Eu não me lembro da primeira vez que ouvi falar de Omensight. Muitas vezes eu recebo um release, ele parece interessante, daí eu solicito uma cópia de review e esqueço que ele existe. Foi assim neste caso. Quando chegou o código, a minha primeira reação foi: “que jogo é esse?”. Quando fui jogá-lo, estava totalmente sem expectativas. Porém, em menos de cinco minutos, eu estava totalmente empolgado com suas mecânicas e potencial.
COMO É OMENSIGHT?
Omensight é um hack and slash com câmera fixa que me lembrou bastante o primeiro God of War. Verdade, mesmo no PS2, God of War era uma superprodução, enquanto Omensight é um jogo indie. Assim, não espere por momentos tão cinematográficos ou por aquele senso de escala absurdo, cheio de criaturas gigantes. Aqui a coisa é mais na maciota.
Por outro lado, há algumas diferenças. Durante o gameplay, a câmera é contínua, em plano-sequência mesmo. Além da estética bacana que isso traz, a ausência de cortes evita as quebras de eixo tão comuns em jogos com câmera fixa, como o próprio God of War ou Resident Evil.
A câmera, porém, se mexe bastante, de acordo com a situação. Ela pode, por exemplo, se afastar para mostrar alguma coisa legal do cenário.
Ou então mostrar a ação de forma lateral, para criar a sensação de um plataforma 2D.
Particularmente, eu adoro jogos com câmera fixa. Eles exigem um cuidado extra dos desenvolvedores. Também gosto da sensação de que eu estou sempre vendo o que os criadores consideram o melhor ângulo para a ação.
COMBATE
Mas Omensight é um jogo de ação e, como tal, o combate tem obrigação de ser tremendão. E, meu amigo, é muito tremendão.
Você tem dois tipos de ataque e uma grande quantidade de habilidades mágicas. Algumas delas têm um tempo de cooldown. Outras só podem ser ativadas após sua barra de combos atingir um valor específico (pense nas notas de estilo de Devil May Cry).
Estas últimas são as habilidades mais pintudas. Tem uma delas, chamada Lethal Flurry, que é um golpe fatal em vários inimigos próximos. Embora altamente poderosa, ela não é tão útil quanto parece, uma vez que, quando você acumular um combo alto o suficiente, poucos inimigos ainda estarão vivos.
Acaba sendo mais negócio focar nas outras habilidades, como uma bombinha que, conforme você faz upgrades, pode atingir vários inimigos ao mesmo tempo. Tem também uma habilidade de câmera lenta, que pode ser ativada via botão (com cooldown) ou desviando de um ataque na última hora, à Bayonetta.
Um dos motivos que me fez gostar tanto de Omensight é o fato de ele misturar dois dos meus gêneros preferidos. A saber, beat’em up/hack and slash e o mais tradicional plataforma.
A boa notícia é que ambos funcionam bem, com controles excelentes e um level design com um timing impressionante.
RESOLVA O MISTÉRIO
Até agora eu falei do que Omensight tem de mais tradicional – e de melhor. Porém, ele tem também um funcionamento bastante criativo e diretamente relacionado à sua história.
Você é o Harbinger, uma criatura mística enviada para impedir o fim do mundo. Aparentemente, o fim do mundo foi trazido pelo assassinato de uma sacerdotisa. Quatro personagens são importantes na trama, e cabe a você investigar o caso. Como isto é feito, no entanto, é o mais diferente.
Seu personagem tem um dia para solucionar o mistério. Toda noite, o mundo é destruído, e você é transportado de volta para a manhã. Suas ações serão apagadas, mas as informações que adquiriu não. Cada um dos quatro personagens, que servem de companheiros, têm informações complementares sobre o assassinato. Então você deve escolher qual deles acompanhar e tomar as decisões que os farão revelar o que o protagonista deseja saber. Estas decisões podem envolver matar um chefe ou conversar com ele, ou mesmo escolher o caminho correto na fase. E, claro, no início de cada dia, você deve escolher o companheiro correto, ou então nada extra será revelado.
DIA DA MARMOTA
Conforme você repete o mesmo dia, um quadro de detetive vai se formando com todos os dados adquiridos até o momento. É possível consultar este quadro no início de cada dia para decidir quem acompanhar e o que fazer.
Uma coisa que eu achei bacana é a quantidade e variedade de dificuldades disponíveis. Por exemplo, quem quer um jogo mais difícil, pode escolher a categoria True Warrior, que aumenta a intensidade do combate. Mas quem gosta mais de pensar do que de lutar pode ir de True Detective, que obriga você a pegar um lápis e anotar por conta própria os fatos que descobriu.
Na dificuldade padrão, Balanced, não tive nenhuma dificuldade, nem no combate, nem na solução do mistério. Sempre parecia claro para mim qual personagem deveria escolher e as decisões que deveria tomar, e isso me manteve sempre progredindo na história. Porém, há um problema…
APENAS QUATRO FASES
Omensight tem só quatro fases. Elas são relativamente longas, e têm vários caminhos e pontos de decisão, mas é batata que você vai repeti-las várias vezes até solucionar o mistério.
Neste ponto, apesar de ter uma rotina mais bacana, ele lembra um bocado a repetição de Stories. Isso é uma pena. O funcionamento ainda poderia seguir o estilo Dia da Marmota, mas com uma decisão correta sempre levando você a um novo cenário. Isso o faria funcionar menos como Stories e mais como Quackshot, aquele antigo e excelente jogo do Pato Donald para Mega Drive.
Devo ser justo, porém. Você está sempre jogando as mesmas quatro fases, mas a localização dos inimigos, o contexto e toda a história que acontece a cada novo dia são totalmente diferentes.
Além disso, caso você escolha um companheiro, mas tome uma decisão errada, ou uma escolha diferente possa revelar novos fatos, o jogo permite que você comece próximo ao ponto crítico. Isso é bacana, e evita repetição desnecessária.
É fatal, no entanto, que depois de repetir as mesmas fases tantas vezes, você comece a ficar um pouco de saco cheio. Eu não tive problemas para progredir na história, mas depois de um certo ponto, me vi torcendo para o jogo acabar logo.
OMENSIGHT
O legal é que, apesar da repetição de cenários, as mecânicas de Omensight são bem bacanas. Jogá-lo é gostoso e divertido, então mesmo quando você está repetindo algo que já fez antes, ainda é agradável.
Estamos falando de um jogo indie e que se mostra bastante ambicioso em características como combate e câmera fixa. Assim, é compreensível porque ele usa deste artifício para ficar mais longo. Se você passasse apenas uma vez por suas quatro fases, sem dúvida muita gente o acharia curto demais.
Particularmente, eu prefiro um jogo curto a um repetitivo, mas gostei bastante da proposta Dia da Marmota do jogo. Isso, aliado a suas mecânicas, fez com que eu não me sentisse perdendo tempo em nenhum momento.
Além disso, é impressionante ver o quanto a Spearhead Games conseguiu fazer com orçamento de um jogo indie. Temos aí uma desenvolvedora a ser acompanhada. Fico imaginando que, com um orçamento mais bombado, eles poderiam fazer gente como a Ninja Theory ou a Santa Monica Studio suarem. E os fãs de jogos de ação sem dúvida ficariam felizes com isso.