Em 2007, eu escrevi o texto A triste vida de um jornalista pobre, relatando a minha jornada para chegar a uma cabine marcada no fatídico Kinoplex. Dez anos se passaram. Muitas outras cabines foram feitas lá desde então e chegar lá continuou sendo um suplício. Em outras palavras, em dez anos o transporte público de São Paulo aumentou de preço consideravelmente, mas não melhorou em nada sua qualidade.
Apesar de o Kinoplex ficar a poucos quilômetros da minha residência, é complicado chegar lá de transporte público, já que a área não tem metrô (desde 2007 tem uma linha de metrô que deveria ajudar nisso, e ela sempre está para ser inaugurada “ano que vem”) e poucos ônibus passam lá.
Com o costume, no entanto, aprendi a sair de casa com pouco mais de uma hora de antecedência. É um absurdo, considerando que o lugar deve ficar a bem menos de 10 km daqui. Mas é o que demora, então é o jeito. Só que os planos vão por água abaixo quando o maldito único ônibus que serve para você demora 40 minutos para passar. #FML
ZEMECKÃO NA SEGUNDA GUERRA
Ver a filmografia do Robert Zemeckis no IMDB é algo impressionante. O sujeito tem no currículo apenas os três De Volta Para o Futuro, Forrest Gump e Uma Cilada Para Roger Rabbit. Em outras palavras, Zemeckão dirigiu cinco dos melhores filmes da história, e ainda fez outros filmes bacanas.
Depois de Náufrago, em 2000, no entanto, ele cismou de dirigir aqueles desenhos com captura de movimentos que são feios pra caramba. Isso culminou no terrível Os Fantasmas de Scrooge. Eu ainda não me acostumei com o fato de que o filme que eu mais gosto e um dos que eu mais desprezo foram dirigidos pela mesma pessoa.
Felizmente, depois de Os Fantasmas de Scrooge, Zemeckão voltou ao cinema com pessoas filmadas e dirigiu O Voo e A Travessia, que são bacanas, mas estão bem distantes do seu auge como capitão dos melhores filmes da história.
No filme de hoje, Zemeckão demonstra que a criatividade ficou lá nos anos 80 e resolve contar uma história no período da Segunda Guerra, provavelmente a época da história mais abordada pela cultura pop. Até os videogames, forma de comunicação avessa a inovações, parou de fazer jogos na Segunda Guerra lá pelo Call of Duty 3. E estamos falando de uma mídia que, de 2009 a 2015 lançou dois, três e às vezes até mais Assassin’s Creed por ano.
Hollywood, no entanto, parece não perceber que a temática nazista já está totalmente esgotada há algumas décadas, e todo ano temos dezenas de produções do gênero. Felizmente, Zemeckis é um cara talentoso, e conseguiu, apesar da falta de criatividade do tema, fazer um filme bacana.
O FIM DA BRANGELINA
Dizem por aí que Aliados foi o filme que levou Brad Pitt a trocar Angelina Jolie pela Marion Cotillard. Lembrando que uns anos atrás ele trocou a Jennifer Aniston pela Angelina após Sr. & Sra. Smith, parece que se você quer uma chance com o nosso amigo Bread Peach basta conseguir dar uns amassos nele na frente da câmera.
Aliados me lembrou bastante um Dom Casmurro ambientado na Segunda Guerra. Assim como o livro de Machado de Assis, boa parte da sua duração é focada na relação entre os dois protagonistas. Brad e Marion se conhecem num trabalho e acabam se apaixonando e se casando (é, a vida imita a arte). Vemos toda a relação deles de forma bem desenvolvida, deixando o fato de que ambos são espiões aliados quase em segundo plano, especialmente depois que o Pão Pêssego se rende à sedução da moçoila (até que ele resistiu bastante tempo, não sei se nesse ponto a vida imitou a arte).
A influência machadiana vem no fato de que, apesar de o foco de verdade ser no romance dos dois, a parte que todo mundo vai se lembrar e comentar é a parte do meio para frente, quando começam a suspeitar que a esposa do galã é uma espiã nazista. Aí entra a parte Dom Casmurro: traiu ou não traiu? Só que no caso, ao contrário da Capitu, a traição não envolve uma noite de amor com outro homem, mas algo mais ideológico.
O governo intima o protagonista a fazer um teste que provará a inocência ou culpa da teteia acima de qualquer dúvida. No entanto, o teste vai demorar um final de semana para conhecerem o resultado. Neste final de semana, o sujeito fica totalmente obcecado, fazendo sua própria investigação. A resposta para o mistério, claro, vem nos últimos minutos do longa, afinal estamos falando de Hollywood.
Este suspense é o que dá a toada mais marcante de Aliados, mas demora um bocadinho para chegar nisso. Antes, vemos os dois se conhecendo, se apaixonando, se casando. Só quando você já relaxou achando que está assistindo a um romance tradicional é que a bomba cai. No entanto, como a bomba em si é mostrada em todas as sinopses da distribuidora, não vejo como poderia falar do filme sem desenvolvê-la.
Robert Zemeckis fez alguns filmes excelentes, mas ele nunca foi um diretor especialmente estiloso. Aqui ele segue a mesma linha. É possível assistir a Aliados sem nem se tocar que, por trás das câmeras, temos um dos melhores cineastas da história. No entanto, a história é redondinha e suficientemente aprazível para justificar a assistida. Não é um filme especialmente criativo, mas é divertido. O que é mais do que podemos dizer de Os Fantasmas de Scrooge.
MAIS SOBRE ROBERT ZEMECKIS:
– Vimos uma prévia de Aliados, o novo filme de Robert Zemeckis
– O Voo
– De Volta Para o Futuro Parte II
– De Volta Para o Futuro Parte III
– Tremendões DeLorean – A máquina do tempo
– De Volta Para o Futuro – O Novo Box de DVD
– A trilha sonora da trilogia De Volta Para o Futuro
