A Pantera Cor de Rosa

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Há não muito tempo, o mais perto que eu chegava dos filmes antigos da Pantera Cor de Rosa, que teve o personagem do Inspetor Clouseau imortalizado por Peter Sellers, era uma breve observação de suas capas. Isso porque sempre achei que eram filmes engraçados para a época em que foram feitos – entre 1963 e 1978 – não para alguém nascido na década de 80, acostumado com filmes sobre viagens no tempo e Deloreans voadores. Eventualmente, cheguei a assistir a alguns deles, mas não vou ficar comparando A Pantera Cor de Rosa atual com a de 1963. Falar mal de Steve Martin e bem de Peter Sellers, ou vice-versa, não é meu objetivo aqui.

Geralmente uma refilmagem, ou melhor, uma adaptação de filmes mais antigos para os nossos dias, acontece exatamente pela necessidade de se renovar o que já está desgastado, ou seja, o filme antigo, ao ser revisto hoje, pode continuar interessante e nostálgico para os que o assistiram em seus lançamentos, mas, para a nova geração, não tem muita graça. Existem exceções, é claro, mas não precisamos ir muito longe no tempo para termos um exemplo mais do que óbvio: Batman de Tim Burton é um filme que eu gosto muito, mas para os garotos que não o viram na época e forem assisti-lo hoje, terá um ar de filme antigo e sem graça. Por isso o renascimento do Homem Morcego se tornou necessário, assim como diversos outros filmes que foram feitos para atualizar suas versões anteriores, entre eles, A Pantera Cor de Rosa. Por se tratar de uma nova obra com o personagem do Inspetor Clouseau, farei uma análise pelo o que ela é como comédia, quase sem comparações com a série anterior.

Disse “quase” porque antes vou abrir um parêntese, ou, para os mais literários, farei uma breve digressão, a respeito do desenho animado da Pantera Cor de Rosa. A verdade é que não há muita ligação do desenho com a série de filmes a não ser o fato de que o desenho começou como a abertura do primeiro filme e depois se tornou independente e voltado mesmo para o público infantil. Eu já estive entre este público e tenho lembranças boas e saudosas de minha infância não muito remota, quando o desenho animado passava nas noites de sábado. Apesar de meus preferidos terem sido sempre o Pica-Pau e Tom & Jerry. Obviamente, esta independência não fez com que o desenho animado se livrasse das aberturas dos filmes seguintes, com exceção de “Um tiro no Escuro” – único filme da série que não utilizou o diamante “pantera cor de rosa” em seu enredo e, por isso mesmo, não há o desenho na abertura. No início desta versão século XXI, entretanto, o desenho animado da pantera está de volta, com sua famosa trilha sonora.

Fechando o parêntese e analisando o filme, digo que dei boas risadas e me surpreendi bastante com esta comédia. A premissa é simples: o famoso treinador de futebol Yves Gluant fora assassinado e, durante o incidente, desaparecera das mãos do defunto o seu valioso anel de diamante “A Pantera Cor de Rosa”. O Inspetor Chefe Dreyfus (Kevin Kline), que é candidato pela sétima vez a receber a medalha de honra, chama para o caso o Inspetor Clouseau (Steve Martin em boa interpretação), apenas para distrair a mídia com suas já conhecidas trapalhadas, enquanto Dreyfus tenta, sigilosamente, desvendar o mistério. Dirigido por Shawn Levy, do mediano Doze é Demais, também com Steve Martin, o filme tem bom roteiro e há momentos hilários, como quando Clouseau tenta aprender, com a ajuda de uma professora, a falar o inglês com sotaque estadunidense.

O filme funciona como uma comédia repleta de ação porque Steve Martin, apesar de, fisicamente, ser bem diferente de Peter Sellers, não é somente um bom comediante, mas um grande ator. Sua versatilidade não se revela apenas na variação de gênero, entre dramas e suspenses, como também nos mostra mudanças em seus personagens dentro do gênero que melhor sabe fazer, a comédia. O inspetor exigiu de Martin um humor muito mais físico, remetendo a Chaplin e, sendo um pouco patriota, aos Trapalhões, algo bem diferente dos personagens malandros e cínicos que ele está acostumado a fazer. É claro que, como a maioria dos filmes protagonizados pelo conhecido magrelo de cabelos brancos, este também não tem outro intuito a não ser fazer o espectador dar risadas, mas, pelo menos no quesito diversão, ele cumpre o que se propôs e, ao final, não dá a sensação de tempo perdido.

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