Angra

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O Angra é a banda da qual eu assisti mais shows na minha vida. Desde a turnê do álbum Holy Land, acompanho quase todos os shows que eles fizeram em São Paulo. Destes, alguns foram fantásticos, como o primeiro show da turnê do Fireworks e outros nem tanto.

Este show pareceu ter sido programado de repente, afinal, há pouco mais de dois meses a banda realizou um muito bem sucedido show no Via Funchal e, provavelmente por isso mesmo, decidiram fazer mais um antes de sair pelo mundo na turnê do mais recente álbum, Temple of Shadows.

A abertura estava a cargo do Eyes of Shiva. Infelizmente, como já é praxe nos shows no Brasil, o horário em que a banda de abertura sobe ao palco não é divulgado, fazendo muitas pessoas perderem a oportunidade de conhecê-los melhor. Quando cheguei ao local, por volta de 21:20 (o show estava programado para começar às 22:00 e a imprensa foi instruída para chegar por volta de 21:30), os caras já estavam no palco. Fui correndo ao chiqueirinho tirar minhas fotos e, quando saí, os caras já estavam anunciando a saideira, que nada mais era do que um dos maiores clássicos do Heavy Metal, a fabulosa Aces High, do Iron Maiden. Como consegui assistir a apenas esta última música com atenção, vou me abster de dar opinião sobre esse show, apenas relatando que o som da casa deixou muito a dever nessa apresentação, principalmente o volume do vocal, que estava excessivamente baixo. Conversando com as pessoas, fiquei sabendo que eles tocaram também uma cover do Manowar, mas infelizmente não consegui descobrir qual. Curiosamente, a parte de trás do palco estava coberto, deixando-o bem pequeno e com muito pouco espaço para o Eyes of Shiva se movimentar..

Hora do intervalo, som eletrônico tocando Dream Theater, nada de fora do comum. Até que, pouco depois das 22:00, começa a soar nos alto-falantes a música tema do Gigante Guerreiro Daileon, do tokusatsu Jaspion que, sem dúvida, alegrou a infância de muitos que estão lendo essa resenha hoje. Surpreendentemente, boa parte do público revelou seu lado nerd e cantou a música a plenos pulmões, fazendo inclusive os tradicionais símbolos do Heavy Metal com as mãos. Assim que essa música terminou, começou a longuíssima introdução do Angra, o que deixou uma impressão de que a música do Jaspion era uma espécie de “pré-intro”, mais ou menos como fez o Stratovarius em sua última passagem pelo Brasil com a também fantástica Pompa e Circunstância.

Cerca de 10 minutos depois do início da introdução (ei, eu falei que ela era longa), o Angra entra ao palco com a empolgante Spread Your Fire. O show segue com as músicas na mesma ordem do recente show no Via Funchal. Waiting Silence, a sempre ótima Acid Rain e duas das melhores músicas das carreiras do Angra, ambas retiradas do álbum Holy Land, de 1996: Nothing to Say e Carolina IV. Essa última tinha ficado de fora do setlist na turnê do álbum Rebirth, mas finalmente foi reincluída, para a alegria de todos. Se a performance de Edu nela deixou um pouco a desejar no show do Via Funchal, agora ela ficou bem melhor. Ainda não está perfeita, é verdade, mas estava boa o suficiente para divertir o público com esta que é, na minha opinião, a melhor música da banda.

Depois de Carolina IV, o show do Via Funchal começou a esfriar, com um excesso de baladas. Aqui não foi diferente, mas pelo menos tivemos algumas novidades. A primeira delas foi No Pain for the Dead que, segundo Edu, nunca foi tocada antes pela banda. Na verdade isso ficou bem claro, já que a banda saiu do palco no meio da música, deixando boa parte dela (toda a parte que tem os vocais femininos) ser tocada apenas em playback. Vamos torcer para que no futuro, caso essa música continue no setlist, o Angra dê um jeito de tocar essa parte mais orquestrada para não dar esse tremendo banho de água fria no público.

