As Viagens de Gulliver

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É, companheiro de sofrimentos cinematográficos… o ano já começou mal. Afinal, esta foi nada menos que a segunda cabine de 2011 e já temos aqui um grande candidato a pior do ano. E eu realmente espero que seja o pior, pois não sei se estou preparado para ver outra porcaria desse naipe nos próximos trezentos e tantos dias. Odin, tenha piedade de mim.

A sinopse você já sabe, não? Jack Black é Gulliver, um perdedor nerd que, curiosamente, tem a mesma personalidade de todos os outros personagens que o ator já interpretou. Garganta que é (e viva as gírias da época da vovó), acaba se vendo na obrigação de viajar até o Triângulo das Bermudas e escrever uma matéria sobre isso. Só que, como é o Triângulo das Bermudas, eles seguem os ensinamentos da Marvel (“é mágica, não precisamos explicar”) e logo ele vai parar num pequeno reino medieval chamado Liliput. Pequeno literalmente, pois seus cidadãos são tão diminutos que é possível até para o baixinho Jack Black segurar vários deles em suas mãos.

Isso tudo você já sabia antes mesmo de esse filme ser anunciado. Afinal, a história de Gulliver é para lá de conhecida, e Liliput faz parte do universo da cultura pop. O que você não sabia, mas possivelmente já imaginava, é que isso aqui é um caça-níquel sem vergonha, uma porcaria sem tamanho, sem graça e sem história.

Tudo que acontece no filme já foi visto antes. Sim, ele vai primeiro ter uma relação hostil com os liliputianos e, pouco depois, vai virar o ídolo deles. De todos, menos de um, que vai ser o responsável pela partezinha triste e pela resolução da história.

Ah, sim, e no começo, apenas um dos liliputianos não o trata mal. Obviamente, isso já faz com que Gulliver o considere seu melhor amigo logo na cena seguinte. Igual criança, manja? “Você gosta de sorvete? Eu também! Você é meu melhor amigo”. Desenvolver para quê, afinal de contas?

O 3D segue os sempre populares ensinamentos do Fúria de Titãs: cobre mais caro pelo ingresso, mas o filme pode ser assistido sem óculos. E não falo por falar, os óculos desse cinema eram tão desconfortáveis que eu de fato tirei os dito-cujos em vários momentos. E dava até para ler as legendas, ao contrário de Fúria de Titãs.

Fato: quase tudo no cinema de hoje é sequência, remake ou adaptação, os famosos filmes de produtor. Mas pelo menos as pessoas tentam criar algo, nem que seja pelo menos uma experiência divertida.

Fico pensando se algum envolvido nessa porcaria realmente estava tentando fazer algo criativo – ou passável, que seja. Será que o diretor Rob Letterman ou mesmo o Jack Black consideravam que estavam fazendo arte, por mais vazia que fosse, durante as filmagens? Se foi o caso, falharam homericamente.

As Viagens de Gulliver grita “pegadinha do Mallandro” em todos os momentos. Senti que o filme ria da minha cara por eu ter mordido a armadilha e entrado na sala. Me pergunto como vão se sentir aqueles que desembolsarem bufunfa para verem isso aqui. Especialmente aqueles que colocarem a mão na carteira pelo ingresso 3D. Se você foi uma das vítimas dessa brincadeira de mau-gosto e só está lendo este texto depois, meus sentimentos. Que isso lhe sirva de lição e você se mantenha mais delfonado de agora em diante.