Quando a gente sonhava com jogar em realidade virtual, pensava em jogos imersivos em primeira pessoa e cheios de ação. A realidade, no entanto, ainda nos mantém longe de um Call of Duty em VR. Porém, Apex Construct é um promissor passo nessa direção, além de ser um dos poucos jogos mais próximos de uma experiência completa na plataforma. Assim, ele chega perto daquilo que todos nós sonhamos, mas ainda mostra as muitas limitações da tecnologia.
Obras em VR até hoje são, em sua maioria, walking simulators (muitas vezes de terror) ou joguinhos que tentam fazer uma única coisa bem. Apex Construct é muito mais ambicioso. Ele tem como proposta fornecer uma experiência mais próxima de um shooter AAA. Dá para contar nos dedos quantos jogos assim temos. Tem o Farpoint e o VR de Resident Evil 7 (mas este, como não é um jogo exclusivo de VR, não conta da mesma forma).
PAI E MÃE
Apex Construct coloca o jogador na boa e velha pele de uma pessoa muda, acordada por uma IA chamada Fathr (e sim, é assim que se escreve) em um mundo pós-apocalíptico. O Fathr está tendo problemas com outra IA, esta chamada Mothr, que povoou o mundo com robôs. Ele solicita sua ajuda para se proteger dela. Would you kindly?
Na melhor tradição videogame, você vai passar por uma série de fases, cada uma com um objetivo bem claro e se envolver em combate com sua mão esquerda que vira um arco e flecha (canhotos podem trocar a mão do arco).
Você pode se movimentar normalmente, mas para evitar enjoos, é mais recomendável usar os teleportes. Neste ponto, Apex Construct ganha alguns pontos sobre outros jogos. Farpoint é mais intenso, mas com isso causa enjoo leve. Doom VFR é absurdamente mais intenso, e por isso exige tanta movimentação que se torna frustrante. Aqui o enjoo é zero (desde que você não use a movimentação livre, é claro), e o combate mais sossegado possibilita que você fique parado em um lugar enquanto explode os robôs.
Isso não significa que a coisa é fácil. Não é mesmo. Você não precisa ficar se teleportando a toda hora como no Doom VFR, mas vai ter que desviar dos tiros (literalmente tirando o seu corpo do caminho deles). Há também um escudinho no arco, que pode bloquear ataques em troca de um pouco de energia.
ARCO E FLECHA
O uso do arco é exatamente como você imagina. O arco fica como padrão na mão esquerda e com a direita você coloca as flechas, puxa o elástico e solta para atirar. Quando funciona bem, é muito legal, mas nem sempre funciona bem.
Não há uma mira na tela, então na maior parte do tempo você vai atirar a esmo. Particularmente, eu atirava na direção geral do inimigo, via para onde a flecha ia, e então ajustava a direção de acordo. Isso custa preciosos segundos, que podem cobrar sua vida em combates mais perigosos. Além disso, é comum algumas flechas simplesmente quicarem nos inimigos. Tipo, você os acerta, mas não tira energia deles, o que não faz sentido.
O que torna o combate especialmente frustrante é que Apex Construct é mais um jogo a pegar a pentelha influência de Dark Souls e tirar toda sua experiência quando morre. Ao contrário de Dark Souls, no entanto, aqui não dá para recuperá-la. Morreu, perdeu tudo que ganhou na fase. A única forma de salvar a experiência é terminando a fase. Isso significa que é comum você chegar na última batalha de uma longa missão com pouca energia, morrer, perder tudo que conquistou e terminar a fase sem a possibilidade de fazer nenhum upgrade.
Tirando este aspecto punitivo, o combate é legal na maior parte do tempo, com checkpoints bem colocados. Uma parte que achei especialmente chata é quando você tem que proteger uma máquina de ondas de inimigos, pois aí encara dezenas de inimigos e, ao morrer, volta do início. Outra decisão estranha é que os itens que usar durante uma vida permanecem usados quando você morre. Em outras palavras, você pode ter um refri que recupera vida, mas se usá-lo durante um combate e morrer, da próxima vez vai ter que matar todos os inimigos de novo, mas sem usar o item. O mesmo vale para granadas e qualquer outra coisa consumível.
