Com o recente relançamento da coleção Devil May Cry para os consoles da geração atual, eu resolvi aproveitar que todos os cinco jogos da série estão disponíveis para os consoles atuais e jogar todos em uma tacada só.
Haja pintudice
Pois é, caro leitor. Definitivamente Devil May Cry não é uma série especialmente acessível. Ela exige alguma paciência e muita dedicação, mas tal qual Dark Souls, a experiência de jogá-los é marcante. Além disso, são jogos importantíssimos na história dos games de ação e, como tal, merecem ser sempre lembrados. Gosto muito da série. Muito mesmo. Mas é inegável que todos os cinco jogos têm problemas consideráveis, que impedem o total desfrutamento deles. Vamos falar um pouco de cada um?
DEVIL MAY CRY: UM INÍCIO IMPRESSIONANTE
A primeira aventura do Dante é, atualmente, o jogo da série mais datado e mais punitivo. Trata-se de uma aventura difícil, mas seu principal pecado é que não existem checkpoints. Ou melhor, os checkpoints são consumíveis.
Quando você morre, usa automaticamente uma yellow orb, que te retorna ao último checkpoint. Você começa com alguns yellow orbs, encontra alguns nas fases e também pode comprá-los. Mas os preços dos itens no jogo sobem a cada compra, o que pode torná-los bastante caros. Além disso, é necessário escolher se você vai gastar suas red orbs (a XP do jogo) em necessários upgrades, itens ou em checkpoints.
Caso você morra sem ter yellow orbs, volta para o começo da fase (supondo que você salve manualmente entre uma fase e outra). Outro problema? Não dá para morrer e escolher não usar uma yellow orb. Você pode, por exemplo, morrer de bobeira no início de uma missão ou em uma fase que consiste apenas de um chefe (o que significa que o checkpoint é inútil). Nesses casos, você é obrigado a sair do jogo e carregar o save, algo bem chatinho e pura perda de tempo.
Eu resolvi este problema fazendo grinding no capítulo 4, onde aparece uma aranha que é facilmente vencível e dá 500 red orbs. Eu a matava, salvava e carregava o save. Fiz isso até comprar todos os upgrades e, especialmente, upar minha vida. Ou eu jogava meu tempo fora neste grinding ou arriscava perder ainda mais tempo nos chefes difíceis do final do jogo. Optei pelo primeiro caso, mas fui inteligente. Guardei um save devidamente upado na fase 4. Daí, se quiser jogar Devil May Cry de novo desde o início, posso jogar os três primeiros capítulos e então continuar do meu save. Inteligência!
Mas depois disso
Por que me dei a este trabalho todo, você pergunta? Porque, apesar de ser ridiculamente punitivo, o primeiro Devil May Cry é sensacional. Tem os melhores cenários e o melhor level design da trilogia lançada no PS2. Além disso, era um jogo muito à frente da sua época. Uma obra lindíssima, com um gameplay sensacional e um clima que fica marcado na cabeça de todos os que o jogam.
Para você ter uma ideia, o pessoal da Santa Monica Studio (pois é, a turminha que fez God of War), se referia ao jogo como “game developers may cry“, de tão impressionante que ele era na época. Claro, hoje em dia você não vai se impressionar tecnicamente com seu visual, mas artisticamente ele ainda é muito bonito e, principalmente, a animação é muito marcante.
O jogo também é a primeira aparição de Dante, o demônio fanfarrão, embora ele ainda não seja tão fanfarrão por aqui. Devil May Cry tem pouquíssimas cutscenes e em algumas delas há traços do Dante que ficaria famoso, mas em geral ainda é um jogo de ação sério.
Survival horror
Aliás, nem todos sabem, mas o desenvolvimento de Devil May Cry começou com a intenção de criar um novo Resident Evil. Há vários resquícios do gênero survival horror neste primeiro lançamento, como puzzles relativamente complexos e a necessidade de conhecer bem o cenário do jogo para não se perder. Repare também como há longos trechos sem lutas, em especial como demora para os primeiros inimigos darem as caras.
