Por mais que o Weezer sempre consiga colocar uns dois singles matadores em todos os seus discos, é inegável que a qualidade geral de seus álbuns andava bem fraca já há algum tempo. Na minha opinião, o problema começou com o Red Album (2008), que já dava sinais de cansaço criativo.
Porém, alguns críticos mais ferrenhos vão ao ponto de dizer que, após Pinkerton, em 1996, o quarteto nunca mais lançou nada digno de nota. Não concordo com essa avaliação, visto que acho o Make Believe, de 2005, um ótimo disco, por exemplo. Mas é fato que seus últimos lançamentos mostravam uma banda bem acomodada, requentando fórmulas antigas sem tesão e fazendo uns experimentos meio bizarros, principalmente com Rap. Basta ouvir Raditude, de 2009, para constatar.
O negócio andava tão feio que algum tempo atrás até rolou uma petição por parte de um grupo de fãs na internet para que a banda simplesmente deixasse de gravar novos discos. Rivers Cuomo parece ter ouvido as críticas e, ao invés de ficar nervosinho ou ignorá-las, como a maioria dos astros de Rock autoindulgentes faria, parou para pensar e avaliar (tanto que a banda não lançava nada desde 2010) e viu que havia razão nelas.
Acabou por dar a melhor resposta que poderia em seu novo disco, o décimo da carreira. Everything Will Be Alright in the End é o trabalho que bota a banda de volta nos eixos e mostra que o Weezer ainda tem gás para gravar trabalhos que agradem seus admiradores. E faz isso de forma simples e prática, apenas voltando à sonoridade básica e empolgada de seu início de carreira.
Baixo, bateria, guitarras entre o Hardcore e o Pop e as letras espertas de Cuomo complementadas pelo bom trabalho de backing vocals. Ou seja, exatamente aquilo que sempre marcou a sonoridade do Weezer em todos esses anos, mas com mais vontade e garra do que vinham mostrando até então.
A obra já começa bem com a trinca Ain’t Got Nobody, Back to the Shack e Eulogy for a Rock Band, que exemplificam bem todos os elementos descritos no parágrafo acima. Back to the Shack, o primeiro single, é o melhor exemplo dessa vontade de voltar a fazer um bom trabalho.
Basta ver sua letra, uma verdadeira carta aberta aos fãs onde Rivers admite que andou perdido na carreira, mas que agora se encontrou e resolveu não só seus problemas pessoais, como também os de direcionamento musical, o que envolve voltar ao básico, fazendo Rock como se fosse 1994 (não à toa, o ano de lançamento de seu primeiro disco, que muitos ainda apontam como o seu melhor). Há ainda o verso “talvez eu deva tocar a guitarra solo e Pat deva tocar bateria”, que parece uma referência direta ao Red Album, onde cada integrante, incluindo o baterista Patrick Wilson, compôs e cantou uma música. Ou seja, todos os equívocos e problemas de seus discos, tratados de forma bastante sincera e direta pela primeira música de trabalho.
A coisa não fica só no discurso das letras e canções como The British Are Coming, Da Vinci, Cleopatra e Go Away são ganchudas, grudentas, altamente assobiáveis e com Rivers realmente cantando com vontade, confirmando a nova disposição dos quatro em voltar a fazer grandes músicas. Go Away ainda conta com um dueto entre Rivers e Bethany Cosentino, do Best Coast, que deixa a canção ainda mais chiclete.
Já outras faixas, como Lonely Girl, I’ve Had It Up to Here, e Foolish Father também são boas, mas estão um nível abaixo, sendo o tipo de canção que se pode encontrar em praticamente todos os discos da banda. Contudo, aqui elas acabam elevadas pela qualidade das outras faixas e não ficam com aquela sensação de mera encheção de linguiça, ainda que não sejam exatamente marcantes.
Para encerrar o trabalho, a banda aponta que pode sim tentar seguir novas direções, sem soar como algo forçado e sem perda de qualidade musical, como mostram as três últimas faixas, que formam uma suíte chamada The Futurescope Trilogy (da qual só a segunda parte, Anonymous, é cantada), e é uma forma grandiosa e épica de se fechar o disco, apontando possibilidades promissoras a serem exploradas no futuro. No vídeo abaixo você confere as três partes juntas:
Everything Will Be Alright in the End não é perfeito e está longe dos dois primeiros e ainda melhores discos da banda, mas definitivamente cumpriu com louvor o dever de colocar o Weezer de volta nos trilhos, na melhor resposta possível que se poderia dar aos fãs que andavam cada vez mais decepcionados com a qualidade geral de sua discografia. Se as coisas pareciam ruins antes, após ouvir o novo álbum você vai ficar bem mais esperançoso quanto aos rumos da carreira do quarteto. E fica a reconfortante sensação, como já diz o bem escolhido título do álbum, de que apesar dos percalços, tudo ficará bem no final.