Dying Light 2 é o primeiro dos vários jogos de mundo aberto de alto orçamento que chegam às lojas neste início de 2022. E você sabe, eu estou empapuçado com jogos de mundo aberto. São muitos, e cada vez mais eles exigem mais tempo e carregam forte nas atividades repetitivas. E se você acompanha o DELFOS há alguns anos, deve saber que eu já não fui assim tão fã do primeiro jogo. Será que esta continuação que ficou sete anos no forno consegue fazer uma reviravolta em um prognóstico tão negativo? Confira tudo isso e muito mais na nossa análise Dying Light 2.
ANÁLISE DYING LIGHT 2
Dying Light 2 é um tipo de continuação que particularmente me agrada. Ela acontece no mesmo mundo do jogo anterior, mas conta uma nova história independente, com novos personagens. Com a cultura pop cada vez mais focada em multiversos e continuações, acompanhar histórias independentes é cada vez mais prazeroso.
Aqui nós jogamos com Aiden. Um sujeito chamado Waltz fez experiências cruéis nele e em sua irmã, Mia. Aiden conseguiu escapar e desde então procura por Mia. Então nós vamos acompanhar a aventura do camaradinha em busca de respostas e da irmãzinha.
A Techland adoraria que você levasse essa história a sério, mas a verdade é que ela não é tão envolvente assim. Há decisões, e em raros momentos o que você escolher determinará qual de duas missões diferentes vai fazer. Mas é basicamente esse o impacto delas. O foco é claramente no gameplay. Apesar de não ter muitas novidades – Dying Light 2 ainda é um jogo de mundo aberto com combate corpo a corpo e movimentação estilo parkour – a coisa aqui está mais polida e mais agradável.
E digo mais, a movimentação é um deleite, algo que considero uma das coisas mais importantes em um jogo de mundo aberto. As animações aumentam muito o impacto dos seus movimentos, deixando correr pelos telhados uma delícia. Verdade seja dita, não há nada aqui que Mirror’s Edge Catalyst já não tenha feito antes. Mas ainda assim é muito bom, e definitivamente esse tipo de movimento não foi tão usado até hoje.
A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA?
Feita essa introdução, preciso dizer que a primeira impressão causada por Dying Light 2 é péssima. O jogo parece muito limitado em todos os sentidos. Habilidades básicas em um jogo com esse tipo de movimento, como correr pelas paredes, ficam travadas entre os movimentos mais avançados de uma skill tree enorme. Ele claramente quer causar a mesma sensação de Mirror’s Edge, mas talvez com receio de dar habilidades demais logo de cara, limita absurdamente o jogador.
Limitação é a palavra-chave aqui. Dying Light 2 é muito limitado. Literalmente, pois tem limite para tudo. Se você sai à noite, ou entra em um lugar escuro, tem limite de tempo. Suas armas têm durabilidade (embora nesse caso elas durem o suficiente para você arranjar outras melhores). Boa parte dos upgrades demoram muito para acontecer, tanto os que são liberados pela história quanto os que devem ser comprados via level up. O divulgado grappling hook, por exemplo, só vem lá no final da história.
Aliás, é curioso que Dead Island ia pelo lado oposto. Lá, você subia de nível muito rápido, e sempre ganhava novas habilidades e movimentos. Aqui, rola mais de uma hora de jogo a cada novo skill point. E muitas vezes você nem pode gastar o skill point porque precisa upar sua saúde ou seu fôlego para ter este direito.
MUNDO ABERTO SEM LIBERDADE
A maior limitação, contudo, é o mundo aberto. Como é comum nesses jogos “estilo Ubisoft”, o mapa é cheio de ícones pedindo para serem limpados. E as atividades são as básicas. Bases que devem ser conquistadas, torres a serem escaladas, colecionáveis. Porém, é comum você ir até uma dessas atividades e ser impedido de completá-la. A área pode ser repleta de inimigos vários níveis acima do seu, ou o jogo simplesmente pode ter decidido que você ainda não mereceu limpar aquele ponto.
Um bom exemplo são os moinhos, as tradicionais torres a serem escaladas. Elas até são legais, uma vez que a escalação de Dying Light é ótima. Porém, ela depende do seu fôlego. O primeiro moinho que eu tentei escalar, fiquei um bom tempo procurando a forma certa de vencer. Só depois de uns dez minutos, recebi a mensagem acima, dizendo que era impossível vencer com minhas estatísticas atuais.