São coisas que você nem percebe jogando hoje, pensando na franquia como uma série de ação e comédia, mas é interessante analisar o primeiro jogo sob essa ótica e ver como o título evoluiu em suas próximas iterações.
Há também os chefes, que considero um ponto fraco em toda a série. Simplesmente há chefes demais e as lutas são muito longas. Neste primeiro jogo, as lutas com os chefes costumam rolar no final das fases, e são apenas nelas que você tem grandes chances de morrer. E lembre-se, você precisa ter um item para tentar de novo. E jogar uma fase de 20 a 30 minutos inteira só para uma nova tentativa contra um inimigo apelão é injusto e incompatível com a vida de alguém que trabalha e tem família.
De qualquer forma, ainda considero o primeiro jogo uma obra brilhante, e acho uma grande pena que, nestes relançamentos que a Capcom faz a cada nova geração, eles não se deem ao cuidado de colocar a opção de checkpoints, como fizeram na Special Edition do terceiro. Isso tornaria o jogo muito mais fácil de recomendar hoje em dia, especialmente para pessoas que não têm tempo de ficar repetindo as mesmas fases várias vezes ou fazendo grinding.
Nesta rejogada de 2018, eu terminei Devil May Cry em 6h20m. Neste tempo não está incluído totalmente o grinding, já que boa parte do tempo do grinding, você passa nos menus, salvando e carregando o jogo.
DEVIL MAY CRY 2: DANTE S2 LUCIA
Este é o jogo mais fora da curva da série. Há muitas características aqui que podem levar o jogador mais radical a pensar que eles traíram o movimento. A primeira delas é a mudança de gênero. Devil May Cry 2 não é mais um metroidvania, mas um jogo de ação linear, bem mais próximo de um beat’em up tradicional.
Cá entre nós, esta é uma mudança que considero positiva, uma vez que o backtracking é um problema constante na série, e não existe aqui. Infelizmente, todos os jogos, sem exceção, sofrem de últimas fases consideravelmente inferiores às primeiras, e este não escapou disso, mesmo sendo o mais curto de todos.
Outra “traição do movimento”, e esta é a que, para mim, torna este o jogo mais fraco da série, são os cenários pouco inspirados. Saem aqueles castelos góticos e o climão místico. Boa parte de Devil May Cry 2 rola em cenários urbanos, e entre os inimigos estão tanques e helicópteros.
Este talvez tenha os piores chefes, e em maior quantidade. Vários dos chefes são lutas à distância, e as armas de fogo do Dante são bem fracas, tornando cada batalha uma prova de resistência, não de habilidade.
Acessibilidade
Algo que dividiu opiniões é que este é também o jogo mais fácil da série. E isso não acontece porque agora há checkpoints, mas por ele ser bem mais fácil mesmo. Para você ter uma ideia, eu terminei Devil May Cry 2 sem morrer nenhuma vez. E sem grinding ou algo do tipo. Isso não é algo que considero ruim, mas teve gente que reclamou no lançamento.
Talvez o erro da Capcom aqui tenha sido esconder as dificuldades mais altas. Para jogar no hard e no tradicional modo sadomasoquista Dante Must Die, você precisa terminar o jogo várias vezes. Com uma simples opção no menu, isso poderia ser resolvido e cada pessoa jogaria na dificuldade que lhe apetecesse.
Um jogo dividido
Uma inovação de Devil May Cry 2 é que, no PS2, ele vinha em dois discos. A sacada é que cada disco tinha um jogo completo, e relativamente diferente. No disco um, é claro, você controla o Dante. Porém, o disco dois contém a campanha da nova personagem Lucia. Embora ela tenha sua própria história, que se encontra com a do Dante em vários momentos, várias das fases de um estão também na do outro.
Isso foi o início de outra constante na série: a sua obsessão em colocar outros personagens controláveis além do Dante. A questão não é que esses lutadores sejam feitos nas coxas. Pelo contrário, eles são bem elaborados e bastante diferentes do protagonista. No entanto, todo mundo joga Devil May Cry para controlar o Dante. A insistência em colocar outros controláveis na série lembra o que acontece com o Sonic. Vira e mexe o porco-espinho se transforma em lobisomem ou exige que você controle a Amy ou qualquer outro da turminha, enquanto todo mundo só quer jogar com o Sonic original, e todo o resto é, literalmente, resto.
