Desde que sofreu o reboot conhecido como Novos 52 em 2011 (nos EUA. Aqui ele chegou um ano depois), a DC optou por não fazer num primeiro momento grandes sagas que interligassem todos os seus títulos, dando tempo para que esse novo universo se consolidasse primeiro e os leitores pudessem se acostumar com as mudanças.
Assim, o primeiro grande evento envolvendo todo o novo universo DC só foi acontecer na virada de 2013 para 2014 (isso novamente nos EUA, aqui ela foi publicada durante 2014), mas provou que foi uma decisão acertada. Pois quando a primeira das sete edições de Vilania Eterna foi lançada, ela realmente tinha cara de um megaevento especial e não de algo programado e burocrático, como vinha acontecendo nos últimos anos pré-reboot.
A história da minissérie segue fatos mostrados no arco Guerra da Trindade, envolvendo as três Ligas da Justiça (a normal, a da América e a Sombria), que culmina com a chegada à Terra em grande estilo do Sindicato do Crime, uma versão maligna da Liga da Justiça vinda da Terra-3, onde tudo é oposto. Eles escravizaram a humanidade de seu mundo, até que este foi destruído por algum ser misterioso e eles foram obrigados a procurar outro planeta para dominar e chamar de lar, daí achando justamente o mundo dos heróis.
Vilania Eterna começa com o Sindicato vencendo as Ligas e aprisionando seus principais membros (à exceção do Batman, que consegue escapar, porque ele é o fuckin’ Batman!) e rapidamente vencendo outros de escalões menores. Eles até capturam e expõem a identidade secreta do Asa Noturna só por diversão. Para terminar, ainda conclamam todos os vilões da Terra a se juntarem a eles, formando assim um exército aparentemente imbatível.
Essa ideia de mostrar os vilões vencendo não é exatamente uma novidade e Grant Morrison já havia feito algo similar antes dos Novos 52 em Crise Final, que mostrava Darkseid tendo sucesso em dominar a Terra. A diferença aqui é a abordagem que Geoff Johns dá à trama e, sobretudo, em quem acaba sendo seu protagonista: Lex Luthor.
Com todos os heróis derrotados, cabe a ele salvar o mundo, transformando-se no herói mais improvável de todos os tempos. É muito legal quando um personagem tão utilizado que acaba perdendo o encanto ganha uma nova luz pelas mãos de um escritor talentoso e é justamente isso que Johns (especialista nesse tipo de coisa, visto que já fez o mesmo com o Lanterna Verde Hal Jordan e o Flash Barry Allen, por exemplo) faz ao relembrar ao leitor como Luthor é um personagem tremendão.
Grande parte da HQ é narrada por ele, assim, vemos suas visões de mundo e motivações e entendemos que ele, apesar de seus métodos escusos, não está completamente errado em seus objetivos, bem como também não está totalmente equivocado na justificativa por seu tradicional ódio ao Super-Homem. Assim, ele se torna um daqueles personagens fascinantes que se movem pelas áreas cinzentas, tomando as decisões difíceis e até execráveis, ainda que sua finalidade seja, veja só, nobre.
Johns reintroduz ainda de maneira muito bacana elementos como a armadura verde e roxa e o Bizarro, e de quebra ainda faz Luthor liderar uma versão da Liga só de vilões que se recusaram a se juntar ao Sindicato, como Sinestro (outro personagem que ganhou uma importância gigante nos últimos anos, tornando-se um dos mais bacanas da editora atualmente), Adão Negro, Capitão Frio e Arraia Negra.
E quando o caminho dessa improvável turma de anti-heróis se cruza ao do Batman, gera alguns dos melhores momentos da série, com o Cruzado Encapuzado teimando em querer liderar, e a Liga de Luthor, em maior número, ignorando-o solenemente, criando uma grande tensão entre Lex e o Morcego.
A série amarra bem todos os elementos da trama e apresenta um final emocionante, que consegue deixar crível a forma como Luthor, apenas um humano com um imenso intelecto e uma armadura cheia de tecnologia, consegue enfrentar o Sindicato do Crime, composto de seres que espelham os poderes de Superman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde e de um personagem misterioso cuja identidade é melhor permanecer em segredo para quem ainda não leu.
Assim, acaba sendo muito bem sucedida ao reapresentar o Sindicato do Crime ao universo dos Novos 52 como vilões realmente perigosos, aproveita para deixar um gancho que sugere algo bem grandioso para o futuro e, conforme já está rolando nos EUA, alterou a própria dinâmica da Liga da Justiça, com um novo arco de histórias tão bacana quanto inesperado.
Mas o grande mérito de Vilania Eterna é mesmo contar uma daquelas histórias de heróis improváveis, que mostra ao leitor que talvez ele não conhecesse assim tão bem aquele velho personagem que julgava já não ter mais nada de interessante a oferecer. E com isso a minissérie torna Lex Luthor novamente um grande personagem da DC, bem como cumpre à altura o papel de ser a primeira megassaga da editora pós Novos 52. Dever mais que cumprido em uma das melhores leituras desse reboot.