Gran Turismo é uma das séries de games mais famosas da história. E eu nunca tinha jogado um deles. Hoje isso mudou. Afinal, eu acabei tendo a oportunidade de jogar para escrever esta análise Gran Turismo 7. Vem comigo que a gente tem bastante pra conversar.
ANÁLISE GRAN TURISMO 7
Gran Turismo 7, você sabe, é um simulador. Embora eu goste de jogos de corrida como Dirt 5 e Forza Horizon, não sou muito adepto desses jogos mais profundos e técnicos. Este foi o motivo pelo qual até hoje não havia me aventurado pelo mundo do Grande Turismo. E, olha, depois de passar algumas dezenas de horas com Gran Turismo 7, vejo que deveria ter mergulhado na série antes.
Assim, ele até tem seu lado mais técnico para quem quiser se debruçar nisso. Olha essa tela de configuração do carro, por exemplo.
Porém, ao contrário de séries como F1, é possível jogar Gran Turismo 7 focando nas corridas. E foi o que eu fiz.
MENU É O MODO CARREIRA DE GT7
Para destravar novas pistas e ganhar carros, a forma mais fácil e rápida é seguindo as orientações chamadas “menu”. Este seria o modo carreira de Gran Turismo 7. O menu te leva para todas as opções e modos de jogo, incentivando a experimentar tudo que ele oferece. Porém, a maior parte das “missões” envolve coletar três carros. E estes são sempre oferecidos de presente para as três primeiras colocações de pistas específicas.
Cumprir cada “menu” te dá uma recompensa e uma próxima missão. Essa recompensa na maior parte das vezes é uma girada numa roleta que pode fornecer vários prêmios (curiosamente, acho que deve ser shenanigans, porque sempre caía para mim no menor valor em dinheiro). Mas além disso, avançar nos menus libera novas pistas e opções no “mapa”, onde você vai encontrar lojas, modos de jogo e afins.
Mas o grosso mesmo da campanha são as corridas tradicionais, circuitos em que você corre em voltas contra a IA. E é aí que Gran Turismo brilha.
CONTROLE FANTÁSTICO E HUD INTRUSIVO
Eu joguei Gran Turismo 7 apenas com o Dualsense (até gostaria, mas não tenho nenhuma daquelas direções mais chiques) e mesmo assim o controle é sensacional. Os carros são altamente responsivos. E especialmente o uso que o controle faz de vibrações é muito realista. Dá literalmente para sentir cada mudança de marcha.
Particularmente, a única coisa que me incomodou no gameplay foi seu HUD intrusivo. Acontece que a Polyphony Digital resolveu pecar pelo excesso, e dar muitas informações para o jogador. Dá uma olhada.
Ok, para quem quer ter controle de tudo, imagino que esse HUD é legal. Mas para mim é um monte de informação inútil. Até o que sei o que é, como o nome de todos os concorrentes, sinto que não preciso saber. Ter conhecimento da minha posição é o suficiente, eu não preciso saber o nome e o país de origem de todos os corredores.
Além disso, há duas versões do mapa ao mesmo tempo. Um fixo que mostra todo o circuito e um que gira e mostra basicamente a próxima curva. E mesmo com tudo isso, não tem o que eu gostaria: um circuito completo que gira, estilo Virtua Racing. Seria muito bem-vindo ter a opção de customizar o HUD, pois eu desligaria quase tudo, deixando apenas a velocidade, a posição e um dos mapas. Mas não dá para escolher. Ele sempre mostra tudo.
O MESMO GRAN TURISMO, SÓ QUE MELHORADO
Outra coisa que eu consigo ver como sendo um problema é que, até onde sei, as pistas são basicamente as mesmas em todos os Gran Turismos. Faz sentido, uma vez que são todas baseadas em circuitos da vida real, e há um número obviamente limitado delas no nosso planeta. Mas como alguém que não entende porque FIFA é o jogo mais vendido todo ano, me parece repetitivo ter várias versões de um jogo de corrida com os mesmos carros e pistas, havendo apenas melhorias técnicas e gráficas.
