Pouco antes de ir para a cabine deste filme, fui ler a sinopse do dito cujo e me desanimei. Ele trata do estouro da bolha imobiliária nos EUA, que quebrou um monte de bancos e levou à crise econômica global que está aí até hoje. Vai dizer que esse tema não é tão divertido quanto uma extração dos dentes do siso? Mas, caramba, como eu estava errado!
A Grande Aposta consegue a proeza de transformar este tema sisudo e potencialmente chato em entretenimento de primeira. E ainda explicar muito bem toda a situação para quem não manja nada de economia. Sim, temos aqui um daqueles cada vez mais raros exemplares de filme que é excelente diversão, e ainda por cima com muito conteúdo. O pacote completo.
Ele foca em algumas pessoas do setor financeiro/bancário que conseguem ler os sinais no mercado e prevêem que a bolha imobiliária nos EUA pode estourar a qualquer momento e, quando isso acontecer, a economia vai para o saco. A culpa é dos grandes bancos, gananciosos ao extremo, e cada vez mais burros ao concederem empréstimos sem garantias ou sequer avaliação de crédito.
Assim, cada um desses caras, a seu próprio modo, resolve apostar contra o mercado, contrariando toda a aparente bonança econômica e se precavendo contra o possível desastre. Ao irem contra a maré, eles não só se protegem como ainda abrem a possibilidade de lucrar horrores e ainda desferir um duro golpe nos próprios bancos que causariam toda a desgraça.
Tá, eu sei que essa sinopse não parece grande coisa, mas vai por mim. Este é o tipo de filme que conquista já nos primeiros minutos e consegue desenvolver tudo o que acabei de escrever nos dois parágrafos acima de maneira extremamente eficiente, de forma inteligível, e com bastante humor, o que é outro bônus muito bem-vindo.
A grande sacada da produção é que ela sabe que está tratando de um tema bem complicado, com pouco apelo para o grande público. E ao invés de se focar então só numa pequena parcela de potenciais espectadores (aqueles que acompanham os cadernos de finanças), compra a briga e consegue ser acessível para todo mundo, principalmente quem quer apenas algumas horas de diversão.
Apesar de ser tecnicamente um drama, o longa é tão engraçado, com tantos momentos de arrancar gargalhadas, que se fosse classificado como uma comédia não chegaria a ser um erro. A maioria dos personagens é figura, há excelentes falas e muitos momentos em que a quarta parede é quebrada e eles falam diretamente com você.
A grande sacada, e que por si só já vale o ingresso, é justamente o modo encontrado para explicar para os leigos aquele monte de siglas e termos técnicos do universo econômico/bancário, que mais parece uma língua de outro planeta. É de uma simplicidade genial. E se esse método de ensino fosse adotado nas escolas, eu não teria bombado em química, por exemplo.
Ponto para essa ferramenta narrativa, que passa o didatismo necessário para o entendimento da trama sem ser pedante ou sem comprometer o andamento da película, que é bem dinâmica durante quase toda a sua duração.
Destaque também para o trio Christian Bale, Steve Carell e Ryan Gosling, os melhores no campo da atuação. O primeiro faz um analista esquisitão, o segundo outro analista, porém cabeça quente e com escrúpulos (diria que é ele quem tem mais tempo de tela) e o terceiro interpreta um banqueiro boçal e é o mais engraçado desses três.
Para você ter uma ideia, estava curtindo tanto o filme que já estava pensando em agraciá-lo com o Selo Delfiano Supremo. Contudo, na hora de amarrar as coisas e encerrar, ele começou a enrolar, apresentando uns trinta desfechos diferentes, tipo o final de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, manja? Uma pena que ele tenha ficado indeciso sobre o momento certo de terminar.
Ainda assim, A Grande Aposta é um baita filme, que explica muito bem, de forma extremamente divertida, um dos momentos mais conturbados da economia mundial. Aliando diversão e cérebro, é uma das grandes surpresas deste ano que está apenas começando e vale muito a pena ser visto. Com o perdão do trocadilho, é uma aposta para lá de segura.