Tom Clancy’s Splinter Cell: Blacklist

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Tom Clancy é possivelmente o desenvolvedor de games mais megalomaníaco e prolífico da história. Megalomaníaco porque ele faz questão de colocar seu nome antes do título de cada jogo. Prolífico porque, em sua extensa carreira, ele colocou seu nome antes do título de mais de 50 games, incluindo algumas séries bem famosas, como Ghost Recon, Rainbow Six e o assunto de hoje, Splinter Cell.

Além do currículo acima, Tom Clancy é também minha trollbait preferida. Eu adoro dizer que ele é um desenvolvedor de games e esperar para ver as pessoas me corrigindo. É claro que eu sei que ele é um escritor, e tem alguns títulos bem famosos em sua obra, como A Caçada ao Outubro Vermelho, mas é fato que aqui no Brasil, especialmente entre os gamers, ele é muito mais conhecido pela cacetada de games que levam seu nome.

Splinter Cell: Blacklist é o sétimo jogo da série Splinter Cell, o mais recente a levar o nome do escritor e também o último a ser lançado enquanto Clancy estava vivo (ele bateu as botas em primeiro de outubro de 2013, aos 66 anos). Blacklist também marca minha primeira experiência não apenas com a série Splinter Cell, mas com um jogo que leva seu nome. Nas mal traçadas a seguir, você descobrirá como foi.

COMO FOI

Para falar a verdade, meu contato com os games de Tom Clancy até tinham acontecido em doses homeopáticas, com demos ou alguns minutos de jogatina na casa de amigos, mas nunca tinham me apetecido o suficiente para ir atrás de um jogo completo.

Eu sempre achei que estes jogos eram sérios demais, técnicos demais, militares demais. O delfonauta sabe, eu gosto de explodir helicópteros, lutar contra monstros dez vezes o meu tamanho e coisas do tipo. Simulador de guerra não é exatamente meu gênero preferido, nem em games nem em histórias.

E vou dizer, embora eu não entenda nada de guerra ou de táticas militares, Splinter Cell: Blacklist parece ser pra lá de autêntico. A movimentação, o diálogo, as atuações. Tudo parece tão incrivelmente natural que você há de se sentir um espião enviado ao Iraque para matar terroristas e defender o American Way of Life.

Os gráficos inclusive são excelentes, desde os personagens em si até os cenários extremamente detalhados e caprichados. Especialmente quando o cenário se abre, o negócio beira o fotorrealista e é realmente impressionante ver algo dessa qualidade em uma máquina já antiga como o PS3.

A maioria dos cenários, no entanto, envolve bases escuras ou cidades destruídas, como é normal em jogos do gênero. E se eu tenho alguma reclamação em relação aos gráficos é justamente quão escuro ele é. Eu tive que subir o brilho nas opções do jogo ao máximo e ainda aumentar o brilho da minha TV simplesmente para conseguir enxergar o caminho e os personagens. Eu sei que minha sala é iluminada demais e, portanto, está longe do ideal para videogames, mas o fato é que isso nunca tinha acontecido antes com nenhum jogo, o que provavelmente dá a Splinter Cell o título de jogo mais escuro da história.

Uma outra coisa que gostei bastante e vale o destaque são os seus objetivos e localizações, que aparecem escritos no cenário de uma forma deveras estilosa. Lembra bastante o DMC – Devil May Cry e seus “Kill Dante” que aparecem nas paredes, mas eu achei a execução bem mais legal por aqui.

Os atores também fazem um excelente trabalho, deixando clara a importância de seus questionáveis atos. É justamente nesse ponto que Splinter Cell tem um ponto fraco. A história é basicamente aquele mambo jambo de “América – América – Terroristas – A América não negocia com terroristas – God bless America” que não me apetece nem um pouco.

“Mas, Corrales, e como é o jogo?”, pergunta o delfonauta de tapa-olho e voz rouca escondido nas sombras. E eu respondo: “este, meu amigo, é nosso próximo intertítulo”. Se liga:

COMO É O JOGO?

Blacklist é um jogo de stealth e, neste ponto, ele é mais puro do que um Assassin’s Creed ou um Arkham City. Ele remete muito mais a um Hitman ou, especialmente, a Metal Gear Solid.

Com isso quero dizer que ele tem um andamento muito mais lento, e exige muito mais planejamento do jogador do que os jogos recentes do Batman, por exemplo. Este é daqueles jogos em que você vai se esgueirando pelas sombras, passando de cobertura para cobertura (e o controle do jogo tem um esquema muito legal para deixar isso fácil e intuitivo) e observando as rotas dos soldados.

