Therion – Sitra Ahra

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Um disco novo do Therion é sempre um evento extraordinário na minha vida. Tanto é assim que me lembro exatamente das primeiras vezes que ouvi Deggial (meu primeiro deles), Secret Of The Runes, Lemuria, Sirius B e o Gothic Kabbalah. O delfonauta pode até ler o quão puxa-saco eu sou deles aqui.

GOTHIC KABALLAH

Dito isso, xou falar um pouco do que achei do disco anterior, já que o Bruno me passou a perna e escreveu a resenha dele. Eis a bagaça: o Therion sempre foi o Christofer Johnsson. O que rolou no Gothic é que muitas das músicas foram compostas por outros membros da banda, e isso tirou um pouco a coesão do disco. As (poucas) músicas do chefão, entretanto, são excelentes como de praxe.

No intervalo de quase quatro anos que separou o Gothic do disco novo, muita coisa aconteceu: dois discos ao vivo, troca de praticamente todo o pessoal fixo da banda, saída e volta relâmpago do Snowy Shaw (um dos vocais), etc. Muita gente pode ter achado isso uma tragédia, mas eu não. Como eu falei, a banda sempre foi o Christofer Johnsson, e uma troca de pessoal faria a coisa voltar pra ele. Acabou acontecendo mais ou menos isso, pois o disco novo está mais pros Lemurias que pros Gothic Kaballahs, e a maioria das composições é dele, mas estou me adiantando.

PRÉ-SITRA

Antes do disco sair, só lia declarações da banda do tipo “até o engenheiro de som ficou surpreso”. Estava com as expectativas lá em cima, é claro, já que meio mundo sabe que o Therion é minha banda favorita, junto com o Black Sabbath. Vi a arte da capa, o nome das músicas… Tudo para contribuir com a ansiedade. Uma das músicas ainda era uma inédita que eles tocaram por um tempo em shows, Kali Yuga, Part 3, e que eu achei simplesmente fantástica. Acho que o delfonauta já entendeu que eu estava realmente esperando isso sair logo, certo?

Para agravar a ansiedade, o show da turnê no Brasil foi coisa de poucos dias depois do lançamento do disco na Europa, o que me forçou a comprar uma passagem pra Argentina para conseguir ouvir o disco logo no dia em que ele foi lançado. Ora pipocas, é muito chato ouvir músicas ao vivo que você ainda não conhece.

O ÁLBUM

A primeira música, Sitra Ahra, foi dada de graça pela Nuclear Blast mais ou menos um mês antes do lançamento do disco. Gostei, mas esperava mais. O maior problema do Therion recente, na minha reles opinião, foi tirar a ênfase do conjunto da composição para jogá-la nos vocais. Junte isso ao fato de eu ter uma certa picuinha com bandas com vocais femininos líricos, e lá estava eu preocupado.

A segunda, Kings Of Edom, tem logo no começo um gritinho de “Edooooooom” que chega a me congelar o coração de tão nightwishado. Graças à Mãe Kali ele acontece só duas vezes durante a música, e, tirando isso, é uma boa faixa. Não tem muito a cara do Therion, e, pra mim, foi a única que lembrou o não-tão-querido Gothic Kabbalah.

Na terceira, Unguentum Sabbati, a coisa melhora bastante. Tá, tem um riff de teclado roubado de Fantasma da Ópera, mas dá pra perdoar porque é uma música muito legal, e a coisa é tão descarada que soa mesmo como homenagem. É uma música do Snowy Shaw, mas está bem dentro do espírito da banda. Ainda bem que ele mudou de idéia quanto a ir para o Dimmu Borgir. O cara pode não ser o melhor vocal do mundo, mas ele tem tudo a ver com o Therion.

Land Of Canaan é provavelmente a mais legal do disco, além de ser a maior música e daquelas que só se “entende” depois de ouvir umas quatro ou cinco vezes. Típica composição do Christofer Johnsson, com um zilhão de mudanças de estilo dentro dela, e mesmo assim sendo uma faixa coesa. Só esse cara consegue fazer isso numa boa. O final dela está entre os finais mais bonitos de música que já ouvi até hoje.

Entra Hellequin, uma das minhas favoritas do disco. Música bem divertida e com o feeling completamente de acordo com a letra. Mais theriônico que isso, impossível. Ah, e essa foi fabulosa no show.

2012, baseada na já manjada profecia maia, é uma música um pouquinho mais convencional, mas não menos legal. É bem curiosa a capacidade do Therion de criar um clima na música casando o tema da letra com a melodia. O riff principal junto com o coro dá MESMO a sensação de fim do mundo. Eu me esforcei aqui para lembrar de outra banda que consiga fazer o mesmo, mas não consegui.

