Nota: A coluna Pensamentos Delfonautas é o espaço para o público do DELFOS manifestar suas opiniões e pensamentos sobre os mais variados assuntos. Apesar de os textos passarem pela mesma edição que qualquer texto delfiano, as opiniões apresentadas aqui não precisam necessariamente representar a opinião de ninguém da equipe oficial. Qualquer delfonauta tem total liberdade para usar este espaço para desenvolver sua própria reflexão. Se você quer escrever um ou mais números para essa coluna, basta ler este manual e, se você concordar com os termos e tiver algo interessante a dizer, pode mandar ver. Inclusive, textos fazendo um contraponto a este ou a qualquer outro publicado no site são muito bem-vindos.
Caros colegas delfonautas, vivemos cercados por notícias chocantes relativas à violência. Vários tipos dela, para ser mais explicativo. Nesse contexto, vemos o que eu chamo carinhosamente de “carros-chefes e seus afluentes”. Primeiramente, deixem-me explicar o conceito de “carro-chefe” nesse contexto. É assim: Temos uma notícia que mobiliza a opinião pública. Essa notícia é o carro-chefe da repercussão da violência e os desdobramentos do mesmo. Os “afluentes” são aquelas notícias que se assemelham aos “carros-chefes” e são “usadas” pra manter a opinião pública comovida e ligada nos veículos jornalísticos. Por exemplo, já repararam como as notícias de violência policial vêm em ondas? Não são constantes. Multiplicam-se a partir da primeira relevância, mas… será que deixaram de ocorrer nesses intervalos?
É o mesmo caso com a notícia do momento da escrita deste texto (julho de 2008), isto é, o menino de três anos baleado por policiais (aqui) no Rio de Janeiro e que teve morte cerebral constatada horas depois do ocorrido. Amigos, não quero ser advogado do diabo (apesar de a vaidade ser meu pecado favorito) e não vou me juntar à multidão enfurecida com tochas, enxadas e picaretas que busca os algozes da sociedade para linchar com toda a pompa e circunstância. Também não vou ficar em cima do muro (Ué, mas onde raios você vai ficar?). Vou tentar ser um analista da situação (não sendo policial, sou só um espectador, no máximo, uma potencial vítima). Não vou me prolongar nesse “se liga no contexto” e anuncio o próximo parágrafo como o revelador do motivo do título deste texto.
Como eu avisei anteriormente, não vou julgar ninguém, mas comparar algo que me fez divagar recentemente. Desde muito tempo, vivemos com notícias freqüentes de violência policial e tal, mas cada vez que o assunto vem à tona, outros 300 afluentes surgem na cauda do cometa. Isso acontece agora, que a cada momento aparece um caso de policiais agredindo civis (uns inocentes, outros nem tanto, mas deixa pra lá). Só que o que me atraiu a esse assunto foi a forma como os bons policiais são incluídos no pacote, além de seus feitos em favor da sociedade, da lei, não terem nem metade do peso das covardias e trapalhadas de seus colegas menos competentes. Isso me fez lembrar de alguns clichês que se repetem em forma de frases preconceituosas nessas horas: “até quando teremos uma polícia despreparada?, “O povo não agüenta mais”, “Vivemos em meio a uma guerra civil”… Hum… Guerra civil… É aí que eu queria chegar!
Não vejo ninguém acompanhar a prisão de algum criminoso famoso e dizer “É, gostei de ver, lembro dos outros caras que vocês prenderam e sei que vocês estão aí!”. Mas, quando alguém leva uma bala perdida, a polícia toda não presta. Isso me remete a um diálogo da mini Guerra Civil (da Marvel, sabe? Ah, não precisa explicar, né?) entre o Tocha Humana e uns caras na frente de uma boate. No diálogo, os “civis” questionam ao segurança do lugar sobre a entrada de Johnny Storm no recinto sem encarar a fila. Joãozinho Tempestade debocha deles como se ganhasse credenciais por salvar o mundo, o que irrita ainda mais a galera. Vê-se nesse momento que a revolta com o desastre que originou a tal Guerra Civil fez a população generalizar. Se tem poderes, olhemos com desconfiança. Se trocarmos os poderes por armas de fogo “convencionais” e os colantes super-coloridos por fardas, adivinha o que sobra?
Tanto policiais como meta-humanos são potencialmente perigosos, mas assim como os mutantes (os da Marvel, não os da Record!), por exemplo, existem os que são a favor da paz e da justiça e existem os criminosos, terroristas, etc (sem maniqueísmo!). Eu seria a favor do registro, regularização e preparação. Tanto na saga quadrinhística quanto na vida real onde, ainda e infelizmente, a polícia mata quem precisa de polícia. É essencial que tenhamos, trabalhando pela nossa segurança, pessoas que tiveram treinamento e preparação. Já pensou em como notícias de violência policial se multiplicariam se cada um resolvesse sair pelas ruas usando máscaras e armas “não-convencionais” pelas ruas. Provavelmente viveríamos dizendo coisas do tipo “Policial, obrigado por salvar minha vida e matar o bandido, mas precisava metralhar meu carro?” ou “Capitão, valeu, o bandido foi preso, mas ainda não sinto minhas pernas”.