OPS! EU FIZ DE NOVO!
Esta “permanência” do estado da fase criou pelo menos um momento em que o jogo pareceu estar quebrado. Em uma fase já avançada, eu peguei um elevador e cheguei em algo que parecia uma estação de metrô. Sem saber o que fazer, resolvi pegar o elevador de novo e voltar. Acontece que eu morri um pouco depois, e o checkpoint me colocou perto dos trens, mas manteve o elevador no andar de baixo.
Isso significa que eu fiquei preso na parte dos trens. Não sei se eu deveria fazer algo ali que não sei o que é, mas foi neste ponto que o jogo me venceu. Passei mais de uma hora explorando uma área relativamente pequena e, confrontado com a total falta de progresso, fui obrigado a parar de jogar. Esta não foi a primeira vez que Apex Construct me deixou travado por um bom tempo, então ele realmente poderia fazer um trabalho melhor em comunicar seus objetivos para o jogador. Penso no esquema da Naughty Dog que, quando você fica na mesma área por um tempo, o próprio jogo começa a dar dicas de como prosseguir.
Além disso, também há uma certa falta de cuidado em geral. Por exemplo, itens podem ficar presos no cenário e atravessar coisas que deveriam ser sólidas, o que quebra a imersão fortemente.
ALÉM DO COMBATE
Lutar não é a única coisa que você fará em Apex Construct. Você vai passar um bom tempo digitando em computadores para abrir portas, ler logs em texto e procurando por senhas. Este é outro problema, uma vez que o PS VR não é preciso o suficiente para digitar. É comum você apertar a tecla errada ou várias de uma vez.
Há outros tipos de flechas também. A mais usada é uma flecha elétrica, que pode ser usada para resolver puzzles ou desativar escudos de inimigos.
Há bastante exploração também, e esta talvez seja a melhor parte do jogo. É bem diferente explorar um cenário em realidade virtual se for um simples walking simulator ou se houver a possibilidade de combate a qualquer momento, o que torna Apex Construct mais emocionante do que um título em VR padrão.
Infelizmente, há um problema bem grave na locomoção. Ao invés de o jogo optar por girar ao toque de um botão, tipo o triângulo gira para a direita e o quadrado para a esquerda, você deve apertar triângulo e movimentar sua mão para o lado em que deseja girar.
O que torna isso frustrante é que o triângulo também é responsável por girar 180°, e o sistema tem dificuldade de rastrear o movimento da sua mão corretamente. Então você pode querer virar um pouquinho para a direita e se ver olhando para trás, o que causa altas confusões. Talvez funcione melhor no PC com o VR de 360°, mas no PS VR, onde você não pode ficar de costas para a câmera, atrapalha bastante.
Por fim, tem também um inventário onde você pode guardar suas granadas, cartões de acesso ou qualquer porcaria que queira levar para a safehouse. A interface é bem bacana, transformando sua mão esquerda em um menuzinho 3D que faz você se sentir em Minority Report.
Na prática, como é padrão em VR, a coisa nem sempre funciona como o esperado. Era comum eu ter sérias dificuldades de fazer o inventário aceitar um item que eu queria guardar ou não conseguir pegar aquele que desejava usar.
APEX CONSTRUCT
Apex Construct é promissor, mas é mais um daqueles casos que tenta ser mais ambicioso do que a realidade virtual de hoje em dia é capaz de suportar. Não dá para dizer que funciona tão bem quanto Farpoint ou Resident Evil 7, mas o simples fato de poder ser colocado no mesmo grupo destes dois jogos mostra quão especial ele é. O que temos aqui é um dos três jogos completos disponíveis para o PS VR, e isso por si só já é suficiente para recomendá-lo.