Anita Latina é uma mistureba só

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É comum a gente receber CDs aqui no Oráculo de bandas que a gente não conhece. Assim, na hora de escolhermos quem vai resenhar o quê, podemos usar os mais variados critérios. Podemos nos basear nas capas, em uma rápida pesquisa na internet ou, no caso deste Anita Latina, no nome.

Pois é, eu achei o nome da banda tão estranho, inusitado e, cá entre nós, ruim mesmo, que eu precisava ouvir a música que ele continha. Se eu visse o CD em uma loja, provavelmente pensaria que se tratava do álbum de uma cantora funk. Porém, cantoras funk não costumam mandar seus discos para o DELFOS, então sabia que era bem mais provável se tratar de um trabalho de rock.

O trabalho da banda pode ser definido como rock progressivo, mas eles colocam muitos elementos de outros estilos de música, em especial de música tradicional brasileira. Não à toa, duas das faixas do CD são cantadas em português.

Eu gosto de rock misturado com música brasileira, mas admito que após a primeira audição, não fiquei nem um pouco empolgado com o som do Anita Latina. Quando eu pego um CD para resenhar, costumo deixar tocando no repeat enquanto trabalho durante vários dias, mas neste caso, devo dizer que a música chegava a me incomodar e eu tive dificuldades de deixar o CD tocando direto.

Obviamente, eu insisti. Preciso escrever sobre ele, afinal de contas. E quanto mais eu ouvia o disco, mais eu gostava dele. Isso, aliás, é inclusive uma característica comum no rock progressivo.

A música que mais me marcou foi Baião, talvez a que melhor demonstra a influência de sons brasileiros no som da banda. E é também uma das duas a ser cantada em português. Ouve só.

A outra música cantada em português já tem um nome menos tupiniquim: Nullius In Verba. Essas são as músicas mais marcantes do disco, até porque desenvolvem melhor a mistureba que caracteriza a banda.

Uma coisa que não me agradou na banda foi o timbre do vocal. Apesar de o estilo da banda ser puxado para o progressivo, a voz lembra bastante bandas como o Raimundos, o que definitivamente não é o tipo de som que me agrada, e soa bem estranho nas músicas cantadas em inglês. Zomia, por exemplo, é uma faixa instrumental que acabou me agradando até pelo fato de ser instrumental. Ela é também bem progressiva, cheia de mudanças de tempo e partes “estranhas”.

Ao longo das semanas que passei ouvindo este álbum autointitulado do Anita Latina quase ininterruptamente, ele subiu no meu conceito. Comecei não gostando dele, mas depois passei a admirá-lo por ser único e criativo.

Para ser sincero, ele não chegou a me empolgar em nenhum momento. Não me peguei cantando as músicas ou algo do tipo, até porque elas não são compostas para serem pegajosas. Também não acho que vou ouvir este disco com frequência uma vez que encerre os trabalhos nesta resenha, mas ainda assim passei a curtir seu som característico enquanto ele tocava no meu aparelho de som. Se a proposta de um rock progressivo com influências brasileiras lhe apetece, você provavelmente vai gostar.

REVER GERAL
nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
anita-latina-e-uma-mistureba-soArtista: Anita Latina<br> Título: Anita Latina<br> Ano: 2016<br> Número de Faixas: 8<br> Gênero: Prog / Rock / Música brasileira<br> Gravadora: Alternative Music, Voice Music