Em outro ponto, meu hud me avisou que estava próximo de uma caixa de inibidores, os McGuffins que permitem aumentar saúde ou fôlego. Procurei, procurei. Descobri que estava atrás de uma porta fechada. Andei por toda a área tentando descobrir a entrada para aquela sala. Vários minutos depois, desisti em frustração. Horas depois, uma missão de história me levou para aquela sala – era impossível acessá-la antes de fazer essa missão.
EI, DYING LIGHT, RESPEITA MEU TEMPO, PÔ!
Eu falo muito aqui de jogos que não respeitam meu tempo. No caso, Dying Light 2 me fez andar até o desafio do moinho e começar a tentar vencê-lo. Podia ter me avisado na hora que cheguei lá que não tinha fôlego suficiente. Melhor ainda, podia ter alguma demonstração clara de que ainda não era possível vencer antes mesmo de ir até lá. No entanto, só foi me avisar depois que eu já tinha perdido um tempão lá. E o mesmo quanto à caixa de inibidores. Por que diabos o hud me mostra um item que não posso acessar? Isso é muito grave para um gamer adulto, com pouco tempo para jogar.
Essa limitação fez com que eu passasse a ignorar quase todas as atividades, simplesmente porque não queria perder tempo indo até lá para descobrir que não dava para vencer. Só fui voltar a brincar de mundo aberto depois de vários upgrades, quando finalmente comecei a me sentir menos limitado.
A LIMITAÇÃO FINAL – DEPOIS A GENTE FALA DA PARTE BOA
Por fim, apesar de eu ter jogado Dying Light 2 em um Xbox Series X, ele não tem cara nem performance de um jogo next-gen. Seus loads são consideráveis (cerca de 30 segundos), e os gráficos também são bem limitados. Não é que o jogo seja feio, ou mal feito – não é. Mas todas as suas opções gráficas são bem limitadas. Dá para jogar com ray tracing a 1080 e 30 fps, a 1080 e 60 fps ou a uma resolução mais alta a 30 fps – mais alta, porém abaixo de 4K. Considerando que jogos muito mais elaborados graficamente, como Ratchet & Clank, têm opções com resoluções mais altas, ray tracing e 60 fps ao mesmo tempo, é difícil entender o que aconteceu aqui.
Aliás, falta de polimento é comum. Aconteceu mais de uma dezena de vezes, de eu ter um objetivo que bugava e não podia ser cumprido. Tipo abrir uma porta cujo prompt não aparece, ou falar com um personagem que não está lá. Isso é ainda mais irritante porque a maioria dos objetivos não é mostrado de forma exata, apenas uma aproximação da área. Então é comum você perder tempo procurando por uma entrada, desistir, procurar um guia e ver que a entrada era no lugar mais óbvio – só que você precisava recarregar o jogo para usá-la.
Isso afetou consideravelmente minha diversão com Dying Light 2. A Techland divulgou que o patch de lançamento resolveria mais de 1.000 problemas. E de fato o patch veio, tendo sido liberado na véspera do lançamento. Mas esses problemas continuaram acontecendo para mim. Se você pretende jogar Dying Light, eu recomendaria esperar alguns meses na esperança de que esses problemas sejam consertados e o jogo funcione de forma mais redonda.
ANÁLISE DYING LIGHT 2: AGORA SIM A PARTE BOA!
Somando tudo – meu enjoo a jogos de mundo aberto, os problemas técnicos, as limitações técnicas e de gamedesign – eu sinceramente teria desistido de Dying Light 2 logo, se não o estivesse jogando para fazer análise. A boa notícia é que, se você aguentar esses problemas e persistir, chega uma hora que ele clica. E se torna um jogo muito bom – certamente muito superior ao original.
Ainda não falei do combate. E jogos em primeira pessoa com combate corpo a corpo não são tão comuns quanto os de tiro. Eu ainda acho que a melhor implementação desse estilo é a de Condemned 2, e isso não parece que vai mudar um dia, mas Dying Light 2 é muito legal também.
O combate é aparentemente simples. Você tem sua barra de fôlego e vai basicamente martelar o gatilho para atacar até acabar o fôlego. Daí se afasta para recuperar e atacar mais. Porém, o sabor está nos detalhes. O combate de Dying Light 2 é cheio de pequenos floreios, que fazem toda a diferença na sensação de lutar.
Coisas como desmembramento, jatos de sangue, câmeras lentas espertas e animações de morte extremamente elaboradas tornam lutar tão gostoso quanto o parkour, mesmo sendo consideravelmente mais simples. Esta continuação elimina completamente as armas de fogo, mantendo apenas um arco e flecha bem inútil, então é claro que resolveram focar em fazer um combate corpo a corpo bacanudo.