Depois do mundo acabar na faixa anterior, temos Cu Chulainn, sobre o herói da mitologia celta. É uma das mais fracas do disco, pois, graças à melodia repetitiva, parece durar mais do que os quatro minutos e pouquinho dela.

Kali Yuga, Part 3 era uma faixa muito esperada por mim. Como falei, já tinha visto vídeos dela ao vivo na turnê anterior, e achei uma música bem marcante. A versão de estúdio perdeu um pouco isso, provavelmente pelo excesso de sintetizadores. A versão ao vivo era bem mais forte porque tinha menos gordura de estúdio e o coro era mais alto. Bom, isso não tirou o mérito da composição, que é muito legal, e da letra, que é ótima.

The Shells Are Open é outra favorita do disco, pois é uma das músicas mais interessantes que ouvi nos últimos tempos: diferente, levemente complexa e nada repetitiva, mas ainda assim acessível e com uma letra interessantíssima. Se alguém me pedisse pra indicar uma pra virar single, seria essa.

Aí vem Din, a música que serve para deixar o disco com cara de rock pauleira. Os vocais guturais destoam um pouquinho do resto do disco, mas tão valendo. Além do quê, os vocais têm tudo a ver com a letra. Não teria nada a ver falar das forças qlifóticas mais violentas com elfinhos cantando.

A última, Children Of The Stone – After The Inquisition, é uma música introvertida e melancólica, bem no estilo da Ravens Of Dispersion do Vovin. Outra bem típica do Christofer Johnsson. Normalmente não gosto de corais de crianças (detesto a sonoridade da voz infantil), mas dou o braço a torcer pro uso disso aqui.

OPINIÃO GERAL

O disco como um todo é complexo, e foi difícil formar uma opinião a respeito dele sem ouvi-lo umas 15 vezes. Eu não lembro de ter ouvido tantas vezes seguidas um mesmo disco em muito, muito tempo, e isso é um ótimo sinal.

As letras, como sempre, foram escritas pelo ocultista sueco Thomas Karlsson, da Dragon Rouge. Quem se interessar pelo tema deste disco em especial pode achar mais informações no livro Qabalah, Qliphoth and Goetic Magic, de autoria dele. Eu recomendo.

A banda tentou, com a produção, deixar o disco com uma cara meio anos 70. Como esse gênero musical definitivamente não existia nessa época, é até meio difícil perceber se eles conseguiram isso ou não. As guitarras ficaram pouco pesadas, mas até aí elas nunca foram muito o ponto focal do Therion. Dá para dizer, sim, que o disco ficou um tanto intimista graças à produção. Não diria que é uma produção ideal para um disco de Metal, mas, ei, o Therion já não é uma banda de metal convencional há uns 18 anos.

O ponto negativo que notei, e queria até saber se algum delfonauta concorda, é que o disco, como conjunto, não faz muito sentido. As músicas todas são legais, mas não têm muita unidade. Dá a impressão de que foram de fato as músicas que não entraram no Lemuria e no Sirius B juntadas numa coletânea bacana. Isso não é necessariamente uma coisa ruim, mas ficou aparente para mim.

Ganha cinco dragões vermelhos de nota. Eu teria dado o Selo Delfianus Supremus, mas o grito de “Edooooom” na Kings Of Edom fez o selo estilhaçar. Aliás, por falar em dragões, eles são uma temática recorrente do Therion. Acho que o Christofer Johnsson teria gostado de saber que o disco levou cinco deles para casa.

Créditos das composições:

Intro: Thomas Vikstrom/Christofer Johnsson
Sitra Ahra: Thomas Vikstrom
Kings Of Edom: Christofer Johnsson
Unguentum Sabbati: Snowy Shaw
Land Of Canaan: Christofer Johnsson
Hellequim: Petter Karlsson/Christofer Johnsson
2012: Christofer Johnsson/Nalle Pahlsson
Cu Chulainn: Snowy Shaw
Kali Yuga III: Christofer Johnsson
The Shells Are Open: Christofer Johnsson
Din: Christofer Johnsson
Children Of The Stone – After The Inquisition: Christofer Johnsson

A banda:

Christian Vidal: Guitarra
Christofer Johnsson: Guitarra, Tibetanian Singing Bowl (está em inglês porque não faço idéias de que diabos seja uma cuia cantante tibetana), teclados
Johan Kullberg: Bateria
Nalle Pahlsson: Baixo
Thomas Vikstrom: Vocais, Tenor Solo/Coro

Colaboradores:

Waldemar Sorychta: Guitarra base, harmonias de guitarra solo
Lori Lewis: Soprano solo
Snowy Shaw: Vocais