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– Assassin’s Creed II – A estreia de Ezio!
– Assassin’s Creed Revelations – O fim das histórias de Ezio e Altair!
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