E DAÍ VEM O PARKOUR
E, claro, ainda temos o parkour que, embora seja consideravelmente mais limitado que o de Mirror’s Edge, é o mais gostoso que Dying Light apresenta. Na verdade, eu diria que quanto menos você interagir com as atividades genéricas de mundo aberto, mais vai gostar do game.
Assim como o jogo mais recente do Homem-Aranha, as missões de história costumam te colocar dentro de uma fase propriamente dita. Uma experiência mais dirigida, que pode combinar escaladas, combate, perseguições e, claro, chefes. E essas costumam ser simplesmente excelentes, provavelmente a maior melhoria que este jogo trouxe sobre seu antecessor.
Em especial, há fases em que você deve escalar enormes bases ou catedrais que são tão gostosas quanto os melhores momentos de Prince of Persia. Dying Light 2 tem problemas, muitos deles técnicos, mas quando seu gameplay tem espaço para brilhar, sai de baixo, pois ele brilha como uma supernova. E fica ligado: tem uma decisão perto do final (encontrar a Veronika ou não) que pula uma das missões mais elaboradas do jogo. Acredite, você quer ir atrás da Veronika.
ANÁLISE DYING LIGHT 2 E OS DOIS MUNDOS ABERTOS
Dying Light 2 também faz outra coisa que eu acho legal. Ao invés de ter um único mapa enorme, no estilo Assassin’s Creed recente, ele tem dois mapas pequenos e diferentes. Estilo Assassin’s Creed antigo. E os mapas são realmente muito diferentes.
O primeiro, Villedor, é mais parecido com o que vimos no anterior: uma cidade com casinhas baixas, onde é bem fácil subir até os telhados e evitar as ruas. Já o segundo é totalmente vertical. É uma cidade estilo São Paulo, cheia de arranha-céus. Ao chegar nessa área, você libera o paraglider, e sua mobilidade fica muito diferente.
De certa forma, fica mais limitado. Porém, é no segundo mapa que você vê quão bons são os designers da Techland em criar playgrounds digitais. Sempre tem uma cordinha que permita subir num prédio sem esforço, ou fumaças que possibilitam voar com o paraglider direto do chão. Essa área é muito mais desafiadora do que a primeira, mas se você usar bem as ferramentas que o jogo fornece, é também muito mais gratificante.
Verdade, isso torna “limpar” o segundo mapa um trabalho hercúleo, com prédios enormes e deveras trabalhosos para você encontrar o caminho certo para escalar. Mas eu valorizo bastante a Techland ter tido as bolas e o talento para fazer um segundo mapa que altera o gameplay básico nesse nível.
AH, E TEM O ELENCO!
Dying Light 2 é daqueles jogos que trazem celebridades no elenco. E isso nem sempre é positivo. O protagonista é feito por um influencer gringo chamado Jonah Scott. O cara tem a voz do Troy Baker, mas não tem a mesma capacidade interpretativa. Outro famoso que aparece é David Belle, o criador do parkour, que já brincou bastante de atuar em alguns filmes relacionados ao esporte. E daí temos a única celebridade que realmente deveria estar aqui.
Pois é, essa aí é a Rosario Dawson. Ela demora para aparecer na história, mas quando aparece se torna uma personagem bem importante. E certamente me parece um uso melhor de um ator/atriz famoso colocá-la como um companheiro, que interage com você durante boa parte da campanha, do que como um vilão. Rosario Dawson foi muito melhor aproveitada aqui do que Giancarlo Esposito em Far Cry 6, é o que estou dizendo. E ela é o ponto forte de um elenco relativamente fraco.
E ISSO CONCLUI A ANÁLISE DYING LIGHT 2
Eu comecei Dying Light 2 sofrendo de tédio. Cansado de mundo aberto, vendo tudo que ele trazia de genérico e seus inescapáveis problemas técnicos. Porém, ele foi me conquistando aos poucos, a ponto de que eu comecei a jogá-lo com cada vez mais prazer. No final das contas, acabei gostando, o que me deixou extremamente surpreso.
Eu não esperava terminar minha resenha de Dying Light 2 recomendando-o. Porém, este é o mundo em que vivemos. Uma continuação de um jogo fraco de mundo aberto, um que prometia 500 horas de conteúdo, acabou sendo bem melhor do que tinha direito de ser. Porém, os problemas técnicos são consideráveis, então recomendo com uma ressalva: espere alguns meses para jogar. Com isso, sua experiência há de ser bem melhor do que a minha foi.
MAIS DYING LIGHT E TECHLAND:
- Dying Light The Following
- Dead Island Definitive Edition
- Dying Light
- Dead Island
- Dead Island Retro Revenge