A seguir veio Angels and Demons. Depois dela, o público ficou pedindo insistentemente Saint Seyia, música gravada por Edu para o animê Cavaleiros do Zodíaco. Ao contrário do show do Via Funchal, contudo, o vocalista não atendeu o público com uma palhinha da música. No lugar disso, tomou o microfone e dedicou a próxima música (Wishing Well) “aos combatentes brasileiros que estão no Haiti e de quem ninguém fala nada”.

Emendam Wishing Well a Millenium Sun, direto na parte pesada, sem a introdução, seguida de outra surpresa: a ótima Late Redemption, que contou com um dueto entre Edu e o guitarrista Rafael. Este último, auxiliado pelo público, fazia as vezes que no disco são de Milton Nascimento.

Mais baladas: Heroes of Sand e Rebirth são tocadas em meio à troca do pano de fundo para a capa do álbum Rebirth. Seguem com a Shadow Hunter, onde Edu aparece com um chapéu e um sobretudo. Posso até estar errado, mas estava bem parecido com a forma que as pessoas se vestiam na Inglaterra no final do século XIX, início do XX. O disco, e essa música especificamente, não falam de um cavaleiro medieval?

A tremendona Angels Cry vem a seguir e foi uma das mais bem recebidas da noite. O guitarrista Kiko Loureiro faz um mini-solo e emendam a melódica Temple of Hate, que no disco conta com a participação de Kai Hansen, do Gamma Ray.

Terminada essa música, a banda finge que o show acabou, se despede da galera e sai do palco (um dia ainda escrevo uma coluna sobre bis). Minutos depois, Unfinished Allegro começa a tocar, seguida da volta da banda ao palco tocando, é claro, o maior clássico da banda, Carry On. Nova Era é a próxima e foi tocada pelo baterista Aquiles Priester enquanto este usava aquela máscara de polvo idêntica à que fica na frente de sua bateria, que você pode conferir em uma das fotos que ilustram essa matéria.

Todo mundo achava que o show tinha acabado, mas ao invés de sair do palco, Edu engata um discurso falando de Dimebag Darrel, ex-Pantera, que foi assassinado há algumas semanas durante um show de sua banda Damageplan. Diz que vão fazer uma homenagem tocando clássicos da banda em um medley e para isso vão chamar um dos maiores representantes do Thrash nacional: Pompeu, do Korzus. Mandam o medley, que incluiu, entre outras a ótima Mouth for War. Durante a homenagem, Pompeu assumiu completamente os vocais, enquanto Edu ficava batendo cabeça ao lado da bateria.

Novamente, todo mundo achava que acabou e já tinha gente até saindo do palco, quando a banda engata Sad But True, clássico do Metallica. Curiosamente, as covers foram as músicas que mais agitaram a galera durante o show, algo que sempre acontece em shows de qualquer banda e que acho difícil de entender. Afinal, o pessoal vai para um show de uma banda querendo ouvir músicas de outras?

“Agora acabou”, todo mundo pensava quando Edu pergunta em tom de provocação: “Vocês estão cansados?”. Pergunta respondida com um sonoro “Não!” pela platéia. Então a banda manda a última música da noite: Hallowed Be Thy Name, mais um clássico do Iron Maiden. Terminada esta, a banda se despede e sai do palco, após mais ou menos 2 horas e meia de show – até que enfim um show com duração decente acontece em São Paulo.

Comparando este show com o do ano passado, a banda deixou de usar os efeitos pirotécnicos, embora estes estivessem anunciados no release de imprensa do show. Aliás, eu nunca vi pirotecnia no Directv Music Hall, possivelmente não é seguro utilizar estes efeitos na casa. Também acrescentaram as covers, Late Redemption e No Pain for the Dead e excluíram Never Understand. Particularmente, prefiro Never Understand que considero a melhor balada do Angra, mas mesmo assim gostei mais desse show do que do Via Funchal, dada a maior energia da banda, que parecia estar tocando com mais vontade.

No final do ano, a banda volta para São Paulo com um show super especial com várias participações, onde vai gravar um DVD. Lançar um DVD ao vivo por disco não é exatamente uma coisa muito legal, mas resta a nós, fãs, especularmos quem serão os convidados e torcer para que seja realmente um show digno de ser registrado. E que seja bem registrado, diga-se de passagem.

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