Lembro bem da primeira vez que ouvi falar de Onimusha: Warlords. Tinha acabado de adquirir um PS2 e estava por fora dos games da época. Parecia que tudo que eu pegava para jogar era mundo aberto ou cheio de caixas para empurrar, e eu só queria dar umas porradas.
Minha solução foi sair perguntando para amigos que estavam mais antenados do que eu sobre jogos de ação. Dois eram frequentemente indicados: Ninja Gaiden e Onimusha. Ninja Gaiden até aquele ponto era exclusivo de Xbox, então me sobrou Onimusha. Fui atrás, e não demorou para ficar decepcionado. Não pelo jogo ser ruim, mas porque, ao perguntar sobre jogos de ação, eu estava procurando um Golden Axe ou Streets of Rage. Onimusha é muito mais complexo do que isso.
Não demorou para eu abandoná-lo, mas ele ficou na minha memória por algum motivo. Muitos anos passaram, meu gosto por games ficou bem mais abrangente e, neste início de 2019, a Capcom resolveu surpreender relançando o primeiro da série, Onimusha: Warlords, para os consoles atuais. Bora testar?
ANÁLISE ONIMUSHA: WARLORDS
O fato de Onimusha ser constantemente indicado ao lado de Ninja Gaiden faz todo o sentido. Sim, eles são jogos de ação, mas são também metroidvanias que não dizem diretamente para onde ir e exigem uma exploração considerável. Além disso, há puzzles que vão do “encontre um item e use-o aqui” até alguns que exigem formação de linguista.
Meu eu do início dos anos 2000 não tinha paciência para essas baboseiras. Eu definia meu jogo perfeito como “ir do ponto A ao ponto B matando inimigos”. Meu eu de 2019 já é bem mais paciente e valoriza essas baboseiras. Eu não curtia Resident Evil na época que ele foi lançado, mas quando foi relançado, eu escrevi uma resenha bem positiva.
E, sabe, Onimusha: Warlords tem muito de Resident Evil. A câmera fixa, os cenários pré-renderizados, os puzzles e o foco na exploração. A diferença é que aqui você não é quase indefeso. Longe disso, aliás. Se a Capcom do início dos anos 2000 ficou famosa por jogos punitivos como Devil May Cry, Onimusha: Warlords é praticamente um passeio no parque.
UM SAMURAI SEM MESTRE
A ação de Onimusha: Warlords é facilmente caracterizada como um hack and slash. Ele é, porém, muito mais simples do que Ninja Gaiden ou o próprio Devil May Cry. Não há combos elaborados, por exemplo. Você ataca com o X e, com o Y, usa golpes mais poderosos que consomem mana. Há também arcos e armas de fogo, mas estas têm munição bem limitada. Não tem muito o que aprender ou decorar e, como tal, funciona bem.
A câmera fixa tem o mesmo efeito de Resident Evil: gera ângulos estilosos e possibilita que o visual do jogo seja bem superior ao padrão da época. Mas também causa quebras de eixo frequentes e as mudanças de ângulo confundem bastante durante o combate, especialmente contra os chefes.
Felizmente, para este relançamento, a Capcom atualizou os controles do jogo. Puristas ainda podem jogar com os movimentos de tanque originais (basta usar o direcional digital), mas a alavanca analógica move o herói de forma apropriada para 2019.
Também há a possibilidade de jogar em widescreen ou no formato 4:3 original. O widescreen é apenas um zoom, o que significa que alguns detalhes ficam de fora da tela, mas é legal ter a opção.
KD CHECKPOINT?
Algo que não foi atualizado, e atrapalha um bocado é a forma que o jogo lida com mortes. Morreu, é game over. Automaticamente, o jogo volta para a tela título, e você precisa recarregar seu save manual. Os saves são relativamente frequentes, e podem ser usados à vontade, ao contrário de Resident Evil. Porém, se você morrer em um chefe, ou em outra situação que venha depois de uma cutscene, é obrigado a assistir à cena inteira de novo.
Isso é uma inconveniência, mas não é frequente porque, verdade seja dita, eu morri poucas vezes ao longo da campanha. Porém, minhas mortes se concentraram em dois pontos específicos: em um chefe e em uma sequência de armadilhas com morte instantânea. Ambas tinham cutscenes não puláveis entre o save e o que me matava, o que tornou tudo mais chatinho do que deveria ser.
Outro ponto que não envelheceu bem é a falta de clareza nos controles. Eu demorei muito para descobrir como usar o arco e flecha, por exemplo. Além disso, para acessar o mapa é necessário navegar por várias telas de menu. Eu só fui descobrir que o L3 serve de atalho para isso horas depois, quando fiz uma busca na internet.
CAPCOM
Quando era adolescente, a Capcom era uma das minhas desenvolvedoras preferidas, especialmente por causa de seus ótimos beat’em ups. Ela continua lançando ótimos jogos, mas sinto falta da criatividade de outrora. Hoje em dia ela se limita a lançar continuações para suas séries mais famosas. Seu último jogo original, se não me falha a memória, foi Dead Rising, uma geração de console, três continuações e 13 anos atrás.
Onimusha é uma dessas propriedades intelectuais da empresa que estava praticamente esquecida, o que torna este um relançamento bem valioso para fãs da gigante japonesa. Lembre que a Capcom é a responsável por marcas muito queridas e inativas há décadas, como este Onimusha, Viewtiful Joe, Okami ou mesmo Yo! Noid.
Seria legal ver continuações destes jogos e dos clássicos de sempre, mas também novas experiências com potencial de se tornarem tão queridas quanto estas. Este relançamento de Onimusha: Warlords talvez seja um passo nessa direção. Poderia ser melhor? Sim. É difícil entender porque não foi feito um pacote com os outros jogos da série, como a própria Capcom fez com Devil May Cry.
Ainda assim, mesmo sendo apenas o primeiro jogo da série, temos aqui um jogo que continua tão legal quanto era no seu lançamento original. Ou, se você for como eu, e expandiu os horizontes do seu gosto gamer, agora ele é ainda melhor.