Eu nunca tinha ouvido falar sobre Uma Dobra no Tempo, mas aparentemente se trata de uma obra famosa. Um romance escrito em 1962 (e que ganhou várias continuações) pela autora Madeleine L’Engle, que fazia literatura jovem adulta, veja só, décadas antes do termo e do gênero se popularizar.
Pois bem, famoso ou não, o livro ganha agora uma adaptação pelas mãos da Disney, e de fato ele tem a maior cara de produção do estúdio do Mickey. É uma aventura colorida focada em crianças menores, estrelada por crianças e totalmente inofensiva.
Na trama, o Chris Pine é um cientista obcecado por descobrir um método de viajar pelo espaço instantaneamente, sem precisar sequer de um veículo. É a tal dobra no tempo (mas que deveria ser no espaço) do título. Um dia o cara desaparece, e quatro anos depois, seus dois filhos, mais o interesse romântico da filha mais velha, partirão numa missão de busca a ele com a ajuda de três seres… cósmicos? Mágicos? Sinceramente, sei lá e nem importa.
Esta é uma daquelas aventuras infantojuvenis de jornada, com a turminha tendo de superar vários obstáculos para alcançar seu objetivo. Uma trama clássica desse tipo de filme. Só que ele é tão genérico e sem inspiração que parece mais um pastiche, uma colagem de situações de outros longas do tipo do que algo propriamente novo.
Às vezes lembra passagens de Labirinto (1986), às vezes solta uma vibe meio de Viagem ao Mundo dos Sonhos (1985) e por aí vai. Mas nunca prende a atenção por suas qualidades individuais, talvez por tê-las tão pouco.
Difícil dizer porque uma produção tão chocha dessas tenha atraído um elenco tão bom, cheio de rostos conhecidos. Algo que resulta num desperdício. Veja só o Michael Peña, por exemplo, um dos atores mais versáteis da atualidade, reduzido aqui a duas míseras cenas.
Para piorar, o longa me passou muito a sensação de ser um trabalho de autoajuda direcionado a pré-adolescentes. A mensagem de que você tem de aceitar e aprender a conviver com seus defeitos e que o amor a tudo conquista é martelada a todo momento de forma nada sutil. É muito algo para levantar a autoestima da molecada que está começando a descobrir suas diferenças.
Isso, aliado a um roteiro com péssimos diálogos, torna tudo muito fake em sua vibe de positividade plastificada. Ao querer passar uma mensagem otimista, acaba soando falso e deixando a diversão da aventura de lado.
Uma Dobra no Tempo sem dúvida teve investimento (no elenco e nos efeitos especiais) para tentar ser uma superprodução, mas falha nos departamentos mais importantes: na história e na criação de uma identidade própria. Resultou apenas num trabalho no máximo mediano e bastante esquecível. Há coisas melhores em cartaz.