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Caros colegas delfonautas, de antemão já informo que isso não é uma crítica aos mutunas mais queridos do universo. A partir de algum ponto da minha história nerd – há vários anos, diga-se – eu deixei de acompanhar algumas séries da nona arte. Provavelmente por terem se modificado tanto desde seus conceitos básicos, acabei por não me identificar com tamanho afastamento de suas origens (referência involuntária ao carcaju canadense). Não, não sou daqueles fundamentalistas dos quadrinhos que só gostam das séries originais, com equipes de criação clássicas, nem nada disso. Aliás, muitos personagens me conquistaram após mudanças de perfil e por aí vai.
O que me traz ao computador para analisar os “xis-méin” – sempre faço cara de paisagem quando alguém fala assim perto de mim – é (ou era) o conceito de jovens terem, em suas vidas, drásticas mudanças em seus corpos, coisa que suas mentes infantes não poderiam, logicamente, acompanhar. Não por coincidência, conheci os personagens bem na minha fase de 10, 11 anos. Pra exemplificar, eu gosto de fazer referência à cena de Marvels, quando Phil Sheldon – junto com a multidão enfurecida – encurrala a equipe original de mutantes como se fossem leprosos por terem aparências e capacidades diferentes da maioria. Foi natural eles terem ido parar no espaço agir feito heróis e, em pouco tempo, serem considerados como tal. Mas, a partir das boas intenções para/com o mundo que os temia e odiava, alguma coisa – na minha humilde opinião – degringolou.
Eu gostava mesmo era de imaginar como seria legal se os primeiros fiapos de barba surgissem junto com a capacidade de voar ou viajar pelo país em um segundo. Mas, logo, logo, passei a gostar daquela natureza subversiva, da atmosfera de perigo por ser “esquisito”. Pense se isso fosse mesmo realidade: um homem incrivelmente bem intencionado recruta garotos desorientados com o choque de serem mutantes. Ele os treina, disciplina a usarem suas habilidades com cautela e abnegação. O líder os prepara para saberem se comportar entre uma maioria “normal” que os agrediriam ao menor sinal de diferença. Enfim, eles aprendem a ser seres superiores (dah! Referência involuntária²) por conhecerem o lado sujo do ser humano e, mesmo assim, defenderem-nos de qualquer ameaça na esperança de que um dia todos convivam como iguais.
A quantidade de questões a que podemos fazer remissões são ricas e variadas. Podemos ver que Magneto, sendo judeu, acaba por se tornar, ironicamente, como os nazistas que o aprisionaram e mataram sua família. Vemos questões como diferenças raciais, deficiências físicas, registro da minoria diferente para controle (olha os nazistas aí de novo). Sem falar de outras questões bem próximas de todos, como a puberdade e suas transformações, além de certas semelhanças com o tratamento aos homossexuais.
O problema é que isso ficou de lado, principalmente com a explosão dos desenhos powers encabeçados pelo amado/odiado Jim Lee e similares. De repente, a arte ficou vistosa, não por contar uma história com textos afiados e desenhos ágeis, mas por machões incrivelmente musculosos e mulheres com visuais (proporções) e posições… er… interessantes. Não, a culpa não é da arte que se tornou “testosterona total”. Personagens emulando aparências halterofilistas foram uma tendência, mas aconteceram – em grande parte – na mesma época, então liguei uma coisa à outra (na minha mente, não fique preocupado).
Em alguma esquina do destino, o acontecimento mais definitivo da semana – e escandalosamente contornável duas semanas depois – se tornou o grande foco das histórias. Não tinha mais aquela coisa de se acompanhar a vida dos personagens e ver os fatos e eventos começarem e se resolver no prazo que fosse. Ficou tudo muito imediatista – e, paradoxalmente, tudo sendo espalhado em spin offs, muitas vezes desnecessários. Com o tempo, a minoria mutante que se esgueirava e se disfarçava no meio da sociedade passou a ser uma população maior que a de um pequeno país com altos índices demográficos – e eu não sei como não destruíram metade do mundo com tantos poderes inacreditáveis até para gibis.
Enfim, eu tenho saudades da época em que lia um misto de ficção científica com pinceladas – fortes – de cunho social. Era diversão com lições de humanidade (como não ficar injuriado junto com o Noturno sobre aquele telhado na Alemanha, pouco antes de ser convidado pelo Professor X? Ele dizia algo como: “Eles tentam tirar minha vida e eu sou o monstro?”).
Nada contra a explosão demográfica de mutantes, poderes redundantes e 16 equipes mutantes por bairro ao redor do mundo – nem quero entrar em conflito com os fãs mais ardorosos. Mas, os X-Men que me encantaram ficaram naquela fase. Não me nego a ler nada novo, mas foi uma fase esplendorosa que me deixa nostálgico. Bem, sei que as coisas mudam, os tempos mudam, a clientela muda e acho isso bem natural, saudável até. E, pensando bem, porque eu reclamaria dos caminhos “X”? Afinal, eles são o futuro… um passo à frente na evolução. Penso na Rede Record e seus mutantes e tudo fica mais fácil de aceitar nos X-gibis.