Esta divisão da história faz com que cada campanha seja mais curta (terminei a do Dante, agora em 2018, em 3h41m). Claro, jogar com a Lucia vai quase dobrar esse tempo, mas nem todo mundo tem vontade de jogar quase todas as mesmas fases com outra personagem. Embora seja um jogo inferior ao original, Devil May Cry 2 deu bons passos rumo à acessibilidade tão em falta no anterior.
A história também merece comentários. Aqui não há humor nenhum. Apesar de ser um jogo de ação puramente dito, Devil May Cry 2 traz um Dante totalmente sério, que quase não fala, mesmo nas poucas cutscenes do jogo. Lado positivo: o design do Dante por aqui é o mais legal da série. Também é o personagem mais completo. Suas habilidades no terceiro jogo seriam divididas em “estilos” e você pode usar só um por vez, enquanto aqui ele faz tudo.
DEVIL MAY CRY 3: RETORNO ÀS RAÍZES
Devil May Cry 3 foi literalmente um retorno às raízes. A dificuldade agora era altíssima (bem superior à do primeiro) e o gênero voltou ao metroidvania. Novamente, não havia checkpoints e os chefes vinham sempre no final das fases. Este é um jogo muito exigente, literalmente para poucos. Na época do lançamento, joguei numa boa até chegar no primeiro chefe propriamente dito, e comecei a morrer. Tive que repetir a fase muitas vezes até conseguir matá-lo, apenas para morrer no chefe da fase seguinte. Ao me ver obrigado a repetir o processo a cada novo capítulo, desisti.
O comentário das pessoas em geral era como o Dante era praticamente imortal nas cutscenes e como isso contrastava com quão frágil era o personagem quando estava no controle do jogador. Felizmente, a Capcom percebeu quanta gente não tinha tempo para se dedicar ao jogo no estado em que foi disponibilizado e lançou logo a Special Edition. A nova edição trazia a possibilidade de controlar o Vergil, mas o mais importante: era possível escolher ter ou não checkpoints nas fases.
Por que alguém optaria pela negativa é algo que não faz sentido para mim (nas versões mais novas há um troféu/conquista para terminar neste modo, mas no PS2 não tinha incentivo algum). Isso possibilitou que muito mais gente curtisse o jogo e aproveitasse as várias melhorias que ele trouxe à série.
Finalmente acessível
Devil May Cry 3, mesmo em sua punitiva versão original, tinha uma série de melhorias de qualidade de vida. Agora era possível, por exemplo, repetir qualquer fase já concluída com seus novos upgrades, ganhando mais XP e possibilitando novas melhorias para as fases seguintes. Assim, você podia espaçar seu grinding conforme encontrasse dificuldades, ao contrário do primeiro, no qual você precisava ficar horas repetindo a fase 4 porque depois não teria outras chances. Além disso, dá para jogar uma segunda vez (ou uma terceira, quarta ou quinta) em dificuldades maiores com seu personagem já upado, o que é bem legal.
Isso foi uma melhoria considerável. A série sempre foi impressionante, mas em Devil May Cry 3: Special Edition, finalmente se tornou divertida. Há muitas melhorias de gameplay também, tornando o combate mais fluido e muito mais agradável.
Devil May Cry 3 é uma prequência, mas foi finalmente neste jogo que a série encontraria seu tom. Quando as pessoas pensam no Dante e em Devil May Cry, pensam no personagem e nas cutscenes como estão neste jogo. Aqui sim, Dante virou, de fato, um demônio fanfarrão, que tira sarro dos chefes, não tem medo de nada e é basicamente a versão japonesa de um super-herói altamente viril (que é bem diferente da ideia ocidental que vemos em personagens como o Kratos, por exemplo).
Ao jogar toda a série hoje em dia, com o que sabemos dela, é curioso pensar que o Dante como o conhecemos só apareceu mesmo no terceiro jogo. As cutscenes estilosas, cheias de cenas de ação impressionantes, também estão aqui em seu melhor momento. Meu único problema neste aspecto é o design do Dante. Eu realmente não acho legal o visual sem camisa que ele usa neste jogo.