Porém, essa foi também uma vantagem para mim. Como Gran Turismo 7 foi meu primeiro Grande Turismo, essa fadiga não aconteceu. Embora alguns nomes de pistas, como Nürburgring sejam conhecidos para mim, e eu provavelmente já tenha corrido lá em outros simuladores, para mim tudo parecia no máximo familiar.
E claro, obviamente entendo perfeitamente o apelo que fãs de corrida na vida real têm em jogar um game com visual realista em pistas que existem de verdade. E mesmo para mim, que não sou um grande fã do esporte, isso é bem apetitoso.
ANÁLISE GRAN TURISMO 7: GRÁFICOS E SONS
Eu joguei Gran Turismo 7 no PS5 e ele traz dois modos, os tradicionais performance e ray tracing. Porém, a pegada é que essa opção não afeta o gameplay. Este é sempre 4K/60 com ray tracing desativado. O custoso efeito, se ativado, aparece apenas em replays e em outras cenas onde você vê os carros, mas que não são interativas. Então não vejo muito lado negativo em ativar. Afinal, o jogo em si sempre roda a 60 fps, e ninguém faz tanta questão dessa taxa de quadros quando está apenas namorando seus veículos.
O visual de Gran Turismo 7, no PS5, é fantástico. É um daqueles casos que tem limitações, mas estas foram muito bem escolhidos pela Polyphony Digital. Permita-me elaborar. O principal, como os carros, as pistas e o céu, beiram o fotorrealista. Coisas mais secundárias, que você enxerga com a visão periférica, como árvores e plateia, são consideravelmente mais “simples”.
E sabe? Tudo bem. Apesar do slogan da Sony ser “Play has no limits“, desenvolvimento de games sempre vai ter que lidar com limitações técnicas. Quando você está jogando Gran Turismo, focado em fazer as curvas e na sua linha de corrida, o visual beira a perfeição. Você só percebe a plateia e as árvores sem graça em screenshots ou se ativamente olhar para elas durante o gameplay, então me parece um uso de recursos muito inteligente.
TRILHA SONORA
Outro ponto muito bom de Gran Turismo 7 é sua trilha sonora. Outros games modernos de corrida costumam colocar uns estilos de música que não combinam, como rap. Sei lá, eu até gosto de rap também, mas quando estou dirigindo em alta velocidade só quero saber de rock. Ou de música clássica. Isso tanto nos games quanto na vida real. Melhor ainda se for um rock instrumental e positivo cheio de solos de guitarra, estilo Joe Satriani. Ora pois, ouça essa música e me diga se ela imediatamente não te dá vontade de sentar na direção e pegar a estrada.
E o legal é que a maioria das músicas aqui presentes segue essa linha. Não exatamente instrumentais, mas a maioria é um rock agradável que dá vontade de acelerar. A única banda cujo nome eu reconheci foi dos mestres do rock alternativo/fuck music Afghan Whigs (quase todas creditam o que deduzo serem compositores japoneses). Mas dificilmente rolava uma canção que eu sentia que não combinava com o game. Até há um rap, curiosamente cantado pelo ator Idris Elba, que está meio deslocada entre o resto do repertório, mas beleza, é só uma.
FORA DAS CORRIDAS
Além das corridas tradicionais, tanto contra a IA quanto contra outros jogadores online, há outros modos de jogo, mas estes não me apeteceram. E alguns não são opcionais. Em especial, há vários pequenos desafios, que exigem coisas específicas como “ultrapassar X vans em uma ladeira dirigindo um Fusca que está a ponto de arregar”.
É o tipo de coisa que todo mundo já teve que fazer na vida real, mas que não deveria ter espaço em videogames. Lembrou-me de uma piada dos Simpsons em que o Homer joga um fliperama chamado “Preso atrás de um ônibus virtual” ou algo assim, que é exatamente o que você imagina.
Mas ok, a maioria desses desafios é opcional. Porém, há uma categoria que não é: uma série de desafios que visa recompensar com “carteiras de motorista”. É mais ou menos a mesma coisa, em geral pequenos objetivos de alguns segundos que você deve concluir. Para ganhar cada carteira de motorista, é necessário completar 10 desses desafios. E algumas partes da campanha ficam travadas até você “melhorar” sua carteira de motorista. Pentelho pra burro.
