A Casa Silenciosa

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Qualquer delfonauta que se preza deve lembrar de A Casa, aquele filme de terror uruguaio que nada mais é do que um plano-sequência de 78 minutos no qual vemos uma garota andando por uma casa. Ou talvez você se lembre dele por ter sido o primeiro longa filmado com uma câmera fotográfica. Esta é sua versão estadunidense.

Como você deve se lembrar da minha detalhada resenha de A Casa, a única coisa mais interessante dele é o fato de ser um aparente plano-sequência. Isso se repete aqui.

Elizabeth Olsen é uma moça que está ajudando seu pai a arrumar as coisas de uma antiga casa para colocá-la à venda. Logo, porém, ela vai começar a ouvir coisas e vai perceber que eles não estão sozinhos ali. A câmera acompanha a teteia o tempo todo, e os cortes do filme são todos disfarçados, para dar a sensação de ser um único plano de 85 minutos.

Não vou repetir a longa introdução que fiz à técnica na resenha. Se você não sabe o que é plano-sequência ou quer saber mais sobre isso, clique lá.

Na resenha do filme uruguaio, eu inclusive elogiei quão bem disfarçados estavam os cortes, uma vez que percebi apenas quatro ou cinco. Aqui isso está ainda melhor. Mesmo procurando por eles, eu percebi apenas dois. Um lá pela metade do filme, quando a garota sai da casa, e outro, bem óbvio, rola uns 10/15 minutos depois, na hora que as luzes se apagam.

Segundo a Wikipédia, A Casa Silenciosa foi filmado em planos de 12 a 15 minutos, o que significa que deve ter havido uns seis cortes. Eu ter percebido apenas dois deles denota o excelente trabalho de edição, mas a meu ver o simples fato de terem usado cortes tira boa parte da graça de um plano-sequência.

Ainda assim, planos de 12 minutos são longuíssimos, e várias das cenas são dificílimas. Em determinado momento, a garota sai correndo da sala de jantar, sobe a escada, entra em um quarto e fecha a porta com a câmera dentro do quarto, tudo sem cortes. Imagina como deve ter sido difícil filmar isso e quantas vezes a porta deve ter esbarrado na câmera?

Em outros momentos, a criatividade também se destaca, especialmente em uma hora que a moça abre a porta e sai da casa, mas a câmera não a segue. Ao invés disso, a filma através da frestinha da guarnição. Eu diria que a direção aqui é até mais criativa do que a do original, e por isso mesmo acabou levando meio dragão a mais.

A direção também é mais safadinha. Chega a ser engraçada a insistência em fazer repetidos downblouses na Elizabeth Olsen. Longe de mim reclamar de boobies, no entanto. Helicópteros explodindo e decotes generosos são os dois maiores alicerces para um cinema de qualidade.

Infelizmente, exatamente como ocorre em sua contraparte uruguaia, plano-sequência é uma ferramenta que diverte por uns cinco minutos, mas não consegue tornar bom um filme ruim.

Se a filmagem é até mais legal que a original, todos os defeitos uruguaios vieram junto. Repetição insistente de cenas óbvias, um monte de sustos “bu” e, o mais grave, o fato de que simplesmente não acontece nada no filme inteiro. São 85 minutos da garota andando para cima e para baixo na casa, com a mesma viradinha previsível e sem sentido do original. Afinal, como já disse no spoiler escondido da outra resenha, a câmera acompanha a guria o tempo todo!

Considerando que a única coisa que fez A Casa despertar algum interesse e fazer algum sucesso foi justamente a apresentação em plano-sequência, Hollywood poderia simplesmente ter feito um outro filme usando a mesma técnica, ao invés de refazer um filme que, tirando isso, era totalmente desprovido de méritos.

Assim, A Casa Silenciosa pode ser interessante para quem se interessa por técnica cinematográfica, mas plano-sequência por plano-sequência, tem um monte de outros filmes mais interessantes que usam a técnica, como o sempre lembrado Festim Diabólico, clássico do Alfred Hichcock e, esse sim, um filmão.

CURIOSIDADE:

A Casa Silenciosa também foi filmado com uma máquina fotográfica: uma Canon EOS 5D.