Mas não o melhor
Devil May Cry 3 pode ser considerado uma das melhores sequências da história, pelo que fez para a série e para seu personagem. Porém, ele peca em um aspecto bem importante: design visual e de fases. Ele tem, sem dúvida, os melhores gráficos até este ponto, mas também tem seu design menos inspirado. 90% do jogo acontece em uma torre demoníaca, e ela é quase totalmente cinza e com poucos detalhes. Mesmo o primeiro jogo tendo gráficos mais simples, ele tinha um visual bem mais bonito, agradável e colorido.
Além de o jogo ser bem monocromático, o level design tem muito – MUITO – backtracking. Algum backtracking faz parte do gênero metroidvania, mas este realmente exagera na dose. Basicamente, na segunda metade do jogo você está andando pelas mesmas fases de antes, tentando lembrar onde estava aquela porta trancada para a qual agora você tem a chave.
Nesta jogada de 2018, terminei Devil May Cry 3 em 10h36m.
DEVIL MAY CRY 4: UMA NOVA GERAÇÃO
Este foi o último jogo da série desenvolvido pela Capcom, e o primeiro para a então nova geração (PS3 e Xbox 360). Aliás, na época de seu lançamento, o DELFOS já existia. Sabe o que isso significa? Eu o resenhei muitos anos atrás.
Assim como em todo o restante da série, este traz evoluções consideráveis, mas traz problemas que a Capcom não parece disposta a resolver. A primeira delas é a mudança de protagonista. É incrível que a Capcom tenha um personagem tão famoso e querido quanto o Dante, mas fique enchendo seus jogos com genéricos esquecíveis. O genérico esquecível desta vez é Nero. Felizmente, embora ele não seja um personagem tão marcante ou tão engraçado quanto o Dante, como lutador ele é bem parecido. Na verdade, ele é até melhor do que o Dante.
Uma “falha” frequente na jogabilidade é que um dos golpes mais usados do Dante consistia em uma corridinha chamada Stinger, que ataca inimigos distantes, mas também os joga para longe. Nero traz uma habilidade extra, que possibilita agarrar e trazer os inimigos para perto. O combo disso com o Stinger torna jogar com Nero mais prazeroso do que com o protagonista mais famoso. Tanto que até no próximo Devil May Cry, a habilidade de puxar os inimigos foi incorporada no próprio Dante (mais sobre isso em breve).
Mantendo o que já era bom
Devil May Cry 4 continua o rumo à acessibilidade da franquia. As fases continuam selecionáveis e repetíveis. Agora o jogo salva automaticamente entre as fases, sem a necessidade anterior de ficar salvando e administrando campos de saves. Se você evoluiu algo em seu personagem ou na sua campanha, nunca mais vai perder isso, e pode usar seus avanços em dificuldades mais avançadas.
Outro acréscimo muito bem-vindo é a possibilidade de “devolver” seus upgrades pelo mesmo valor que pagou por eles. Isso dá uma liberdade considerável e muito agradável. Comprou algo, mas não gostou? Devolva e pegue outra coisa no lugar. Em matéria de qualidade de vida, Devil May Cry 4 é perfeito, todo jogo deveria funcionar como ele.
A narrativa também ficou bem mais redondinha. Em todos os outros jogos, você só via os chefes quando ia lutar com eles. Aqui, na primeira cutscene já aparecem vários dos principais chefes do jogo, e eles são desenvolvidos em várias cutscenes independentes dos protagonistas. Falando em chefes, aliás, confira no vídeo abaixo eu dando uma surra com o Nero em um dos chefes do jogo.
E o Dante?
Lembra que eu falei que todo Devil May Cry tem fases finais fracas? Pois este é aquele no qual isso é mais grave. O jogo começa sensacional, trazendo o level design metroidvania belo e criativo do primeiro, turbinado por um visual estilizado que não envelheceu nada (ele ainda é lindo hoje). O problema é quando você chega do outro lado do mapa, o ponto ideal para a campanha acabar. Ela não acaba. A partir daí, você assume o controle do Dante.
