Milagre em Sta. Anna

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Você já reparou como as opiniões que temos influem em como encaramos as coisas? Por exemplo, quando eu fui, todo saltitante, assistir a Watchmen, eu definitivamente não me importava com seus 160 minutos. Na verdade, eu sou um defensor de que uma obra de arte tem que ter a duração necessária para passar tudo o que deseja. Porém, quando se trata de um filme de 160 minutos do Spike Lee, é impossível não sentir vontade de ficar em casa. Ok, o cara sem dúvida é um ótimo diretor, mas seus filmes são um tanto panfletários demais para mim. E é uma panfletagem dirigida a um público do qual não faço parte.

Em seu mais novo filme, Spikão leva seus comentários raciais para um local bem apropriado: a segunda guerra mundial. Porém, tudo começa mais recentemente, quando um caboclo mata um paisano absolutamente do nada. Nas próximas duas horas e meia, vamos descobrir por que diabos ele fez isso.

Para desvendar o mistério, o primo afrodescendente do Stan nos leva para acompanhar um batalhão de soldados estadunidenses negros que, obviamente (ou não seria um longa do Spike Lee), sofrem com racismo dos seus compatriotas até mesmo na guerra.

O trunfo está nos personagens. A inocência de Train é comovente e chega a lembrar o Obelix. Negron teve ter um dos nomes mais bizarros da história do cinema, parece até blaxploitation (imagina um cara chamado Pretão, em português). Por fim, Bishop me deu uma verdadeira lição de vida: se você quer uma mulher, mesmo que ela te despreze, fique insistindo da forma mais nojenta possível – tipo olhando para ela enquanto faz ruídos felinos com a boca – e ela eventualmente vai ceder. E eu que achei que mulheres queriam ser bem tratadas…

Graças aos personagens carismáticos, eu acabei gostando mais do que eu esperava. Não foram duas horas e meia particularmente divertidas, mas também não foram completamente estragadas pelo panfletarismo comum aos filmes de Lee. Se você é fã do diretor, de filmes de guerra, ou dos dois, provavelmente vai se divertir bastante. Infelizmente, eu não faço parte de nenhum desses grupos, então me diverti com parcimônia.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
milagre-em-sta-annaPaís: EUA<br> Gênero: Guerra<br> Duração: 160 minutos<br> Roteiro: James McBride<br> Elenco: Derek Luke, Michael Ealy, Laz Alonso, Omar Benson Miller e Valentina Cervi.<br> Diretor: Spike Lee<br> Distribuidor: Califórnia<br>