Entrevista coletiva com a equipe do filme O Magnata

0

Conforme noticiamos um tempinho atrás, o vocalista daquela banda cheia de atitude chamada Charlie Brown Jr, Chorão, escreveu um roteiro de cinema e o filme deve chegar às nossas telas no começo de 2007.

Na mesma nota até brinquei perguntando se isso não seria um dos sinais do Apocalipse. Para minha surpresa, poucos dias depois chegou o convite para a coletiva de imprensa do anúncio oficial do projeto. E a entrevista estava marcada para acontecer no dia 6/6/6. É, eu fiquei com medo dessa estranha coincidência, mas como sou um repórter valente e tenho um trabalho a fazer, ignorei os sinais de alerta e me aventurei a comparecer ao local do evento no macabro dia em questão.

Não estava chovendo fogo, o que sempre é um bom sinal. Chegando ao luxuoso hotel nos Jardins (bairro nobre de São Paulo), tive duas surpresas. Primeiro, o local estava lotado. Sem dúvida, foi a coletiva mais concorrida que cobri até agora. Nada como ser um dos maiores vendedores de discos do país (ainda que a qualidade das músicas seja inversamente proporcional ao número de vendas) para chamar a atenção da imprensa. Segundo, a coletiva começou pontualmente no horário marcado, algo que nunca acontece (ao menos não comigo). Outro sinal do fim do mundo?

Enfim, estavam presentes o roteirista e malaco Chorão, o diretor Johnny Araújo (que já fez clipes para o Charlie Brown Jr), o ator Paulo Vilhena (aquele que já catou a Sandy, lembra?), que será o protagonista da história, a atriz Rosane Holland, dona do principal papel feminino, o produtor Fabiano Gullane e Rodrigo Saturnino, diretor geral da Buena Vista do Brasil, que irá cuidar da distribuição da película.

Como já é de praxe nestes eventos, o produtor começa revelando alguns dados da produção. O projeto de O Magnata começou a ser preparado há mais de um ano, as filmagens devem começar ainda em junho e o orçamento é de cerca de R$ 5 milhões (número mediano para uma produção nacional). A produção tem o apoio da MTV Brasil e a idéia era produzir um filme Rock ‘n’ Roll, que mostrasse a atitude dos jovens.

O diretor Johnny Araújo conta que o filme será rodado em São Paulo e Santos (cidade natal de Chorão), mas a maioria das cenas acontecerá mesmo em Sampa. “É um filme bem urbano. Tem um compromisso com o real”. Também por isso, cerca de 95% das cenas serão captadas em locações.

Explicações dadas, a partir daí Chorão e Paulo Vilhena dominaram as atenções dos jornalistas, deixando os outros presentes relegados ao posto de coadjuvantes.

Chorão contou que começou a escrever o roteiro há quatro anos em guardanapos de papel. “A história surgiu meio pronta na cabeça, como uma sinopse. A parte mais difícil foi escrever os diálogos de cada um”. Sobretudo os das personagens femininas, como Dri, papel de Rosane Holland (vista recentemente em A Concepção).

Ele revelou que sempre teve a ambição de “ver um filme que tem a cara da rapaziada”. Sua idéia é romper barreiras com a história de um rockeiro, o Magnata. “O filme mistura realidade e ficção. Não é aquele filme chato que você dorme no meio”. E para aqueles que se perguntam se esta produção marcará também a estréia de Chorão como ator, ele avisa: “vou fazer uma participação pequena, interpretando a mim mesmo”. O astro será mesmo Paulo Vilhena. E para não sobrar nenhuma dúvida, o roteirista estreante esclarece: “o filme não é a história do Chorão, é a história da minha geração, de jovens tentando vencer na vida. Não é só pra mostrar um lifestyle. Eu não vejo hoje um filme que fala das coisas com que eu convivo”.

Fora Chorão, o filme terá diversas participações especiais, como a banda Dead Fish e a presença de skatistas famosos. E a trilha sonora, adivinha só? Ficará a cargo do Charlie Brown Jr e convidados. E nesse momento eu quase gritei nããããããooooooo!

Sobre a relação do roteirista com o cinema, Chorão revelou que chegou a trabalhar numa produtora como caboman (os carinhas que vão andando atrás dos câmeras recolhendo os cabos). “Se eu não gostasse de cinema, principalmente alternativo, não conseguiria escrever o roteiro. Não tenho a pretensão de acertar, mas estou tentando não errar”. Conta ainda que a princípio pensava em realizar o filme de maneira independente, pois não conhecia ninguém da área cinematográfica. Mas ao contar sua idéia ao diretor Johnny Araújo, este conseguiu os contatos necessários e aí a Buena Vista entrou na jogada.

Perguntado sobre seus cineastas favoritos, citou F. Gary Gray (Be Cool – O Outro Nome do Jogo), Larry Clark (Kids), Quentin Tarantino (Kill Bill Vol. 1 e Vol. 2), Spike Jonze (Adaptação), Stacy Peralta (Riding Giants – No Limite da Emoção) “e o Mojica”, referindo-se ao popular Zé do Caixão.

Paulo Vilhena, em sua primeira intervenção, começa calmo: “eu só queria falar que…”, para logo em seguida dar um berro que acordou de vez este jornalista ainda sonado: “…eu tô feliz pra caral*o!”. Palavras dele, por isso o palavrão continua presente, de forma tão sutil que eu duvido que você perceba qual é. É, sem dúvida um exemplo de atitude descolada. Parece que Chorão encontrou um parceiro à altura.

Sobre como se envolveu na empreitada, Paulo conta que não conhecia Chorão pessoalmente. No entanto, quando o vocalista contou a história do filme para um amigo em comum, este recomendou Paulo.

Vilhena também compartilha a opinião de que não há filmes nacionais que retratem o cotidiano dos jovens. “Nunca vi filmes, a não ser estrangeiros, que contem a história da minha geração, que sejam fiéis aos jovens” (e nisso sou obrigado a concordar com eles. Até hoje só vi um filme nacional de qualidade feito para o público jovem, o divertidíssimo Houve Uma Vez Dois Verões).

E o jovem ator terá um desafio pela frente. Ao interpretar o protagonista, Vilhena irá cantar de verdade, para ajudar a dar o tom verdadeiro da história, e ele já está treinando há duas semanas. Chorão explica que se o ator fosse dublado, “ficaria fake”, e revela que as músicas já estão prontas. É, meu amiguinho, se você pretende assistir a esse filme, é bom preparar os ouvidos.

Finda a coletiva, é hora do momento mais odiado por mim, a sessão de fotos. Sério, é como observar um documentário da National Geographic onde os leões cercam a carniça. Empurrões, cotoveladas, gente entrando na frente da câmera, uma beleza! O que a gente não faz pra você poder ver fotos exclusivas no DELFOS.

Saldo final: foi uma manhã no mínimo engraçada (mas nem tanto, já que todo mundo ali se levou a sério demais) e Chorão, para o bem ou para o mal, é uma figura com seu jeito de mau e suas gírias, morou? E a julgar pela data da entrevista, será que podíamos deduzir que Satã aprendeu a ser mau com o Chorão?

Honestamente, eu tenho medo desse projeto. Ele tem grande potencial para virar uma versão rockeira de um filme da Xuxa. No entanto, a equipe parece realmente estar empenhada em fazer um produto de qualidade e há sempre a possibilidade de uma grata surpresa. Vide 2 Filhos de Francisco. Mas, sinceramente, eu não apostaria minhas fichas nisso. O resultado final a gente confere no ano que vem. Isso se o Apocalipse não vier antes disso.

Galeria