Este era o momento mais esperado do jogo, e de fato as cutscenes ganham muito pelo humor que o personagem traz a elas. Sem exagero, os encontros do Dante com os chefes são de gargalhar.
Porém, o personagem é muito pior para controlar do que o Nero. A Capcom trouxe de volta a obrigação de escolher um estilo, como no terceiro, o que o torna mais limitado. O pior mesmo é que as fases do Dante consistem em jogar o jogo todo de novo, desta vez indo do fim ao começo. Isso inclui lutar novamente contra quase todos os chefes. Para completar, quando você termina de voltar todo o caminho, reassume o controle do Nero, e daí tem que matar os mesmos chefes uma terceira vez, todo mundo na mesma fase. E dessa vez sem cutscene ou qualquer contexto, eles simplesmente aparecem na sua frente. É bem chatinho.
Este backtracking do jogo inteiro já é ruim por si só, mas quase todas as fases com o Dante trazem modificações pentelhas. Coisas artificiais como limite de tempo ou perder progresso caso você fique por alguns segundos no mesmo lugar. Poucas vezes foi tão clara a tentativa de estender um jogo além da conta quanto em Devil May Cry 4 e acho que isso nunca deu tão errado. E é uma pena, porque ele poderia ser o melhor da série, e uma obra quase perfeita se terminasse em seu ponto natural, quando você atravessa o mapa inteiro.
DMC – DEVIL MAY CRY: A REIMAGINAÇÃO
Eu já deixei claro aqui que sou fãzaço da Ninja Theory. Ao ler este texto, também deve ter ficado claro o quanto eu gosto de Devil May Cry. Ter a que considero uma das melhores desenvolvedoras de games reimaginando uma das séries que eu mais gosto era algo bem promissor. E, de fato, DMC – Devil May Cry é um jogaço e tem resenha no DELFOS.
Tudo que a série tinha de bom
DMC foi bastante inteligente em sua construção, e trouxe de volta tudo que a série trouxe de bom nos quatro jogos desenvolvidos pela Capcom. Há a seleção de fases e dificuldade, os upgrades reembolsáveis e saves automáticos (agora salvando também os checkpoints, então dá para parar de jogar a qualquer momento).
Eles ainda acrescentaram uma nova característica que foi muitíssimo bem-vinda: o funcionamento das missões secretas. Estas fases, principal fonte de upgrades de vida, sempre estiveram escondidas na série. E continuam. Porém, uma vez que você encontra uma delas, pode jogá-la novamente pelo menu a qualquer momento. Então, se antes você era obrigado a tentar várias vezes cumprir uma delas no meio da fase, aqui pode simplesmente deixar para depois. Isso deixou o jogo mais prazeroso, pois as missões secretas são difíceis e funcionam como minigames separados das fases.
Além disso, se você entrasse numa delas e perdesse muita vida, tinha que continuar jogando quase morrendo mesmo. Torná-las uma parte separada da campanha fez com que o desafio delas ficasse bem mais aprazível.
A polêmica do novo Dante
O novo Dante, com o visual emo, gerou bastante polêmica entre os fãs da série. Na verdade o que a Ninja Theory fez foi reinterpretar o personagem clássico sob o ponto de vista ocidental. Isso incluiu a tradicional cena de sexo com duas mulheres, bastião máximo da virilidade ocidental. Mas com isso ele ficou bem diferente. Muito do humor foi embora, e o novo Dante é muito mais um moleque marrento do que um herói sem medo. Esta ocidentalização do game também trouxe consigo um monte de palavrões e um visual mais sujo, longe do gótico/místico da série clássica.
Aliás, a história em si é uma reinterpretação dos dois primeiros jogos. O vilão é Mundus, assim como no primeiro, mas ele agora não é uma entidade quase divina, mas um empresário demoníaco que comanda uma holding no mundo real, como o vilão do segundo jogo.