Como você se planeja a partir daí é com você. A opção que acredito ser a mais tradicional é ir matando todo mundo que esteja sozinho, mas você também pode simplesmente nocauteá-los, sabendo que se fizer isso e outro soldado encontrá-los, eles serão acordados. Outra opção, para os jogadores realmente pintudos e pacientes, é simplesmente se esgueirar e fugir de todo mundo e cumprir seus objetivos sem que os caras sequer saibam que você esteve lá. Boa sorte se você pretende fazer isso. =]

Claro, a tática Rambo é sempre uma opção, mas considerando quão facilmente o jogador morre, mesmo na menor dificuldade, me parece ser muito mais difícil. Seja qual for sua tática, caso você seja avistado, o resultado é sempre o mesmo, e o tiroteio começa. Você pode se esconder ou reagir.

Na minha campanha, eu estava fazendo a rota não-letal, e isso gerou algumas frustrações desnecessárias, especialmente com os inimigos chamados de heavy, que são os soldados com fortes armaduras. Para fazê-los dormir, você precisa pegá-los por trás, com amor e jeitinho. Porém, se eles te avistarem, eu não encontrei nenhuma forma não letal de nocauteá-los. As bombas de gás não os fazem dormir, nem a arminha de choque, e uma vez que ele está te vendo, não dá para pegá-lo carinhosamente por trás. Achei isso um tanto injusto, pois toda vez que falhava ao abordar um deles tinha que reiniciar do checkpoint.

E reiniciar do checkpoint você vai, amigo delfonauta. Bastante. Isso porque é realmente muito difícil se manter vivo uma vez que você seja avistado, então prepare-se para repetir os trechos do jogo, tentando rotas e abordagens diferentes até conseguir executá-los com perfeição, bem parecido com a série Hitman.

MULTIPLAYER

A campanha single-player tem duração mediana, mas tem também uma outra campanha cooperativa de duração equivalente. Dividida em quatro partes que podem ser jogadas em qualquer ordem, cada parte relacionada a um dos personagens secundários. 75% da campanha cooperativa pode ser feita em modo solo, se você desejar.

Caso queira jogar com outras pessoas, pode fazê-lo online ou em tela dividida. Essas fases não são tão legais ou complexas quanto as single-players. A maior parte delas são no esquema minigame, tipo “sobreviva a 20 ondas de inimigos” ou então “neutralize todos os soldados”.

A única parte da campanha cooperativa que realmente são fases normais como as da parte solo do jogo é justamente a parte que você precisa jogar com outra pessoa, que é o capítulo do soldado Briggs.

Jogar Blacklist com um amigo é bastante diferente. O jogo fica naturalmente mais rápido e ágil, mas é bem mais legal jogar com alguém que tem a mesma postura que a sua. Caso você jogue com um desconhecido online, pode esperar que você vai ficar se esgueirando, tentando seguir a rota não letal e o cara vai sair metralhando tudo que vê pela frente. Ou vice-versa. Então eu recomendo mesmo que você jogue com um amigo, de preferência via sofá ou com headsets, pois aí sim você vai usufruir da campanha cooperativa da forma que ela foi planejada.

Há também o tradicional multiplayer competitivo, que divide os jogadores em time e os colocam para matar uns aos outros ou cumprir objetivos. Bem tradicional, especialmente se você, como eu, não é grande fã dessa modalidade. O competitivo também possibilita brincar mais em primeira pessoa, o que acontece muito pouco nos outros modos.

Porém, devo dizer que desta modalidade eu não gostei nem um pouco. Eu dificilmente conseguia ficar vivo por mais de cinco segundos, e para voltar a jogar, você precisa esperar 15, então para mim acabou sendo mais espera do que jogo. Talvez se você for mais habilidoso do que eu possa se divertir mais.

A CÉLULA DE FIAPO DE MADEIRA DO TOMAS CLANCINO

Blacklist é um jogo muito legal. Para conseguir realizar um dos seus objetivos perfeitamente, sem ser avistado, terá que se esforçar e ter paciência, pois a perfeição não vem fácil. No entanto, quando você consegue, vai se sentir um espião tremendão como poucos jogos conseguem. Além disso, somando a campanha solo, a cooperativa e o multiplayer, temos aqui um jogo bastante longo, que sem dúvida trará muitas horas de diversão.

Extremamente recomendado para fãs do gênero, da série e de Metal Gear Solid. É seu caso? Então não seja um cabeça de mamão e compre aqui.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
tom-clancys-splinter-cell-blacklistAno: 2013<br> Gênero: Stealth<br> Plataforma: Xbox 360, PS3, PC e Wii U.<br> Fabricante: Ubisoft<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Ubisoft<br>