A Pedra de Paciência

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Eu não sei exatamente o que dizer para começar esta resenha, exceto isto: deve ser uma porcaria morar no Afeganistão. E pior ainda se você for mulher. Ao menos esta é a impressão que A Pedra de Paciência passa a quem assiste.

Trata-se da história de uma mulher que tem de cuidar das duas filhas pequenas e do marido que virou um vegetal após levar um tiro. O resto da família os abandonou e agora ela tem de encarar a encrenca sozinha, em situação precária, enquanto milícias invadem sua vila constantemente e esburacam as paredes de sua casa com balas perdidas.

Este é um daqueles filmes que seguem a linha “estudo de personagem”, revelando suas camadas aos poucos. À medida que vai falando com o marido inválido, ela vai revelando sua história de vida, facetas e anseios insuspeitos, e mostrando uma personalidade que nunca conseguiu revelar a ele quando estava saudável.

Também vai expor segredos e comportamentos tidos como proibidos pela cultura muçulmana em longos monólogos. E esta é a força e a fraqueza do filme. Pois, ao mesmo tempo em que constrói uma ótima protagonista totalmente tridimensional que nos ajuda a compreender a visão de uma mulher imersa em costumes e tradições tão opressores e distantes dos nossos, também é uma forma narrativa que cansa rápido.

Monólogos não são exatamente a forma mais cinematográfica de se contar uma história, o que deixa o filme bem lento no geral, e por demasiado arrastado em algumas partes específicas. Por conta disso, acabei dispersando em vários momentos, dando umas boas viajadas em minha cabeça, onde estava passando mentalmente Rambo III, outro longa passado no Afeganistão, porém um tanto mais movimentado.

Fazer o quê, preciso admitir que esse tipo de drama tenso e devagar, mais interessado em construir um retrato e não necessariamente a chegar a algum lugar nunca foi meu estilo favorito. Mas eu realmente estava gostando no começo. O problema, como já disse, é que ele passa a cansar rápido demais.

É bem filmado, tecnicamente impecável e conta com boas atuações. Ou seja, tinha tudo para ser um filme nada, mas como não entretém a contento, acabou perdendo o meio Alfredo que lhe concederia a denominação.

Ainda assim, é preciso entender que A Pedra de Paciência é um daqueles longas que não são para todo mundo, focado num grupo muito específico, que você deve conhecer como os admiradores do cinema de arte, além daqueles curiosos que gostam de ver produções de lugares diferentes do mundo. Mas mesmo para este pessoal, não diria que encarar uma sessão deste aqui seja uma aposta certeira. E se você não faz parte deste grupo, é melhor nem arriscar.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
a-pedra-de-pacienciaPaís: Afeganistão / França / Alemanha / Reino Unido<br> Ano: 2012<br> Gênero: Drama<br> Duração: 102 minutos<br> Roteiro: Jean-Claude Carrière e Atiq Rahimi<br> Elenco: Golshifteh Farahani, Hamid Djavadan e Hassina Burgan.<br> Diretor: Atiq Rahimi<br> Distribuidor: Imovision<br>