Um problema que eu tenho com DMC é que todas as suas fases acontecem no Limbo, que na história do jogo é uma dimensão paralela à nossa. Artisticamente, a Ninja Theory optou por diferenciar o Limbo com alguns efeitos oníricos e cores saturadas. Isso, para mim, deixou o jogo menos bonito e menos marcante. Basicamente, por mais que eu goste de DMC, eu gosto mais do Dante e da estética da série como foram imaginados pela Capcom.
Ainda assim, controlar o Dante por aqui é extremamente prazeroso. Seus ataques são rápidos e estilosos – como sempre foram – e, por influência do Nero de Devil May Cry 4 – agora é possível puxar um inimigo até você ou se aproximar dele rapidamente. Isso torna a ação em DMC quase ininterrupta e uma coisa linda de se ver, digna de filmes chineses de kung fu, só que bem mais rápida.
Além disso, os aspectos de plataforma da série, que sempre foram um ponto fraco, aqui foram perfeitamente desenvolvidos, tornando agradável desviar das armadilhas que o jogo joga em sua direção.
A maldição das últimas fases
Assim como o segundo jogo, DMC é um jogo de ação linear, com fases independentes. Ele tem também os melhores chefes da série inteira, com batalhas que normalmente ocupam um capítulo inteiro da história, bem do jeito que eu gosto.
Porém, nem todas as fases são tão legais. Há um trecho no meio do jogo no qual você passa vários capítulos em um cenário azul e sem graça. Além disso, as últimas missões são bem chatinhas, não pela dificuldade (DMC acerta em ter dificuldade totalmente customizável, indo do muito fácil ao quase impossível), mas porque elas não são tão interessantes mesmo. A Ninja Theory mandou muito bem – muito bem MESMO – no gameplay e na qualidade de vida, mas pecou no level design.
Isso não significa que não haja fases brilhantes. O início do jogo, por exemplo, é fantástico, assim como uma fase que acontece em uma discoteca infernal, envolvendo muito humor e um cenário quase abstrato muito legal.
Assim, como todos os outros, este também é um tanto irregular, com altos muito altos e baixos relativamente baixos.
O FUTURO: DEVIL MAY CRY 5?
Não há nada oficial até o momento, mas há rumores muito fortes de que um próximo Devil May Cry está sendo desenvolvido pela Capcom. Tudo indica que será o jogo do início de 2019 lançado pela desenvolvedora (2018 e 2017 viram os lançamentos, respectivamente, de Monster Hunter: World e Resident Evil 7).
Também parecem confirmados os retornos dos atores Rueben Langdon como Dante, Johnny Young Bosch como Nero, e Dan Southworth como Vergil. Todos os três personagens devem ser jogáveis, o que infelizmente demonstra que mais uma vez o foco não vai ser apenas no Dante, como deveria. Com isso, o único jogo da série em que o Dante é o único personagem jogável é o primeiro.
O nome dos atores e o suposto título Devil May Cry 5 também dão a entender que o jogo será uma sequência do quarto e vai ignorar totalmente o DMC da Ninja Theory.
Curioso, eu sinceramente esperava que a história continuasse a partir do reboot como rolou com Tomb Raider, mas fico feliz de ter novamente os personagens como foram idealizados pela Capcom. Devemos saber mais em breve, na E3 2018. Se quiser acompanhar todos os rumores relativos ao novo jogo, minha fonte para o que citei aqui foi este link da US Gamer.
Torço para que a desenvolvedora japonesa siga a tradição da franquia de deixar o jogo cada vez mais acessível (por favor não tire a possibilidade de fazer as missões secretas quando a gente quiser, Capcom!) e que finalmente faça um jogo sem os “poréns” que permearam todos os lançamentos até agora. Sem dúvida há talento nos idealizadores, carisma nos personagens e um dos melhores gameplays dos jogos de ação. Com um level design bem planejado, há grande possibilidade de Devil May Cry 5 ser o grande jogo de 2019. Eu estou esperançoso.
A série “… de cabeça fria” envolve voltarmos a vivenciar algo antigo e que às vezes até já resenhamos aqui no DELFOS com a cabeça fria e com nossas experiências atuais. Se você gostou, mostre pra gente fazendo comentários e compartilhando, pois nos esforçaremos para fazer muitas outras.