Algumas semanas atrás eu estava em Nova Iorque. Pois é, eu sei, eu sou chique bagarai. Mas não estou falando isso só para me gabar. Ok, talvez um pouquinho. Mas o ponto da história é que, durante a minha visita, fui assistir à gravação do Tonight Show. Sabe, aquele talk show apresentado pelo Jimmy Fallon? Pois no programa em questão rolou aquela que viria a ser uma das últimas apresentações do Chris Cornell e entrevistas com Salma Hayek, um cozinheiro que nunca tinha ouvido falar e – e este é o ponto da história – Sienna Miller. A moça estava justamente divulgando este filme, que estreia esta semana no Brasil. E já na entrevista me pareceu uma história muito bacana contada de forma burocrática.
UMA CIDADE FEITA DE OURO
Aqui conhecemos Percy Fawcett (Charlie Hunnam), um soldado inglês que recebe a missão de ir até a fronteira do Brasil com a Bolívia para mapear quanto de território correspondia a cada país. Isso levantou várias perguntas para mim que o filme não responde e que eu sou preguiçoso demais para pesquisar.
Por exemplo, para mim, fronteiras entre países eram mais um acordo comercial do que qualquer outra coisa. Afinal, não é como se a mão natureza tivesse dividido países. Isso é uma invenção humana, que só deveria existir para fins geográficos, mas que acaba causando desnecessárias guerras por território.
Então de que adianta um sujeito ir até lá para fazer um levantamento topográfico? O que diabos ele pretendia achar lá? Uma placa escrita “Obrigado pela visita ao Brasil, bem-vindo à Bolívia”?
O que ele acaba encontrando, no entanto, são algumas cerâmicas bem antigas, mais antigas do que a civilização europeia. Isso faz o sujeito sentir o cheiro da glória e a famosa white guilt. Seriam os índios sulamericanos civilizados, e não apenas selvagens que merecem ser assassinados e escravizados? E será que ele poderia ser o primeiro a encontrar esta antiga civilização, que já foi inclusive citada em textos dos Conquistadores? Sabe-se lá por qual motivo, ele resolve chamar a cidade em questão de Z, mesmo não tendo visto nada que sugira que ela é habitada exclusivamente por zumbis.
Ao retornar a Londres, as pessoas riem da cara dele. Como ele ousa dizer que os índios são iguais aos brancos, com o mesmo potencial para criar cidades? Ele resolve voltar novamente para a selva e provar que está certo, e chega de contar a história do filme, ou não vai sobrar nada para você assistir.
A história é muito legal, e na entrevista da Sienna com o Jimmy, ela disse que Percy foi o Indiana Jones da vida real. Tudo indica que teremos uma emocionante aventura na linha do bom e velho Indiana Jones ou de Uncharted, com o diferencial de que esta seria mais pé no chão. Afinal, é baseada em uma história real.
O problema é que o filme se leva a sério demais. Tão a sério que ele é simplesmente chato e burocrático. Assim como as aulas de história do ensino médio, ele consegue pegar um material bacana e emocionante e transformar em tédio supremo.
Até a própria paleta de cores do filme é escura e feia. Mesmo nas cenas diurnas, é tudo muito escuro e sem graça, e isso é uma pena, considerando que este tipo de história pode ser visualmente impressionante. É só ver os cenários de Uncharted, por exemplo.
Além disso, o caminho que a história segue é bastante estranho. Lá no terceiro ato, por exemplo, ela para de contar o que deveria para fazer um desnecessário interlúdio na Primeira Guerra Mundial.
Obviamente, não vou dizer por aqui se o cara encontra sua cidade perdida, embora você consiga descobrir isso com uma simples busca pelo nome do sujeito. Mas vale dizer, aliás, que o filme busca um final aberto que mais frustra do que satisfaz. Nem todo mundo tem o talento para fazer um final do nível de A Origem, e este é um daqueles casos que saiu pela culatra, dando a sensação de que os 140 minutos do filme são totalmente desnecessários.
Eu vou me lembrar de Z – A Cidade Perdida como o filme que estava sendo divulgado no Tonight Show que eu assisti, só é uma pena que a história de como eu fui parar lá é melhor do que a contada pelo próprio filme.