Agatha Christie é uma das autoras de mistério mais conhecidas do mundo. E Assassinato no Expresso do Oriente é uma de suas obras mais famosas e reconhecidas, já tendo, inclusive, sido adaptada para o cinema em diversas ocasiões. Logo, mais uma versão para as telonas da clássica trama não faria mal. E voilá, eis aqui a adaptação comandada e estrelada pelo Kenneth Branagh.
A trama é a seguinte. O mundialmente famoso, e dono do bigode mais impressionante dos últimos tempos, detetive Hercule Poirot (Branagh) está a bordo do famoso Expresso do Oriente. Não bastasse uma avalanche deixar o trem parado, um dos passageiros é assassinado e todos são suspeitos. Cabe a Poirot (um homem que é 30% bigode) usar suas impressionantes capacidades dedutivas para solucionar o caso.
Com o perdão do trocadilho, não há muito mistério no filme. Ele é uma trama policial bem básica de whodunit (ou “quem foi”, em bom português). Obviamente quem já conhece o livro não deve ter grandes surpresas, mas para mim, que não o tinha lido, a história foi novidade, embora sua grande revelação não tenha sido tão impactante assim.
Vai ver este é um daqueles livros tão influentes que acabam diluídos e homenageados em várias outras histórias e mídias. Logo, mesmo para quem nunca leu o romance, ele passa aquela sensação de familiaridade. Vai ver vários dos clichês do gênero provavelmente se originaram dessa trama em questão.
Enfim, se ele não é exatamente impressionante em termos de narrativa, por outro lado ele também é bem agradável durante toda sua duração. A trama, praticamente quase toda passada no espaço confinado do trem, funciona bem, ele é bem filmado e visualmente bonitão.
Há também um elenco cheio de nomes conhecidos, todos eles muito afiados, o que ajuda a fazer você manter o interesse em tentar descobrir quem é o culpado do crime. Mas quem brilha mesmo é o Poirot de Brannagh.
Detetive tão genial e excêntrico quanto Sherlock Holmes, ele tem um monte de falas muito boas. O mais legal, e o que mais o diferencia da criação de Arthur Conan Doyle, é o fato de que, embora ele também seja tremendão e também se ache a última bolacha do pacote, ele não tem aquele ar de superioridade de Holmes, sendo uma figura muito mais simpática. E claro, ele é praticamente um bigode ambulante!
Contudo, devo dizer que o sotaque francês empregado por Brannagh (o personagem é belga) e suas tiradas mais cômicas às vezes o deixam parecido com um primo distante e muito mais competente do atrapalhado Inspetor Clouseau da franquia A Pantera-Cor-de-Rosa.
Obviamente, esta não era a intenção, e imagino que alguns fãs mais hardcore do personagem possam se irritar com isso, mas eu acabei achando divertido esse traço mais leve e fanfarrão (e até um pouco canastrão) adotado aqui.
Em suma, Assassinato no Expresso do Oriente se escora principalmente na força de seu grande elenco e, sobretudo, no seu protagonista. Não é um filme marcante, mas é divertido o suficiente para fazer valer uma assistida. Nem que seja para conferir na tela grande aquele fabuloso bigode!