O delfonauta dedicado deve saber da minha odisseia em jogar todos os Shantae. A série entrou na minha vida bem tarde, e eu fiquei correndo atrás de jogar todos. A essa altura, esta análise Shantae é meu quarto texto sobre a série (veja links ao final da matéria). São cinco jogos, então só falta mesmo eu jogar – e cobrir – Shantae and the Pirate’s Curse. Enquanto isso, é hora de vermos como as aventuras da gênia começaram. Este é o Shantae original, lançado em 2002 para o Gameboy Color. Pois é, não para o Gameboy Advance, mas para o Color mesmo.

ANÁLISE SHANTAE E A CONFUSÃO MENTAL

Isso dá um tilt na minha cabeça. Quando penso em Gameboy, o que me vêm à cabeça são aquelas telas verdes e difíceis de enxergar. Era um videogame muito primitivo, mas que era maior legal pelo simples fato de ser um portátil que trocava de jogo. O Gameboy Color foi uma revisão de hardware, que trouxe tela colorida, mas que ainda mantinha os interiores limitados. E daí vem o tilt.

Os jogos que eu me lembro de jogar no Game Boy eram realmente muito básicos graficamente. E é com essa mentalidade que fui jogar Shantae. A princípio, me impressionei com seus gráficos. Mas depois me toquei que ele é de 2002. Sim, o Gameboy Color ainda era muito limitado tecnicamente, mas coisas que Shantae faz, como a animação elaborada da personagem, já eram comuns nessa época. De qualquer forma, fica claro que a WayForward já era uma especialista em beleza gráfica desde essa época. Afinal, olha isso.

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Lindão, né? Especialmente considerando o hardware original.

Por outro lado, agora que estou no meu quarto Shantae, vejo que a série não é consistente apenas no seu visual lindo, mas também em seus problemas. Mas não coloquemos a carroça na frente dos bois.

A NOVA VERSÃO DE SHANTAE

Esta versão lançada para PS4 e PS5 no início de junho traz duas versões do game. Tem a original, e uma outra “aumentada”. Eu mergulhei de cabeça apenas na aumentada, mas até onde posso perceber, a principal diferença é que a aumentada tem cores um pouco mais claras. Veja abaixo as comparações da mesma tela nos dois modos.

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Esta é a original.
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Esta é a aumentada.

Tirando essa diferença de cores, o comportamento e gameplay de ambas parece ser igual. Há os três slots de saves originais do jogo, que você faz conversando com aquele NPC que já conhecemos. E há o save state comum em emuladores, que salva sua posição exata a qualquer momento. Um save state substitui o anterior, então você só pode ter um por vez. Mas cada versão do jogo tem seu próprio save state e três slots comuns.

Ter o save state torna a campanha muito mais agradável do que ela seria se jogada num Gameboy Color normal. Afinal, você pode fazer seus próprios checkpoints, inclusive no meio de batalhas contra chefes. Isso elimina totalmente a frustração que, sim, estaria no jogo de outra forma. Tirando isso, os games são iguais aos que eram, com limite de vidas e outras coisas comuns na época de outrora.

ANÁLISE SHANTAE: VAMOS FALAR DO JOGO

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Como quase todos os Shantae, o que temos aqui é um metroidvania. Porém, ele é bem mais simples do que os modernos. Não há mapa, e isso nem faz tanta diferença, na verdade. Isso porque o mundo é uma linha reta, com cinco cidades espalhadas. Você começa na do meio. A campanha envolve ir até a da direita, fazer um dungeon, voltar tudo até a do meio, ir para a esquerda, outro dungeon, daí ir para a direita além da primeira cidade que visitou, fazer outro dungeon, e daí ir para o extremo esquerdo do mapa para o último dungeon.

A essa altura você já deve saber onde estou querendo chegar: ter que ir e voltar pelas mesmas telas tantas vezes é um saco e pura perda de tempo. Para habilitar o fast travel, você precisa pegar quatro bichinhos e entregar os quatro na cidade para onde quer ir. Então você precisa de quatro bichinhos para cada destino. Até você começar a ter o suficiente para “destravar” a viagem, já vai estar bem avançado no game. E se tivesse o fast travel desbloqueado tradicionalmente, simplesmente ao chegar na cidade, o game ficaria MUITO melhor, pois eliminaria totalmente a repetição desnecessária.

AS MESMAS CIDADES, OS MESMOS PERSONAGENS

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Rottytops, lembra dela?

Outra coisa que deixa um tanto cansativo é que tenho a sensação que todos os games de Shantae envolvem visitar as mesmas cidades e os mesmos personagens. Provavelmente por influência dos primeiros The Legend of Zelda, alguns desses jogos parecem simplesmente remakes feitos com mais tecnologia. Sabe do que digo? Tipo Link’s Awakening e A Link to the Past ou Metroid Super Metroid. No caso de Shantae, claramente há uma continuidade narrativa, mas tenho a sensação que a viagem é sempre a mesma. O level design é novo, mas você passa pelos mesmos biomas a caminho das mesmas cidades para falar com os mesmos personagens.

Isso deixou a experiência um tanto cansativa para mim. Afinal, sinto que é a terceira vez que jogo isso (Half Genie Hero tem uma estrutura diferente). E sinto que é a quarta vez que critico Shantae por me fazer passar pelas mesmas fases várias vezes em cada jogo.

E DAÍ TEM OS DUNGEONS

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Claro, e daí temos os dungeons. Discutivelmente, esta é a principal parte do gameplay, tanto de Zelda quanto de Shantae. E aí tenho uma boa notícia: eles são sensacionais! Shantae se sustenta forte na qualidade dos seus quatro dungeons principais.

A formulinha é conhecida. Você entra e está tudo trancado. Com a exploração, vai achando chaves, e eventualmente ganha um upgrade. Aqui os upgrades são danças que te transformam em animais com habilidades extras de locomoção. O macaquinho, por exemplo, escala paredes, enquanto o elefante as destrói.

Pegar o upgrade aumenta muito as áreas exploráveis dentro do dungeon, e serão vitais na batalha contra o chefe. Sim, você já viu essa mesma fórmula em Zelda e em tantos outros games do gênero. Mas é um tipo de gamedesign que adoro, e que este Shantae faz realmente MUITO bem.

ESTA FOI MINHA ANÁLISE SHANTAE

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Então essa foi minha experiência. Shantae realmente é um começo impressionante para a série, com visuais lindos para o hardware, animação caprichada e dungeons fantásticos. A fast travel limitada e a necessidade de ficar indo para um lado e para o outro várias vezes, passando pelas mesmas telas, acaba tornando a experiência menos legal do que poderia ser.

Mas o que me deixou triste é quão pouco a série evoluiu de 2002 até 2019 (quando saiu The Seven Sirens, o game mais recente). Algumas séries, como Assassin’s Creed, começaram com problemas graves, mas as continuações foram limando até ficar uma experiência próxima do ideal (e daí virou RPG, mas vamos ignorar isso). Já Shantae parece ter ficado preso dentro de seu próprio sucesso, mantendo as qualidades, mas também os problemas, sem evoluções consideráveis. Eu ainda tenho vontade de jogar The Pirate’s Curse e completar o currículo, mas admito aqui que não tenho muita vontade de jogar um dos outros de novo. Gostaria de ver essa série finalmente abrindo mão da repetição e sendo um metroidvania mais variado em sua próxima iteração.

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