A Pele de Vênus

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Roman Polanski parece ter pegado gosto por adaptar peças de teatro, usando elenco reduzido e um único ambiente para o desenrolar da ação. Afinal, a exemplo de seu longa anterior, o bom Deus da Carnificina, seu novo trabalho, A Pele de Vênus, segue os mesmos preceitos, de forma ainda mais econômica.

Adaptado da peça de David Ives, o longa trata basicamente do teste da atriz Vanda para o diretor Thomas, tentando conseguir o principal papel feminino na peça de Thomas, por sua vez uma adaptação do romance A Vênus de Peles, de 1870, escrito por Leopold von Sacher-Masoch, livro que originou o termo “masoquismo”. O qual, combinado ao “sadismo” popularizado pelo Marquês de Sade, deu origem ao Megazord fetichista conhecido como “sadomasoquismo”.

Enquanto vão fazendo a leitura e se aprofundando nos papéis e nas motivações dos personagens e nos significados por trás da peça, atriz e diretor também vão experimentar uma troca de poder e analisar cada ato que os move e espelhar o próprio enredo da peça, aumentando a intensidade da leitura original.

Inteiramente passado dentro do teatro, com grande parte da história rolando em cima do palco, e com seus 96 minutos sustentados por apenas dois atores, este é o tipo de produção que a princípio parece um filme fácil, mas na verdade é bem o contrário, extremamente difícil de se realizar.

Afinal, apesar de ter propositadamente uma estética teatral (nesse caso, até na temática), ele tem de ser imagético o suficiente não só para justificar sua transposição para a mídia do cinema, mas também para evitar ser algo estático que acabe por entediar o espectador. Polanski domina o espaço do teatro com sua câmera, filmando de forma segura e elegante.

As interpretações da dupla de atores são ótimas, como não poderia deixar de ser num filme que se escora basicamente em cima deles, e vão mostrando suas diferentes nuances aos poucos, de maneira natural e condizente com o enredo. Diretor e atriz vão progressivamente mergulhando nos personagens para os quais estão lendo e assumindo suas personalidades, o que acaba por se refletir em seu comportamento.

Por pior ser humano que Roman Polanski possa ser, não dá para negar que ele é excelente cineasta (e eu sempre acho engraçado como as pessoas parecem não conseguir separar uma coisa da outra. É só ver o grande número de atores que defende o cara). A Pele de Vênus, contudo, me passou claramente a sensação de ser um longa menor em sua filmografia. É bom, mas não está entre os melhores ou mais citados exemplares de seu trabalho. Também não o achei tão bom quanto Deus da Carnificina, por exemplo.

Mas, ainda assim, é bom cinema e mais que recomendado a quem curte esse estilo de filmes, centrado em diálogos, passado em um ambiente só e com elenco reduzido. Se este é o seu caso, vale a pena dar uma chance a ele.

CURIOSIDADE:

– O romance A Vênus de Peles foi homenageado pelo Velvet Underground em sua canção Venus in Furs, do álbum The Velvet Underground & Nico (o famoso disco da banana). A música é até citada no filme e você pode ouvi-la abaixo:

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
a-pele-de-venusPaís: França/Polônia<br> Ano: 2013<br> Gênero: Drama<br> Duração: 96 minutos<br> Roteiro: Roman Polanski e David Ives<br> Elenco: Emmanuelle Seigner e Mathieu Amalric.<br> Diretor: Roman Polanski<br> Distribuidor: California Filmes<br>