ANÁLISE GRAN TURISMO 7 E A ECONOMIA DE LIVE SERVICE
Talvez o principal aspecto negativo de Gran Turismo 7 sejam suas ambições de ser um live service. Acredito que é o primeiro – ou um dos primeiros – jogos da Sony com microtransações. Mas a forma que tudo isso foi implantado não é positivo (alguma vez já foi?), especialmente quando lembramos que a Sony visa lançar vários jogos assim no futuro.
Em Gran Turismo 7, você pode comprar carros com dinheiro real. Durante minha campanha, eu dificilmente ficava com mais de 200.000 cruzeiros. E quando ficava, tinha que comprar peças para tunar o carro exigido no próximo evento e poder deixá-lo em um nível competitivo. E isso sempre zerava minha conta bancária. Agora dá uma olhada em quanto custa um carrão aqui.
UMA PAUSA PARA VOCÊ FAZER UM COMENTÁRIO FALANDO “GASP!”
GASP! Embora eu tenha gastado meus créditos em peças para poder competir na campanha com os carros que tinha, estimo que em mais de 20 horas de Gran Turismo 7, eu não cheguei a pegar, no total, um milhão de cruzeiros. O Jaguar custa 12 milhões. Supondo que você demore 20 horas para juntar um milhão (e eu acho que a taxa em geral é mais baixa que isso), esse Jaguar custa 240 horas de jogo. Ou então o game vende dois milhões de créditos por 20 dólares.
Ah, e esse review foi escrito antes do patch lançado na última semana, que DIMINUIU a quantidade de créditos que cada evento dá ao jogador. Clique aqui para ler mais sobre o assunto.
São 120 dólares para ter esse Jaguar. Um único carro em uma lista de centenas, e que depois ainda terá que ser “tunado”, onde vão mais algumas centenas de milhares de créditos. Em um jogo que custa 70 dólares. É simplesmente impossível escrever um texto completo sobre Gran Turismo 7 sem citar essas coisas. Quando fui para os EUA em 2017, comprei um fone de ouvido super chique da Bose, por 120 dólares, e já considerei uma exuberância da minha parte. Aqui esse é o preço para ativar uma linha de código e usar um carrinho virtual.
Se não usar dinheiro real ou grindear por centenas de horas, você vai jogar Gran Turismo 7 basicamente com carros como Honda Civic. Não espere que a campanha te forneça supermáquinas, como Lamborghinis, Jaguars ou Ferraris, pelo menos não por muito tempo (dezenas e dezenas de horas). É como a vida real, você dirige um Honda Civic achando que é um carrão, e sonha com ter um Porsche na garagem. E esse sonho nunca se realiza. Se isso é ok para você, beleza, mas por favor não gaste 120 dólares em um carrinho digital que só pode ser usado em algumas corridas de um único jogo.
ANÁLISE GRAN TURISMO 7 E O GAMEPLAY DELICINHA
Para terminar – e mantenha em seu pensamento a informação de que os jogos de corrida que eu curto e costumo jogar não são simuladores – Gran Turismo 7 é bem diferente para mim. Games como Need For Speed, Forza Horizon e Dirt 5 são focados em alta velocidade quase o tempo todo. E isso é legal. Mas essa não é a pegada de Gran Turismo 7. E isso TAMBÉM é legal.
As pistas aqui variam MUITO entre alta e baixa velocidade. Sem exagero, num intervalo de segundos, você vai de mais de 200 km/h a 40. Sim, tem muitas curvas aqui que exigem que você fique literalmente numa velocidade de passeio. Isso deixa as corridas com bem menos adrenalina do que nos que costumo jogar. Mas também as deixa bem variadas, e igualmente divertidas.
Long story short… Gran Turismo 7 é um jogo muito legal. Claramente feito com muito capricho por pessoas apaixonadas por carros. A jogabilidade é ótima, o audiovisual é quase perfeito. Vale muito ser jogado. Porém, antes de comprar, tenha em mente que os carros que você provavelmente gostaria de dirigir no jogo custam mais de uma centena de dólares da vida real, e devem ser comprados individualmente. Eu gostei de ter jogado? Sim, muito. Mas admito que me incomodou ficar desde o início esperando minha chance de jogar com as supermáquinas – e essa chance nunca ter chegado.