Uma coisa admito que o Mel Gibson faz bem: escolher os temas de seus filmes. Pois Coração Valente tinha um tema legal e A Paixão de Cristo, mais ainda. Apocalypto não é exceção, pois o tema maia é fascinante.
Infelizmente, outra coisa que é recorrente em seus filmes é que eles não cumprem o que prometem. Coração Valente tinha tudo para ser um épico tremendão, mas é tão forçado e exagerado que só provoca risos. Alguém lembra da cena final e o esforço absurdo que Mel faz para tornar William Wallace um mártir? O cara conseguiu transformar um momento dramático em uma cena deveras engraçada de tão forçado. Já A Paixão poderia ser muito bom também, mas foi apenas um show de violência e um grande candidato a pior filme da história. Apocalypto, novamente, não é a exceção. Promete, mas não cumpre.
Você deve ter lido em vários lugares que Apocalypto trata de uma história da civilização maia o que, inexplicavelmente, é um terreno inexplorado no cinema. Infelizmente, isso é mentira. Não se trata de uma história maia coisa nenhuma. Os maias são apenas os vilões do filme e muito mal aproveitados, por sinal.
Aposto que o delfonauta imaginava que esse filme se passaria em pirâmides, teria um contexto místico e misterioso super interessante e coisas do tipo. Pois é, eu também. E, se você caiu nessa e espera por esses elementos no filme, não vá ao cinema, pois você vai encontrar apenas uma história genérica de ação indígena. Aliás, aí na nossa galeria de fotos, temos duas imagens que retratam bem como este longa deveria ser de acordo com a divulgação e como ele é na realidade.
Sinopse: estamos em uma tribo qualquer da América Central. Um dia, do nada, outros índios aparecem, matam quase todo mundo, estupram as mulheres e levam alguns prisioneiros. Uma hora e meia depois (sem exagero), é revelado que esses índios do mal são maias e vão sacrificar os prisioneiros. Essa é a história.
Noventa por cento do tempo, estamos em florestas genéricas e nada da riquíssima cultura maia é vista. O pouco que vemos é na tal cena citada acima, que não deve durar nem dez minutos até que voltamos para as florestas que serviram de cenário para os primeiros 90. E mesmo na tal cena maia, não temos nenhuma novidade, pois ela parece uma versão amadora e mais violenta da cena clássica de Indiana Jones e o Templo da Perdição. Tem até corações arrancados enquanto ainda batem e tal.
Em nenhum momento é justificado porque os maias são tão malvados e sádicos, enquanto boa parte do tempo é ocupado por cenas de batalhas cheias de câmeras tremendo e violência desnecessariamente explícita, mais até do que muito filme de terror, aliás. Aparentemente, violência explícita e vilões sem motivação são elementos que Mel Gibson gosta muito, mas se eles podem funcionar nos 90 minutos de um longa de ação descompromissado e cheio de efeitos especiais, definitivamente não causam o mesmo efeito em um pretenso épico de duas horas e meia.
Para completar, o roteiro tem umas falhas ridículas e cito uma aqui, então se você não quer spoilers, pule este parágrafo. Ainda aqui? Então vamos lá: durante o filme, alguns personagens ficam presos em um buraco. Em determinado momento, começa a chover e eles ficam desesperados. Ora, mas o buraco é aberto em cima. O máximo que a chuva poderia fazer era levantá-los até o topo e permitir que eles saiam andando do orifício. Mas não, tome drama, choros e uma trilha sonora “de perigo” ridícula. É de dar risada, sinceramente. Mas pelo menos não é tão ruim quanto A Paixão de Cristo. Mas até aí, acho que só se alguém se esforçar muito consegue fazer algo tão ruim quanto o filme do bom e velho JC apanhando.
É uma pena. O cinema vai continuar devendo uma boa história da civilização maia e, pior ainda, Mel Gibson deve continuar fazendo filmes. E tem gente que reclama do Uwe Boll. Pô, pelo menos os filmes de videogame do cara não são pretensiosos, não duram duas horas e meia e, principalmente, não passam no cinema, então a gente não tem que agüentar as cabines. Por favor, alguém mande Gibson parar de fazer filmes, antes que seja tarde demais, para ele, como artista e para nós, como público.